OPINIÃO DE VASCO MENDONÇA Com a VARdade nos enganam
Selvagem e Sentimental é o espaço de opinião de Vasco Mendonça, consultor de marketing
Longe vão os tempos em que o VAR era tido por muitos como uma refrescante novidade, talvez a fundamental mudança necessária a um futebol envolto em desconfiança. Os anos passaram e o VAR — ideia esplendorosa se mantida no campo teórico em que devia ter permanecido — conseguiu o desfecho mais provável: acrescentou uma camada de suspeição a um processo já de si pouco fiável. Tudo somado, o VAR deu-nos mais ângulos de câmara para constatarmos que tudo ficou essencialmente na mesma.
A tecnologia tem destas coisas. Compraram o hardware com pompa e circunstância, mas esqueceram-se de atualizar o software da arbitragem para incluir competência, transparência ou um critério de decisão que desarmasse qualquer dúvida e descansasse a maioria dos adeptos. Se o leitor chega a esta passagem do texto convicto da utilidade do VAR tal como o conhecemos, isso é aquilo a que a arbitragem chama um lance de interpretação, com a diferença de que neste caso não teremos de aguardar 10 minutos enquanto alguém procura forma de justificar uma decisão errada.
Por lance de interpretação entenda-se um recurso linguístico utilizado para explicar aos plebeus (nós) que aquilo que estamos a ver não possui características objetivas. Como tal, o lance pode levar a conclusões diametralmente opostas segundo as quais aquilo que para mim é amarelo poderá ser cinzento aos olhos de outra pessoa. Para alguns é a magia do futebol. Eu vejo nisso uma morte lenta.
Acontece por vezes que alguns lances de interpretação são de tal forma flagrantes que toda a gente concorda que uma coisa amarela não pode mesmo ser cinzenta, ou que várias coisas amarelas não são definitivamente cinzentas, nem mesmo quando alguns dos que ajuizam são cinzentos desde pequeninos. É extraordinário e aconteceu este fim de semana na liga portuguesa, com uma sequência de decisões erradas que poderão determinar o vencedor de um troféu que garante uma premiação direta, por via da Liga dos Campeões, na ordem das dezenas de milhões de euros, e uma valorização dos ativos envolvidos nessa conquista, cujo impacto pode salvar ou destruir uma política desportiva e os seus responsáveis. Coisa pouca.
A successão de decisões inexplicáveis deste fim de semana acontece, por improvável coincidência, depois de uma mão cheia de outras que bafejaram a mesma equipa presa por pontas e contribuíram de forma decisiva para que, à data em que escrevo este texto, a poucas semanas do fim da época, essa equipa continue na Taça de Portugal e permaneça em primeiro lugar no campeonato. O mistério adensa-se quando notamos que tudo isto acontece depois de os responsáveis por essa equipa, nomeadamente o seu treinador e o presidente, terem utilizado os meios de comunicação ao dispor para um choro convulsivo destinado a restaurar a justiça nas decisões arbitrais, assim equilibrando a balança em seu favor.
A estratégia foi bem sucedida, tal é o rol de coincidências infelizes a que vamos assistindo. Surpreendentemente, descobrimos que o principal reforço do Sporting nesta recta final da temporada não passou os últimos meses lesionado. Afinal esteve sempre apto, à espera que o chamassem para ir a jogo.
Aqui chegados, há uma conclusão a tirar: o VAR perdeu toda e qualquer réstia de credibilidade para aquilo que falta deste campeonato ou dos próximos. É um instrumento entregue às mesmas suspeições de sempre, alicerçadas num misto de incompetência e protagonismo que se impõe ao jogo jogado. O problema irá agravar-se de forma profunda se as entidades responsáveis não fizerem um esforço profundo para a reabilitação.
