Rui Pedroto escreve sobre o pai: «José Maria Pedroto, um homem Superior»

NACIONAL07.01.202508:00

Vice-presidente do FC Porto, advogado e gestor traz a A BOLA a memória de um «homem do norte, por nascimento, do Porto, por adoção, um amante e defensor da liberdade»

Na passagem do 40º aniversário sobre a morte do meu pai evoco saudosamente a sua memória. Ao epigrafar este artigo tomei de empréstimo o título do documentário com que o Futebol Clube do Porto decidiu homenagear a figura do homem e do desportista que deixou uma marca indelével e imperecível na história do clube e do futebol nacional.

Para mim e para toda a minha família é uma honra e um privilégio sabermos que ainda hoje é recordado com carinho e apreço por pessoas de todos os quadrantes. Pelos portistas, mas também por tantos outros que se habituarem a ver nele um exemplo paradigmático de estar na vida e viver o desporto, corporizando os mais altos valores que este encerra. Recordo-o na intimidade do lar em que partilhamos os afetos, as alegrias e tristezas em que a vida é fértil, num clima de concórdia e harmonia, consagrando pelo amor uma união familiar em que todos fomos um e que foi e será sempre obra nossa.

José Maria Pedroto, a imagem de uma homem carismático

O percurso profissional e desportivo, desde a sua iniciação até à sua consagração como jogador e treinador de eleição, falam por si. Da sua existência como homem público ressumam os traços de uma vida social intensa, a sua convivialidade fácil, o humor subtil e o chiste certeiro que eram tão seus, e esse espírito de “vida conversável”, citando o nosso Agostinho da Silva, que lhe valeu a estima de uma legião de amigos que foi fazendo pela vida fora, com quem fraternalmente se congraçou nessa comunhão de espírito e grandeza de alma em que a amizade encontra o seu mais puro e sólido fermento.

De entre as facetas, mas impressivas do seu modo de ser evoco o homem plural e mutifacetado, ativo e participativo, de espírito aberto e curioso, de horizontes largos e convicções firmes, competente e decidido, de inteligência fina e sagacidade penetrante, irreverente na atitude e polémico no dizer, porém, sempre dialogante e respeitador sem laivo de vaidade ou aleivosia. Um homem que preferiu sempre a confrontação leal aos falsos consensos, a divergência sadia ao unanimismo conformista, o verbo corajoso e arrebatado ao silêncio reverenciador e comprometido. Um homem sem medo e que, em tempos difíceis, onde tantos se ajoujaram por pusilanimidade ou temor, pugnou corajosamente por aquilo em que acreditava.

Pedroto foi bicampeão pelo FC Porto em 1977/78 e 1978/79

Um homem que se bateu como poucos pelos legítimos interesses da sua classe, agregando vontades, reunindo apoios e lançando as bases da sua moderna organização sindical. Um homem justo, equilibrado e sensato, de uma generosidade discreta e natural, senhor de si sem alarde, humilde e compassivo, nunca indiferente ao clamor dos que sofrem. Um líder exímio e um homem de causas, das causas que importam e arrebatam. Um português de gema, um homem assim de pátrias, da sua, mas também do mundo, um homem do norte, por nascimento, do Porto, por adoção, um amante e defensor da liberdade.

Um homem do Futebol Clube do Porto por paixão, que se insinua nos alvores da infância, viceja mais tarde na juventude, afirmando-se em plenitude na idade adulta. Futebol Clube do Porto que foi para si uma segunda pele, por que se bateu como poucos, a que ofereceu o melhor de si e dedicou os melhores anos da sua vida, a que se entregou em cada dia como se fosse o último. Para mim e para a minha família, recordámo-lo, sentidamente, na brandura do gesto, na cordura da palavra, na afabilidade do trato, no sentido da honra e da dignidade, na verticalidade e no respeito pela palavra dada, no amor pela verdade, pelo exemplo que educa e guia, viáticos de uma vida plena. Em suma, pela inteireza do seu caráter, por ter sido afinal, citando Pessoa, todo em cada coisa.

Pedroto partiu há 40 anos mas o seu legado é eterno

7 janeiro 2025, 07:30

Pedroto partiu há 40 anos mas o seu legado é eterno

Muito mais do que um homem de futebol, foi um visionário que ousou desafiar o ‘status quo’ e um exemplo de determinação, inovação e paixão. FC Porto foi o grande amor da sua carreira