Mário Campos: «O Artur Jorge era um ponta de lança de grande nível»
Equipa da Académica, onde pontificavam Mário Campos (primeiro à esquerda, em baixo) e Artur Jorge (ao meio, em baixo), na época 1967/1968. (Foto: ASF)

Mário Campos: «O Artur Jorge era um ponta de lança de grande nível»

NACIONAL22.02.202412:45

Glória da Académica recorda qualidade suprema do antigo colega de equipa; os golos em catadupa que apontou em Coimbra e que o levaram ao Benfica e à conquista da Bola de Prata; e aquele chumbo na prova de Filosofia porque, provavelmente, o «professor não gostava de futebol«?

Já depois de estrear-se na equipa principal do FC Porto, na época 1964/1965, Artur Jorge rumou à Académica, clube que representou durante três temporadas e meia e ao serviço do qual começou a brilhar ao mais alto nível.

Entre 1965 e 1969 - embora não tenha completado a última época, uma vez que teve de ir cumprir serviço militar -, o antigo craque proporcionou um sem número de alegrias aos adeptos da Briosa, momentos que são, agora, recordados por um antigo colega de equipa e que tem, também ele, o seu nome gravado a letras de ouro na história da Associação Académica de Coimbra: Mário Campos.

Em declarações exclusivas a A BOLA, o antigo craque dos academistas recorda, num primeiro momento, a chegada de Artur Jorge à cidade do Mondego:

«O Artur era um jovem que vinha do Porto, já com escolaridade, e que veio para Coimbra fazer o antigo 7.º ano do Liceu. Aqui em Coimbra dizia-se que nós só nos formávamos porque éramos jogadores da Académica [risos]. Mesmo vindo do FC Porto, o Artur Jorge era uma pessoa perfeitamente normal para a idade. Gostava muito de futebol, tal como todos nós, mas também era estudante e, dessa forma, integrou-se por completo aqui em Coimbra e no espírito que tínhamos na altura», recorda, saudosista de tempos idos mas que jamais serão esquecidos.

No entanto, e apesar da integração quase imediata que Artur Jorge conseguiu na cidade dos estudantes, houve uma particularidade que também o terá ajudado: «Enquanto nós vivíamos em quartos alugados, ele foi viver para uma República, onde estavam jovens de Coimbra, mas também amigos dele do Porto que se encontravam cá na cidade a estudar Direito. Isso também foi bastante positivo para o Artur.»

E ainda recordando os tempos de estudantes, Mário Campos conta uma história que, hoje por hoje, tem piada, mas que na altura custou... um chumbo. «Encontrámo-nos os dois numa manhã durante uma prova oral de Filosofia. Sabe o que é que aconteceu? Chumbámos os dois! [risos]». A que se deveu esse chumbo?, questionámos. A resposta de Campos foi ainda mais hilariante: «Muito sinceramente, ainda hoje não sei. Talvez porque o professor não gostasse da Académica ou não gostasse de futebol!»

Mas se a vivência académica foi forte, então o que dizer dos tempos em que partilharam o balneário? Mário Campos, nascido a 29 de agosto de 1947, é ligeiramente mais novo que Artur Jorge (13 de fevereiro de 1946), mas também o antigo extremo foi um enorme craque e isso levou-o, ainda júnior, a treinar e jogar pelos seniores da Briosa. E esse facto levou-o a privar de perto com Artur Jorge desde a sua chegada a Coimbra.

«Eu e o Toni, que éramos juniores, já treinávamos com os seniores. Exceto às quintas-feiras, que voltámos aos juniores para o habitual treino de conjunto da semana. Ou seja, começámos desde muito cedo a partilhar o balneário com o Artur Jorge», relata Campos, que desde essa altura percebeu claramente que a Académica tinha contratado um excelente jogador.

«O Artur Jorge era um ponta de lança de grande nível, que atingiu um patamar muito elevado. Esteve três épocas e meia na Académica e marcou 94 golos, o que diz bem da sua qualidade. Depois disso, foi para o Benfica e continuou a fazer a carreira que todos conhecemos, tendo conquistado, inclusivamente, a Bola de Prata», lembra.

A finalizar, Mário Campos não quis deixar passar a oportunidade para transmitir a sua mensagem de pesar pelo falecimento de Artur Jorge: «É um dia triste para todos quantos privámos com ele e aproveito a oportunidade para, publicamente, endereçar à família e aos amigos do Artur Jorge as minhas mais sinceras condolências.»