Contra vitórias não há argumentos mas este Portugal foi poucochinho... (crónica)

Contra vitórias não há argumentos mas este Portugal foi poucochinho... (crónica)

SELEÇÃO09.09.202300:07

Valeu o golo de grande qualidade de Bruno Fernandes, qual oásis no deserto. Equipa nunca esteve bem calibrada e o todo foi muito inferior à soma das partes. Houve alguma razão especial para manter CR7 os 90 minutos?

Registarão, e bem, as estatísticas, que Portugal, pela primeira vez na sua história, ao triunfar em Bratislava, venceu os primeiros cinco jogos numa fase de grupos de uma grande competição. E também será recordado que o golo que valeu os três pontos foi marcado por um aniversariante, na baliza (embora o estádio tenha sido construído), onde Eusébio deixou marca e levou Portugal ao Mundial de 1966. 

Dito isto, não ficarão muitas coisas boas para recordar de um jogo em que João Palhinha teve de jogar por vários para que o meio-campo, altamente descompensado, não entrasse em colapso; em que Diogo Dalot mostrou grande desenvoltura e os centrais e guarda-redes estiveram defensivamente a preceito; e onde se viu, a espaços, de menos a mais, a arte e a capacidade de temporizar de Bernardo Silva, a falta que Otávio faz à equipa, a que se juntou a entrada positiva de Nélson Semedo; e a surpresa ao constatar que Cristiano Ronaldo, desaparecido fisicamente na segunda parte, esteve em campo toda a partida, numa noite em que Roberto Martinez deixou duas substituições por fazer. 

No mais, apesar do recorde, apesar da vitória, e apesar do belíssimo golo de Bruno Fernandes, não foi este futebol que nos foi prometido quando se decidiu, com toda a naturalidade, mudar de ciclo na Seleção Nacional.

As dificuldades nacionais

Com uma equipa armada num 4x3x3 que se supôs versátil, onde Palhinha varria a cabeça da área, e devia ser acompanhado de forma consequente por Vitinha e Bruno Fernandes, a quem se acrescentava João Cancelo, amiúde chamado a jogar pelo meio, afinal o que se viu, ao longo da primeira parte em especial, foi o jogo a partir-se, permitindo aos eslovacos espaço no meio-campo Portugal para jogadas em que, apesar de se virem por vezes em igualdade numérica, não tiveram instinto matador para colocar a Seleção Nacional em apuros. 

Mas o futebol não é uma ciência certa e ontem foi dia do pão de Portugal cair sempre com a manteiga para cima: aos 43 minutos, a seguir a uma jogada em que Haraslin tirou tinta ao poste esquerdo da baliza de Diogo Costa, os nossos génios saíram por momentos da lâmpada, Bernardo Silva assistiu Bruno Fernandes que cantou os «parabéns para mim» após um golo belíssimo. Era prémio a mais para um jogo baseado em saídas de bola a velocidade de caracol, alternadas com passes longos infrutíferos, mas Portugal foi para o descanso a ganhar...

Controlo na segunda parte

No segundo tempo, a equipa nacional, com Vitinha cada vez menos em jogo e CR7 com escassa presença (falhanço garrafal aos 60 minutos!), tratou de juntar mais os jogadores e foi possível assistir a algum bom futebol apoiado e, até, a um controlo das operações.

A substituição de Cancelo (pouco jogado) correu bem, porque Dalot foi para a esquerda como peixe na água e Semedo entrou com confiança; já a de Rafael Leão por Pedro Neto nada acrescentou; o mesmo não podendo dizer-se da troca de Vitinha por Otávio, que veio dar ao meio-campo aquilo que mais tinha faltado: capacidade de ter bola e pressão sobre o adversário. Tudo isto aconteceu aos 64 minutos, ficando as outras duas trocas no bolso de Martinez.

Valerá a pena assinalar um bom remate de Ronaldo (76) e, antes, a única boa jogada de Portugal (70), onde intervieram Bernardo, Bruno e CR7, que rematou ao lado.

Em resumo, a Seleção Nacional Nacional está muito perto da Alemanha/24, e haverá tempo para nota artística. Esperemos...