O SC Braga está, pontualmente, na luta pelo título
Palavra de Gverreiro é o espaço de opinião quinzenal de Pedro Sousa, adepto do SC Braga e deputado à Assembleia da República
Há no Futebol, como na literatura, instantes em que a realidade parece dobrar-se à vontade dos que ousam. A cinco jornadas do fim, o Sporting Clube de Braga está, pontualmente, dentro da luta pelo título.
Digo-o sem hesitações, sem o pudor provinciano de quem teme a altivez das grandes praças. Porque esta verdade, como as melhores verdades, não depende da aritmética: é o mérito que a legitima, é o trajecto que a honra.
Não foi uma campanha feita de fogos de artifício, mas de arquitectura sólida, jogo a jogo, semana a semana, como quem levanta uma catedral com as próprias mãos.
Carlos Carvalhal regressou a um lugar que conhece como a sua sombra, mas trouxe consigo algo mais que um plano de jogo. Trouxe uma ideia, uma convicção serena e uma coragem quase herética neste tempo de resultados fáceis: a aposta na formação.
Enquanto outros se perdem no supermercado de talentos exóticos, o SC Braga ofereceu palco a jovens da casa. E fê-lo sem condescendência, mas com exigência.
O que se viu em campo não foi uma adolescência apressada, mas uma juventude amadurecida pela confiança de um Treinador que sabe que formar é, antes de tudo, acreditar.
Que o SC Braga esteja, hoje, ombro a ombro com os ditos grandes não é acaso: é consequência. Não apenas de uma época bem conseguida, mas de um modelo que conjuga rigor, investimento sensato e fidelidade a um estilo. A Cidade dos Arcebispos tem agora no futebol um novo altar, onde a fé se constrói com bola corrida e onde a comunhão se faz ao domingo — não com hóstias, mas com golos.
Ainda que o título não venha — e por que não há-de vir? — o que o SC Braga já alcançou nesta temporada é a confirmação de um estatuto. Não é um outsider em boa forma. É, começa a ser, legitima e regularmente, um candidato.
E isso, num futebol português cada vez mais domesticado, é mais do que uma esperança: é uma bênção.