«Tive colegas que me pediram dinheiro emprestado para pagar a casa»
O leque de oradores e convidados para a conferência Gestão Financeira dos Jogadores na Era Digital. Foto: Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol.

«Tive colegas que me pediram dinheiro emprestado para pagar a casa»

NACIONAL30.10.202320:29

Miguel Garcia, antigo futebolista do Sporting, abordou a importância da literacia financeira para os profissionais de futebol, tomando por exemplo o seu caso pessoal

Decorreu esta tarde no Auditório Agostinho da Silva, na Universidade Lusófona, a conferência Gestão Financeira dos Jogadores na Era Digital, integrada no ciclo Player’s Corner, promovido pelo Sindicato dos Jogadores, em colaboração com o Plano Nacional de Formação Financeira (PNFF), que contou com a presença de Joaquim Evangelista, presidente do Sindicato, e outros responsáveis pelo organismo e personalidades ligadas à Universidade Lusófona, ao PNFF, à CMVM e também ao Banco de Portugal.

O presidente do Sindicato dos Jogadores, Joaquim Evangelista (ao centro) foi um dos anfitriões da conferência Gestão Financeira dos Jogadores na Era Digital. Foto. Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol.

No lote de convidados encontrava-se Miguel Garcia, antigo futebolista profissional que se notabilizou ao serviço do Sporting, entre outros, e que participou no debate como orador convidado – a antiga internacional Edite Fernandes tinha também a sua presença prevista, mas não participou na sessão. 

O antigo lateral direito, conhecido pelo meio futebolístico português como o herói de Alkmaar pelo golo decisivo que marcou na meia-final da Taça UEFA em 2004/2005, que permitiu ao Sporting disputar a final da competição (seria derrotado pelos russos do CSKA Moscovo no jogo decisivo), abordou a falta de literacia financeira que muitas vezes afeta os profissionais de futebol, transmitindo o seu caso pessoal e a forma como lidou com esta situação durante e após a sua carreira no futebol profissional.

«Tive colegas que me pediram dinheiro emprestado para por vezes pagarem a prestação da casa. São exemplos de situações que não deveriam acontecer, mas isto é por falta de informação, por vezes falta de algum aconselhamento em casa, há certos jogadores que vêm de famílias com pouca literacia financeira, também não procuram saber mais e, claro, há casos que por vezes até são públicos e que não acabam da melhor maneira devido a falta de informação e acompanhamento», argumentou o antigo jogador, de 40 anos.

Miguel Garcia reconhece que os maus investimentos e gastos supérfluos sucedem na maior parte dos casos por falta de preocupação com o futuro e o foco na carreira profissional e em prolongar a atividade ao mais alto nível.
«Quando estamos a jogar ao mais alto nível, estamos principalmente focados em jogar todos os jogos, ficamos chateados por ir para o banco ou quando não somos convocados. Então, focamo-nos apenas no próximo jogo», admite, enquanto antigo praticante.

As expectativas quanto a um nível salarial elevado, acrescenta ainda o antigo lateral, contribuem fortemente para que decisões precipitadas possam ser tomadas, recordando a sua experiência quando subiu à equipa principal dos leões.
«No meu primeiro ano, na altura tinha um SEAT Ibiza comercial e por vezes tinha vergonha de ter esse carro (risos), porque toda a gente tinha um bom carro e eu tinha aquele, mas eu tinha de ter os pés bem assentes na terra porque no meu contrato ganhava pouco», revelou.

Miguel Garcia considerou a falta de literacia financeira um problema sério no futebol, visto criar problemas ao nível pessoal e até mesmo na saúde mental do atleta.
«Quando se está habituado a ganhar um certo valor e depois se dá um passo atrás em termos financeiros, claro que a saúde mental é muito afetada e para se voltar a ter desempenho em campo, isso por vezes condiciona bastante o jogador. Dou o meu testemunho pessoal, quando tive a lesão no joelho pensei que a minha carreira ia acabar», lembrou por fim.