6 janeiro 2025, 15:47
Villas-Boas: «Pedroto era a melhor versão de nós»
Na antestreia do documentário ‘José Maria Pedroto – Um Homem Superior’, líder portista destacou a fonte de forte inspiração de um homem ímpar
Muito mais do que um homem de futebol, foi um visionário que ousou desafiar o ‘status quo’ e um exemplo de determinação, inovação e paixão. FC Porto foi o grande amor da sua carreira
Assinala-se esta terça-feira o 40.º aniversário do desaparecimento de José Maria de Carvalho Pedroto, uma figura incontornável do futebol português e, em particular, da história do FC Porto. Pedroto faleceu a 7 de janeiro de 1985, aos 56 anos, após uma corajosa batalha contra um cancro no cólon. Conhecido pelo seu génio tático e visão estratégica, foi o arquiteto de uma transformação profunda no FC Porto, com a histórica chegada do clube à sua primeira final europeia. A 16 de maio de 1984, o FC Porto disputou a final da Taça das Taças frente à Juventus, no antigo St. Jakob Park, em Basileia, um estádio que seria demolido em 1998. Apesar da derrota por 2-1, este marco representou um ponto de viragem na projeção internacional do clube.
Com Pedroto muito debilitado, caberia ao seu fiel adjunto, António Morais (que faleceria vítima de acidente rodoviário dia 1 de julho de 1989), comandar a equipa nessa final em Basileia. Morais é outra figura incontornável da história do FC Porto, votado a um incompreensível esquecimento.
Quatro décadas passaram, mas o seu legado permanece vivo e inspira gerações. Pedroto não foi apenas um treinador brilhante; foi um revolucionário que redefiniu o futebol em Portugal. Introduziu conceitos inovadores, como gabinetes de análise de jogos e estágios antes das partidas, práticas que hoje são comuns, mas que na década de 1980 eram visionárias. Foi também o primeiro a propor o ‘Clube Portugal’, uma iniciativa destinada a unir os portugueses em torno da Seleção Nacional, superando rivalidades clubísticas.
6 janeiro 2025, 15:47
Na antestreia do documentário ‘José Maria Pedroto – Um Homem Superior’, líder portista destacou a fonte de forte inspiração de um homem ímpar
Pedroto destacou-se igualmente como um médio brilhante, sendo um dos melhores da sua geração. Em 1952, protagonizou a transferência mais cara do futebol português, ao trocar o Belenenses pelo FC Porto por 500 mil escudos (2.500 euros). Com o dinheiro da venda, o Belenenses iniciou a construção do Estádio do Restelo. No FC Porto, Pedroto conquistou dois campeonatos nacionais (1956 e 1959) e duas Taças de Portugal, retirando-se aos 31 anos para treinar as camadas jovens do clube. Representou a Seleção Nacional em 17 jogos, despedindo-se a 22 de dezembro de 1957, no Estádio San Siro, frente à Itália.
Como treinador a sua carreira foi marcada por feitos extraordinários. Transformou clubes como o Varzim, o Vitória de Setúbal e o Boavista, alcançando resultados impensáveis com recursos limitados. Nos axadrezados levantou duas Taças de Portugal seguidas e lutou até ao último fôlego pelo título de campeão. Foi também selecionador nacional entre 1974 e 1977. Assumiu o comando de Portugal a 3 de abril de 1974 – empate 0-0 com a Inglaterra, na Luz - mas não alcançaria o ambicionado apuramento para a fase final do Mundial de 1978.
No entanto, foi no FC Porto que se tornou uma verdadeira lenda. Com Pinto da Costa, lançou as bases de um clube com ambições internacionais, quebrando um jejum de 19 anos sem títulos e conquistando um bicampeonato que ficará para sempre na memória dos adeptos. Pedroto era mais do que um treinador. Era um pensador, um estratega e um homem de cultura, que se interessava por política e pela sociedade. A sua personalidade multifacetada, combinada com uma paixão inabalável pelo futebol, fazia dele um líder nato. Mesmo nos momentos mais difíceis, como quando assumiu o papel de manager devido à sua condição de saúde, nunca deixou de lutar pelo que acreditava.
A sua morte foi um golpe duro para o país, mas também um momento de união. No seu funeral, dezenas de milhares de pessoas prestaram-lhe homenagem, incluindo figuras de todos os quadrantes desportivos e políticos. A presença da equipa do Benfica no velório simboliza o respeito universal que Pedroto conquistou.
José Maria Pedroto foi também muito mais do que um homem de futebol. Foi um visionário que ousou desafiar o status quo, um defensor incansável dos jogadores e um provocador que trouxe cor e dinamismo ao discurso desportivo num Portugal fechado e cinzento. A sua influência ultrapassa as fronteiras do FC Porto; ele é um património nacional, um exemplo de determinação, inovação e paixão.