Valdo: «Foi uma honra ter sido treinado por Artur Jorge»
Antigo médio-ofensivo foi orientado pelo técnico no Benfica e no PSG; anos mais tarde, foi também seu adjunto na Argélia; as melhores recordações de um «grande ser humano»
Valdo Cândido Filho. Um dos nomes maiores da história do Benfica, clube que representou em duas ocasiões distintas (de 1988 a 1991 e, depois, de 1995 a 1996), sendo que na segunda passagem pelos encarnados foi orientado por Artur Jorge.
O antigo internacional brasileiro, de resto, também teve Artur Jorge enquanto técnico no Paris Saint-Germain (de 1991 a 1994) e é, por isso, um dos nomes mais capacitados para falar de alguém que lhe diz tanto. Pelos anos em que passaram juntos, percebe-se facilmente a emoção com que Valdo fala do «professor».
«Serei eternamente grato ao professor Artur Jorge. Foi uma honra ter sido treinador por Artur Jorge. Foi ele que me levou para o PSG e que me deu a oportunidade de vestir aquela camisola. Era um projeto de algum risco, mas ele, com a sua capacidade, sabia bem o que estava a fazer e acabámos por conseguir excelentes resultados, com vários títulos alcançados», começou por dizer Valdo em declarações exclusivas a A BOLA.
Na altura em que rumou a França, Valdo já levava consigo um lastro de enorme brilhantismo, fruto das épocas vividas no Benfica e, ainda antes, no Grémio de Porto Alegre, mas foi ao serviço do gigante emblema gaulês, sob as ordens de Artur Jorge, que conseguiu chegar a um patamar ainda mais elevado: «Fez-me ver que eu ainda podia fazer muito melhor. Atingi o pico da minha carreira nessas épocas ao serviço do PSG. Ele puxava dos galões e dizia-me constantemente que eu ainda tinha mais para dar. Chamava-me muitas vezes malandro [risos].»
Depois da glória vivida no futebol francês, onde conquistou um Campeonato, uma Taça de França e uma Taça da Liga, Valdo regressaria a Portugal para voltar a vestir a camisola das águias. E nessa altura, confessa, conseguiu concretizar um objetivo que tinha em mente: «Além da importância do mister Artur Jorge, tinha também imensa curiosidade em jogar com o João Vieira Pinto, que acabou por ser um dos melhores jogadores com quem joguei em toda a minha carreira.»
Mas a história de Valdo com Artur Jorge não foi apenas contada no Benfica e no PSG. Teve também um capítulo escrito na Argélia, onde, anos mais tarde, o brasileiro foi... adjunto do português. E se o relacionamento entre ambos já era forte, então nessa altura passou a ser... familiar. «É verdade. O professor convidou-me para ser seu adjunto do MC Alger e eu aceitei. O mister Raúl Águas e o Luís Matos, que está hoje no Estrela da Amadora, também faziam parte da equipa técnica e acabámos por fazer uma grande época na Argélia. Além disso, tivemos também outra particularidade durante esse período, que foi o facto de vivermos todos no mesmo apartamento, que era enorme. Ora, já depois de conviver com o mister Artur Jorge enquanto seu jogador, tive também o privilégio de conviver com ele diariamente, fora do âmbito dos treinos e dos jogos, numa fase que acabou por ser literalmente, de família», recorda o antigo craque.
E se a ligação a Artur Jorge já era muita, então nesse período foi ainda mais fortalecida. Algo que leva Valdo a assumir toda a sua gratidão pelo... amigo: «Também nesse momento pude constatar que era um excelente ser humano. Um homem de uma inteligência acima da média e que era um apaixonado pela arte, sendo, de resto, um tremendo colecionador. Era um doce de pessoa e recordo, por exemplo, que era um excelente contador de anedotas. Por vezes, e mesmo que a anedota não tivesse assim tanta piada, eu ficava-me a rir só pela forma como ele a contava. Era mesmo um grande ser humano!»
Na hora da partida de Artur Jorge, Valdo fez questão de endereçar as condolências à família: «É um momento difícil e extremamente doloroso. A vida, infelizmente, é mesmo assim, e quero deixar uma palavra de profundo pesar a todos os familiares e amigos do professor. Partiu um homem extraordinário que deixou uma marca profunda em todos quantos com ele privaram.»