Os 26 de Martínez: assim se chegou até aqui
Escolhas na primeira lista condicionaram as decisões finais para o Euro-2024
Esqueçam lá isso de, a partir de agora, esta ser a Seleção de todos os portugueses. A ideia pode ser válida para os adeptos, mas nunca poderá retirar-nos, a nós jornalistas, a responsabilidade de manter apurado o sentido crítico. Se tal parece um dado adquirido em tudo o resto, e a primeira pedra que nos atiram mesmo sem responsabilidade do lado de cá, não pode mudar só porque agora o nosso objeto passou a vestir a camisola do país em que nascemos e a representá-lo em campo e fora deste.
Continuo a acreditar que as expetativas têm de ser altas perante o acumular de talento. Acho ainda que Roberto Martínez tem as ideias certas, ao pensar o modelo de uma forma proativa e com uma identidade atacante, e que até encontra equilíbrio nas decisões estratégicas. No entanto, devo sublinhar o que identifiquei na altura da oficialização do selecionador: o apego às figuras e estatutos faz com que, por vezes, deixe passar o momento certo para as roturas. Os compromissos que assumiu pós-Catar limitam-no agora nas escolhas. E no Médio Oriente basta lembrar o que aconteceu com a Bélgica e com Eden Hazard.
Cada um tinha uma lista de convocados na cabeça. Jornalistas e adeptos. A BOLA apresentou esta terça-feira a sua, a soma de todas as escolhas dos seus jornalistas, e também a versão dos seus seguidores nas redes sociais. Não se falhou por muito. Já eu confesso que a minha hierarquia de opções era talvez a mais divergente da anunciada: cinco nomes nos 26 finais não são os mesmos.
O ciclo iniciou-se em 2023 e já então não deveria haver espaço para Cristiano Ronaldo e Pepe, ainda mais agora com as questões físicas recorrentes do central. Depois, a mudança de Rúben Neves e Otávio para a Arábia Saudita colocaram-nos num patamar abaixo de todos os que ficaram na Europa. Não há que esconder as diferenças e de nada vale dizer que é melhor liga que a francesa ou a portuguesa. É todo um outro mundo e estar numa competição menos exigente terá obviamente custos. Por fim, a baliza. Não fará mais sentido escolher um titular em vez de Rui Patrício?
No lugar desses cinco estariam Pedro Gonçalves, Trincão, Matheus Nunes, Florentino e Rui Silva. Cada um acrescentaria algo a esta Seleção. Polivalência e desempenho híbrido entre ataque e meio-campo no primeiro caso, criatividade e meia-distância no segundo, transporte de bola em velocidade no terceiro, capacidade de pressionar alto a saída rival no quarto e ritmo competitivo no último. Também levaria Pedro Neto, decisivo quando está bem e tão versátil tanto na transição como no ataque posicional, além de Francisco Conceição e Diogo Jota. Não há muitos como eles.
Senti alguma fragilidade de Martínez na hora das explicações. Algumas contradições. Nunca seria escolha fácil, porém a verdade é que ele próprio acentuou essas mesmas dificuldades na primeira lista que teve a sua assinatura. Para a federação, acredito que a sua nomeação tenha evitado problemas, ruído e até instabilidade, mas o mesmo não se poderá dizer em relação à equipa. Se não a curto, a médio prazo. Mesmo que traga o caneco.