SEM MUROS Ao som de ‘Georgia on my mind’
Ao fim de tantos anos, tantas histórias, estaria longe de imaginar que um Turquia-Geórgia seria o jogo que me iria causar emoções mais fortes como jornalista. Tudo neste jogo foi especial.
MARIENFELD - Em mais de 20 anos de profissão, centenas e centenas de jogos, das distritais à Liga dos Campeões, de estádios em todos os cantos do mundo, estaria longe de imaginar que seria um Turquia-Geórgia que me iria causar as mais fortes emoções enquanto jornalista. Tudo neste jogo foi especial.
Porque foi o meus primeiro jogo numa fase final de um Europeu de seniores ( e isso nunca se esquece). Porque antecedeu a uma estreia de Portugal na prova e foi à distância, a ouvir o relato no carro, (mas ali tão perto…) que vivi aqueles últimos segundos da Seleção Nacional com enorme adrenalina. Porque tinha a minha única irmã numa sala de partos (bem vindo Bernardo!) à mesma hora em que Arda Guller marcou aquele que será, por certo, um dos melhores golos da prova (e isso nunca se esquece). E porque no final do jogo, do nada, acabei por ter uma das conversas mais interessantes dos últimos anos com o… único jornalista georgiano na zona mista do estádio.
Foi mesmo o único porque enquanto nas horas a que antecederam o jogo fui questionado por vários turcos se seria jornalista georgiano. Ninguém encontrou nenhum. Talvez tenha sido dos poucos a ter essa sorte. Com esse mesmo jornalista, que não arrisco dizer o nome dada a sua ‘complexidade’, aprendi não só a soletrar e a dizer corretamente Kvaratskhelia (não foi fácil…) mas também sentir as dificuldades que teve para ali chegar. O que mais me impressionou, porém, foi a sua cultura futebolística. Impressionante.
Conhecia não só os 26 convocados de Portugal mas também todos os outros que ficaram de fora. Falou-me da importância do aparecimento de uma Academia de Alcochete e do Seixal no desenvolvimento do futebol português. Do que a Geórgia precisava para crescer e ser como Portugal. Quase tudo. Um encontro especial (e isso nunca se esquece).
No final, deixando Dortmund, regressei a Marienfeld e assim que liguei o rádio do carro, eis que Ray Charles entra pelos meus ouvidos com a mítica música: »Georgia on my mind». Sim…Geórgia ficou mesmo na minha mente...