E o momento para começar é agora. Desconheço se esse desígnio guia as novas lideranças da Liga e da FPF, mas aproveito os novos recomeços para sugerir uma coisa simples: instalada a mais que legítima desconfiança no VAR e em árbitros de campo que rejeitam as evidências, tornem as próximas semanais mais reputáveis. Em primeiro lugar, reconheçam em tempo útil os erros clamorosos cometidos pelos árbitros ao longo das últimas semanas. Em segundo lugar, nomeiem equipas de arbitragem estrangeiras, seguramente mais imunes às circunstâncias internas.
Se esta proposta parece extremista e uma desqualificação dos árbitros portugueses, não é porque quem escreve isto seja dado a extremismos. É porque os árbitros portugueses se colocaram nesta situação. E é por isso que as palavras oficiais do clube deveriam ter sido mais duras. É possível reconhecer que o nosso clube já foi beneficiado por decisões de arbitragem sem que nos comportemos como cadastrados que não somos. É importante que se seja mais incisivo e representativo do sentimento dos adeptos, porque são eles que representamos. É fundamental que se exija maior rigor e correção nas decisões quando estas se tornam tão escandalosamente enviesadas, se possível sem parecer que estamos a pedir por favor. Digo isto independentemente de acreditar que a direção, a equipa técnica e os jogadores farão tudo dentro de campo para nos dar a felicidade dos dois títulos em disputa até final da época.
Nisto, há quem gabe a coragem dos árbitros e apouque os atores principais. Munidos de um cinismo assinalável, tentam resumir a contenda a insuficiências do jogo jogado — esse que, já percebemos, poderá não garantir a vantagem num final previsto em photo finish. No entretanto, enquanto alguns nos tratam por tolos, deixou de ser certo para o comum adepto de futebol que as pessoas nomeadas semanalmente para apitar jogos em Portugal saibam traçar linhas paralelas à linha de cabeceira ou que tenham a objetividade e a competência necessárias para medir rigorosamente meia dúzia de centímetros de uma posição irregular que nenhum outro ser humano conseguiria descortinar. Coisa pouca.
O pressuposto do velho novo advento da tecnologia na arbitragem era o mesmo que já tinha falido no futebol português. A relação dos adeptos com uma nova forma de burocracia baseava-se na confiança, num sentido partilhado de que as decisões melhorariam com o VAR. Uma espécie de arco-íris em modo vai ficar tudo bem, só que não. Na verdade, o benefício da dúvida dado pelos adeptos foi desperdiçado de forma grosseira e o último fim de semana tornou evidente quem mais sairá beneficiado pelos erros cometidos, porque infelizmente nada se pode fazer em relação aos pontos já conquistados. Resta aceitar, mas aceitar o quê? Que a vida é mesmo assim e não podemos confiar na arbitragem, acenando resignadamente com a cabeça perante a influência direta na potencial decisão de um campeonato e respetivo acesso direto à Liga dos Campeões? Pergunto isto, porque o inverso — confiar sem reservas — pelo caminho se tornou impossível.
Não espero que a minha recomendação de árbitros estrangeiros seja bem recebida, mas aqui fica um repto cansado. Será da mais elementar prudência que, a partir daqui, com duas equipas no primeiro lugar em igualdade pontual a cinco jornadas do final, os responsáveis pela integridade das competições façam todos os possíveis para que, no final, possamos dar os parabéns à melhor equipa e à que mais tem feito para conquistar o primeiro lugar, e não à que chorou mais oportunamente. Aquilo que fizeram até agora não chega. Em rigor, dispenso ouvir o árbitro falar ao microfone enquanto insulta a minha inteligência. Fazê-lo sob um pretenso manto de coragem é, isso sim, um exercício de maquilhagem. Não nos enganem com essa verdade.
Mas que grande jumento me saiu o vasquinho, o seu artigo mais parece uma comedia. Enfim, nem sei qual a profissao do imbecil, jornalista nao deve ser. Bem te vais continuar a coçar rapazote, andaram anos a ser levados ao colo e agora quando os arbitros sao justos vem jumentos como o vascote tentar enganar os cegos.