SEM MUROS Cristiano Ronaldo esquecido em Marienfeld
Ao sexto dia em Marienfeld, com a seleção em Leipzig, conheci pela primeira vez a realidade de uma pequena e pacata localidade que vive os dias mais agitados da sua história
Prometi a mim mesmo que neste espaço, enquanto estivesse no Europeu, tentaria adiar o tema o mais possível: Cristiano Ronaldo. Seria o mais óbvio pois é um nome planetário, idolatrado em todos os cantos do mundo, no qual é muito fácil encontrar qualquer momento digno de ser assinalado. Seja este através de uma fotografia inesperada, uma história ou até uma loucura de um qualquer apaixonado (e existem por aqui muitos...). Mas não resisti. Este cenário era demasiado poético.
Tudo começou na minha viagem de Dusseldorf para Marienfeld (depois de deixar os meus caros companheiros de viagem João Pimpim e Miguel Nunes no aeroporto para seguirem para Leipzig, onde estariam centradas todas as emoções da Seleção Nacional). Segui na famosa autoestrada sem limite de velocidade (foi uma boa ajuda…) pois teria pouco mais hora e meia para regressar a Marienfeld de forma a chegar a tempo da saída do autocarro que transportava Portugal para Leipzig.
Pouco mais de uma hora de viagem e pé no acelerador. Um esforço inglório pois cheguei a Klostherpforte e os internacionais portugueses tinham saído há minutos. Mesmo em passo apressado fui confirmar. Foi aí que me deparei com uma tranquilidade naquele local que nunca havia sentido. A rua de acesso ao hotel, que esteve a rebentar pelas costuras nos últimos dias, estava vazia. Silêncio absoluto. Com sinais evidentes de um vendaval, é certo, mas vazia... Muitos papéis no chão, cartazes, um carro da polícia ao fundo e numa das grades que protegem a unidade hoteleira, a surpresa: uma camisola da Juventus com o nome que certamente já adividinhou — Cristiano Ronaldo, pois claro.
Dei por mim a pensar no que teria acontecido para alguém, provavelmente após horas ou dias de espera, ter deixado ali um objeto que seria, por certo, tão valioso para o próprio. Estaria agarrado(a) a um telemóvel e esqueceu tudo o resto na saída do autocarro? Uma superstição? Ou um polícia que tentou a sorte junto dos jogadores e foi chamado para alguma emergência e esqueceu aquele precioso adereço? Não consegui investigar mas que parte do passado de CR7, no caso na equipa italiana, ficou em Marienfeld… isso foi possível constatar. A imagem, essa, ficou gravada, pois, pela primeira vez, vi e senti o que é Marienfeld na realidade.