Portugal, Portugal, de que é que estás à espera?
Diogo Dalot

Análise Portugal, Portugal, de que é que estás à espera?

SELEÇÃO09.09.202310:00

Seleção Nacional vence, porém não convence, e a evolução para outro patamar parece atrasada

Se olharmos apenas para a classificação, não parece haver grandes dúvidas, a campanha é fantástica: Portugal tem 15 pontos em 15 possíveis, marcou 15 golos e não sofreu nenhum. A Eslováquia está a cinco pontos, tal como o Luxemburgo, o próximo adversário, dentro de dias, no Algarve. No entanto, nestes cinco encontros, a Seleção Nacional nunca resolveu os jogos de forma coletiva. É simplesmente mais forte do que os outros, em todos os casos muito mais forte, e o triunfo acaba, mais cedo ou mais tarde, por aparecer.

Que Portugal tem talento distribuído por todas as posições em campo ninguém tinha dúvidas ou tem agora razões para ficar com elas. Que ainda não tenha encontrado a melhor forma de conjugar tudo o que dispõe parece, por isso, difícil de entender. 

Ainda assim, Roberto Martínez tem uma atenuante em relação ao antecessor. Ainda não teve um período consistente para trabalhar dinâmicas, o que no caso das seleções apenas surge na antecâmara das fases finais. Fernando Santos teve várias. Nesse ponto, teremos de esperar para ver. O que não invalida que os sinais para já não sejam muito positivos. Resultados à parte, claro. Que para muitos, sobretudo os resultadistas, é quase tudo.

O que Bratislava mostrou foi uma boa teoria em muitos aspetos, que falhou no teste prático. Uma saída a três, com João Palhinha no meio dos centrais, Dalot projetado na direita e João Cancelo a juntar-se por dentro a um segundo médio à vez (Rafael Leão a dar largura à esquerda numa forma assimétrica), por vezes Bruno Fernandes, outras Vitinha e em alguns momentos Bernardo Silva

O que poderia confundir a marcação contrária perdeu-se em alguns equívocos: o desconforto de jogar de costas para a baliza rival, sobretudo sob pressão; as dificuldades em assumir o passe vertical – Palhinha não está talhado para tal e, com as dificuldades dos outros centrocampistas para recebê-los de forma limpa, os centrais também não sentiram à-vontade para fazê-lo; a incapacidade de ligar com o terceiro homem de frente para o jogo; e também a de atrair pressão para isolar Leão para o 1x1. E, com o tempo, o extremo do Milan foi ele próprio perdendo confiança. 

Além disso, fazer avançar Vitinha para terrenos mais adiantados, onde não se sente tão confortável, e deixar que o apoio a Palhinha na etapa intermédia da construção fosse entregue mais frequentemente a Bruno Fernandes, que é bem mais perigoso mais perto da baliza contrária, dá a entender que os jogadores não parecem estar nos sítios certos.  

O italiano Francesco Calzona montou para a partida uma estratégia bem definida: bloquear o corredor central. A Eslováquia apresentou-se em 4-5-1 num bloco médio, com Schranz a fechar à direita e Haraslin à esquerda, e os três centrocampistas Kucka, Lobotka e Duda por dentro, tapando todos os caminhos. Se o foco estava no miolo, os eslovacos também rapidamente cobriram os flancos basculando de forma reativa. Portugal não tinha saída e restava-lhe bater longo. O que nunca funcionou.

Por outro lado, se a pressão eslovaca teve mérito, a portuguesa falhou rotundamente. Parecia fácil. A equipa de Calzona esteve sempre confortável (por vezes demasiado) com a bola e construiu com acerto. Atraía as linhas portuguesas e ligava por fora sobre a esquerda, mesmo com dois destros no eixo (Vavro e Skriniar, aqui tal como Portugal) e um central adaptado a lateral-esquerdo (Hancko). A dinâmica de um terceiro homem a receber de frente para o jogo resultava. À direita, a solução era divergente. Atraía para bater longo, visando os movimentos de Schranz, ou colocava no lateral Pekarik, que esticava na frente. Fazia um bypass completo ao corredor central. 

O conjunto de Roberto Martínez chegou ao golo depois de Haraslin ter acertado no poste de Diogo Costa e de o conjunto eslovaco ter sido superior durante quase toda a primeira parte. Bastou juntar o erro de Duda à inteligência de Bernardo Silva e à definição de Bruno Fernandes, e o individual apareceu quando o coletivo emperrou. Mais uma vez. Não será a última.

No segundo tempo, a entrada de Otávio para o lugar de Vitinha ainda proporcionou falsa sensação de controlo e algumas oportunidades a um cada vez mais desesperado Cristiano Ronaldo (não se compreende a decisão de o ter deixado em campo durante 90 minutos). Bruno Fernandes, agora mais solto, também sobressaía no último passe. Com o 0-1 a prolongar-se, Roberto Martínez percebeu finalmente que não era noite de grandes euforias e tentou fechar a porta. Dalot ficou para ser o central da esquerda numa linha de três e paralelamente médio à imagem de Cancelo. Nélson Semedo entrou para a direita e Pedro Neto, dois anos e meio depois, somou minutos do outro lado. Nem assim o domínio se consolidou, apesar de uma ou outra fase com maior percentagem de posse.

Mais uma vez, os números dão uma falsa sensação de superioridade, com um maior número de tentativas lusas em chegar ao golo, porém, desconstruídos, talvez se fique com a oportunidade de Schranz só com Diogo Costa pela frente como a mais perigosa em toda a partida. Ronaldo também deve direito às suas, com o aliviar do foco à sua volta com o passar dos minutos, embora não tenha dado a sensação de estava no seu dia. O que penalizou a Eslováquia, a falta de contundência no último terço, beneficiou os homens de Martínez.

Portugal venceu, porém continua sem convencer. O futebol associativo que Roberto Martínez prometia pelo seu passado e currículo ainda parece muito distante. O que já terá chegado são as qualificações exemplares que conseguiu ao serviço da Bélgica. A Seleção, para já, parece que está à espera de alguma coisa. Não se percebe, todavia, muito bem o que será. A não ser que, porque se apurará sempre sim ou sim, tal seja o frenesim de uma fase final, com estágio à mistura.