Viagem à Madeira, o trajeto de Mora, o diferente Sporting e o campeonato: tudo o que disse Vítor Bruno
Treinador do FC Porto fez a antevisão do jogo com o Sporting, a meia-final da Taça da Liga, que se realiza às 19h45 de amanhã, em Leiria
— Que expectativas tem para o terceiro clássico com o Sporting?
— A expectativa é a mesma de sempre num clube como o FC Porto. Queremos muito ganhar esta competição, é um objetivo da época, surge num bom momento. Gosto muito que a equipa seja desconfiada, que não embarque em demasia no que tem sido conseguido recentemente. Olhar com respeito e humildade para um adversário forte, que vai exigir estarmos a um nível muito alto. Queremos ganhar o jogo para estar na final.
— Que Sporting é este, pelo que viu nos jogos com o Benfica e o V. Guimarães? Qual a importância de poder contar com alguém mais próximo do grupo como Marcano?
— Começando pela última parte, o Marcano está connosco há algum tempo, mas nem sempre a treinar na totalidade. Tem-nos acompanhado, tem estado em estágio, é muito importante para nós. É alguém muito ouvido ali dentro. É sempre bom tê-lo por perto. Agora já pode dar todo o seu contributo. Fizemos a nossa base de análise ao Sporting olhando para o Benfica, para o V. Guimarães, e até mesmo para o nosso jogo em Guimarães quando o Rui Borges estava no Vitória. Há muitas semelhanças. Várias configurações que se mantêm, desenhos idênticos. Depois, talvez posicionamentos ligeiramente diferentes numa estrutura muito similar. Procurámos antecipar diferentes cenários, mas não houve grande diferença de comportamentos. Num jogo houve mais golos sofridos, noutro nem tanto, momentos em que o Sporting esteve mais por cima, outros não. Perceber aquilo que o Sporting fez no passado e ver que não há muita diferença. Esperamos um Sporting à imagem do treinador, tendo em conta o passado recente.
— Sporting teve um jogo bastante intenso em Guimarães, FC Porto jogou 14 minutos só. No plano físico, que peso terá isso amanhã? FC Porto sai beneficiado?
— Sinceramente não me parece. Estamos a jogar ao quarto dia. Se fosse ao terceiro, até penso que poderia haver alguma vantagem, mas isto depois é muito levado para o lado emocional. São jogos com cariz muito próprio, um clássico, onde os níveis competitivos estão em alta escala. A fadiga dissipa-se com o contexto em si. Se calhar dos 15 minutos jogámos seis ou sete. Mas depois as viagens, a angústia de vir ou não vir, a viagem e o voo para cá, chegar tarde... Acaba por não ser simpático para nós. Infelizmente tocou-nos. Penso não haver vantagem da nossa parte nem da parte do Sporting. Quando jogar ao quarto dia, as 96 horas tornam-se boas para recuperar os jogadores.
— Dá mais trabalho abordar este jogo quando vê a ideia de três treinadores (Ruben Amorim, João Pereira e Rui Borges)?
— Não, não tem a ver com dar mais trabalho. Tem a ver com o que fazemos para qualquer adversário. Geralmente há um base de dados que inclui sete ou oito jogos. Fizemos aquilo que fazemos sempre. Analisámos o Sporting, mais obviamente nestes últimos dois jogos, e perceber as semelhanças para o Vitória. Claro que estamos a falar de um plantel diferente, o Sporting tem jogadores de um grande nível individual. Depois perceber como o adversário se configura a defender ou atacar. Defender a quatro já acontecia no passado, é raro ver os alas numa linha de cinco. Aconteceu com o Maxi, que ajudou o Matheus Reis no fim do último jogo. Temos de perceber como o Rui se vai adaptar, se vai montar alguma vez a linha de cinco, que não será novidade. Parece-me que vai ser uma linha de quatro? Sim. A defender em 4x4x2? Sim. Mas parece-me que são jogadores muito capazes.
— Animicamente, que peso poderá ter a discussão de um título nesta fase?
