‘Fair-play’ turco começou na comunicação
Kokçu e Turker Tozar à direita (Miguel Nunes)

SEM MUROS ‘Fair-play’ turco começou na comunicação

OPINIÃO22.06.202411:30

O equilíbrio e a arte de bem receber um 'adversário'; Nem toda a paixão turca pelo futebol é feita de extremos e a forma como A BOLA foi recebida é o melhor exemplo disso mesmo

BARSINGHAUSEN – Confesso que cheguei ali com algum receio. Escaldado, obviamente, pela loucura turca dos últimos dias em torno da Seleção Nacional. Centenas e centenas de adeptos em busca de algo ligado a Cristiano Ronaldo em Marienfeld, Gutersloh, Bielefield, em todos os pontos mais importantes da Alemanha. A paixão turca em relação ao futebol, muitas vezes vivida no limite do razoável — nunca esqueço a imagem de um verdadeiro cenário de guerra antes de um jogo em Istambul, com carros de combate e um batalhão de agentes especiais munidos de várias armas de fogo — estava no meu imaginário do que poderia encontrar na visita programada ao estágio da seleção turca. Mas nem tudo o que parece é.

E o que encontrei em Barsinghausen, bem distante do centro de Dortmund, foi um ambiente mais… tranquilo que nunca. Aliada a uma amabilidade na receção e no trato muito rara nos dias que correm em que muitos vêm um jornalista como um inimigo, obstáculo para um objetivo, um impulsionador de problemas. Sendo o único jornalista português da imprensa escrita presente fui tratado com um fair-play fora do comum, até porque, bem vistas as coisas, era um 'intruso' entre as dezenas de jornalistas turcos presentes.

Como forma de respeitar os meios impressos, para ter material diferente das televisões, rádios ou websites, só os estes podiam estar presentes numa roda de imprensa com Kokçu. Numa sala pequena, com oito jornalistas presentes, todos eles dos meios de comunicação mais importantes da Turquia, foi-me concedida primazia nas perguntas. «Temos aqui um convidado por isso posso propor que seja o primeiro a poder colocar uma questão», começou por dizer Turker Tozar, diretor de comunicação da seleção turca, não sem antes, porém, colocar o problema da barreira linguística: «Se quiser poderei traduzir só para si todas as respostas concedidas durante esta meia hora (que acabou por durar 45 minutos dada a tradução)».

Orkun Kokçu com o enviado-especial de A BOLA Miguel Mendes (foto Miguel Nunes)

Todos tiveram direito a falar, sem restrições, e o jogador a responder sem qualquer tipo de bloqueio. No final, todos tiveram oportunidade, fora daquele espaço, fechado, de tirar várias fotografias com o jogador escolhido para fazer o lançamento do jogo. Hoje tudo poderá ser diferente, mas o fair-play turco começou logo na comunicação com os portugueses. Chapeau!