-— Se perguntar a qualquer um dos treinadores da Final Four, qualquer quer ganhar. Mas ficar com o resto da temporada hipotecado, não vai acontecer. São fazeres e refazeres constantes. A derrota pode estar presente, a vitória vai estar presente. Digo muitas vezes que isso pode gerar sucesso se olharmos da maneira certa. Queremos muito jogar e ganhar amanhã e sabemos que o jogo vai ser difícil, tal como vai ser difícil para o Sporting. E agora é jogar. Ir a jogo com tudo. Acho que aqui não vai chegar apenas o talento, mais do que isso terá de ser o compromisso.
— Rodrigo Mora poderá estrear-se num clássico. Tem tido algum protagonismo e o Rui Barros disse que era importante manter os pés bem assentes na terra. Considera que há algum risco, pela fase que vive, de haver deslumbramento? Esse poderá ser o seu maior adversário?
— Foram buscar o Rui Barros de certeza que não foi só pela estatura... Se for igual ao Rui Barros no talento, fico muito contente. E se fizer um pouquinho dessa carreira, é um excelente sinal. Ainda hoje o Rui joga que é uma maravilha. Há quatro anos, num jogo em tom de brincadeira, impressionou-me. É de um talento absurdo. Voltando ao Mora: recentemente, penso que o pai falou numa entrevista e disse que está muito bem rodeado. Acho que tudo isto para ele, nesta fase, será novidade. Mas sinto que o Mora quer crescer, evoluir, não quer ficar por aqui. Sabe que está a iniciar um caminho que é longo e que, por vezes, terá pedras pelo meio. Estamos cá para lhe dar atenção. As vozes se calhar vão aparecer no momento em que ele não for tão competente. Mas não acredito porque percebe-se que há empatia. Dá-me ideia que está muito bem rodeado e isso é essencial num menino de 17 anos. Que o vão aconselhar. Perceber que nem tudo são flores. Se ele tiver a mente aberta, certamente fará carreira no futebol.
— Já vai na possibilidade de conquistar o segundo título esta época. Até que ponto isso é importante em termos pessoais? Faz parte do caminho de uma equipa grande ter um treinador como referência...
— No final de uma carreira, sinceramente, acho que cada treinador olha para trás e vê o que foi construindo no palmarés. Percebo o lado mais objetivo e materialista. Mas eu sou muito emocional, apesar de às vezes não parecer. O vínculo. E não devemos menosprezar isso no futebol. As ligações, os vínculos. Mas claro que títulos são sempre títulos. Não preciso e nem me quero impor de forma autoritária, quero que seja natural, um líder que lidera enquanto competência. E isso acho que é o mais importante. O jogador tem a capacidade de perceber o que está diante dele. É um título que está em disputa e no FC Porto tem de se querer ganhar.
— Novo clássico com o Sporting, mas agora para a Taça da Liga...
— Para o comum adepto, olha muito para o resultado. O mais importante é o dia a dia no Olival, que tem de ser a base do que conquistamos mais à frente. A Taça da Liga surge num contexto, com um formato diferente, fizemos um jogo e estamos na Final Four, não me parece que o Sporting venha fragilizado ou nós tenhamos vantagem. É uma competição muito peculiar. É um clássico, leva o jogo para o lado mais emocional. São duas equipas fortes, que gostam de se bater uma com a outra. Depois pode surgir o génio de um jogador para resolver.
— Que impacto emocional teve a última jornada da Liga? Sporting perdeu pontos, Benfica também e FC Porto está a um ponto da liderança com um jogo de atraso. Isso muda alguma coisa para o resto do campeonato e até para a Taça da Liga?
— Isso emerge muito dos resultados mais recentes. Para o comum analista, para quem está de fora, agarra-se muito aos resultados, é o que é visível. Ninguém vê o nosso dia-a-dia no Olival. Isso é que é importante, serve de base para o que conseguimos alcançar. Tem de ser construído de forma progressiva, sustentada. Em relação ao jogo na Madeira, se afeta ou não. A Taça da Liga aparece este ano com um caminho muito mais curto para chegar à final. Não me parece que o Sporting venha mais fragilizado por empatar em Guimarães ou por ter empatado em Guimarães. É olhar para isso dessa forma. É um clássico, algo que eleva sempre o jogo para um patamar de intensidade e de lado emocional muito patente. São duas equipas fortes, que gostam de bater uma com a outra. Depois é o lado emocional, que nestes jogos surge sempre.