ENTREVISTA JOÃO AROSO: «Sinto-me preparado para ser treinador principal, mas também admito voltar a ser adjunto»
Aos 51 anos, João Aroso tem um currículo que impõe respeito e no qual se destacam as passagens no Sporting, na Seleção Nacional, no SC Braga e no Vitória de Guimarães; é um estratega por natureza e valoriza todos os pormenores em prol do coletivo; depois da experiência em Guimarães, momento é de ponderação. Nesta entrevista a A BOLA, Aroso diz estar a analisar o futuro e sente-se preparado para várias possibilidades. O que o move são os desafios…
--» O que perspetiva para o seu futuro? Quer afirmar-se, em definitivo, como treinador principal ou não descarta voltar a ser adjunto?
Sou treinador de futebol. Sinto-me preparado para ser treinador principal, como já fui em determinados contextos, mas também admito perfeitamente voltar a ser adjunto. Para isso, terá de ser num contexto especial. Terá de ser algo que me estimule, que me desafie e que eu ache que seja um bom passo no que concerne à minha carreira.
--» Saiu já esta época do Vitória de Guimarães. Como vê o Vitória atual, sob o comando de Álvaro Pacheco? Que nuances táticas identifica na equipa relativamente ao tempo em que esteve no clube?
Vejo o Vitória muito bem. Uma equipa extremamente confiante e a praticar um bom futebol. Relativamente às nuances táticas, observo, nesta forma de jogar do Vitória, aquilo que identifico como intenção do Álvaro Pacheco em ter dado continuidade a boa parte da ideia de jogo que tínhamos na vigência do Moreno. Falo da estrutura tática, mas também de conceitos de jogo. Acho que isso também valoriza o nosso trabalho enquanto estivemos no Vitória. Sendo certo que, e como é natural, o Álvaro Pacheco incutiu na equipa o seu cunho pessoal. E neste particular, destaco uma caraterística muito própria das equipas lideradas pelo Álvaro Pacheco, que é o carisma.
--» Que variantes tem o Vitória com este 3x4x3 relativamente ao 3x5x2 do início da época?
Começámos a época com o 3x5x2. Entendemos que, devido a contingências da construção do plantel, tínhamos muitos médios com qualidade que nos convidavam a jogar dessa forma. Por outro lado, tínhamos poucos alas. Dessa forma, e não querendo mudar demasiado o que vinha da época passada, mantivemos os três centrais e optámos por jogar com três médios. Mas devo dizer que também o próprio Paulo Turra utilizou o 3x4x3. Antes disso, nós, na vigência do Moreno, tivemos algumas dificuldades nas alas, nomeadamente a lesão prolongada do Ricardo Mangas. Tal como, por exemplo, as caraterísticas da maioria dos nossos médios, que não eram muito verticais nem tinham muita chegada à área. Nós já estávamos a ponderar voltar ao 3x4x3, algo que aconteceu, até, durante o jogo com o Gil Vicente [partida em que João Aroso orientou os conquistadores e que terminou com o triunfo vitoriano por 2-1], que tínhamos começado em 3x5x2. Tínhamos preparado a possibilidade de alterar durante o jogo e isso aconteceu, na altura, com a entrada do João Mendes como falso ala esquerdo.
--» Trabalhou com jogadores que têm estado em plano de evidência, como Jota Silva ou Tomás Handel. Até onde acha que podem chegar?
Tenho um respeito enorme pelo Vitória e se o Vitória puder contar com eles muito tempo será ótimo para o clube. Mas eu penso que ambos podem ir para um patamar ainda superior, assim continuem a jogar regularmente. Acho que podem chegar a uma liga de topo, mas, para isso, precisam de mais épocas a jogar a este nível. O Tomás Handel teve um infortúnio provocado por uma lesão grave, que o obrigou a estar parado cerca de um ano, mas é um jogador com uma inteligência de jogo acima do normal. Tem muita personalidade e enorme qualidade técnica. O Jota é um jogador que se sente como peixe na água quando joga perto da área. Tem uma entrega tremenda, algo que, de resto, também acontece nos treinos. É vertical, muito forte no ataque à profundidade e tem golo. Feliz é o clube que pode contar com um jogador como o Jota.
--» Já recebeu convites desde que saiu de Guimarães?
Tal como foi público, tive o convite do Moreno para o acompanhar em Chaves. Além disso, não queria concretizar em termos de nomes de clubes, mas posso dizer que tive abordagens de países árabes, do Brasil e de Portugal. Foram situações que decidi não aceitar porque não me estimulavam.
--» Para ser treinador principal ou para adjunto?
Nestes casos, todos os convites eram para ser treinador principal.
--» No caso dos clubes portugueses de que fala, eram de Liga?
Não me vai levar a mal, mas prefiro guardar isso para mim.
--» Como e quando perspetiva, então, o regresso ao ativo?
Além dessas situações de que falei, e que recusei, posso dizer que tive, já há algum tempo, um contacto do futebol inglês, possibilidade que ainda hoje se mantém em aberto. Não vou dizer que é provável, digo apenas que é uma possibilidade.
--» Premier League?
Não, trata-se uma liga secundária. Tenho consciência de que, neste momento, e perante o meu currículo, seria completamente impossível chegar à Premier League como treinador principal. O que posso dizer é que, a concretizar-se esta hipótese que ainda está em aberto, será uma porta de entrada para trabalhar num futebol que muito gosto.
--» Que análise faz do campeonato português na presente temporada?
Tem sido um campeonato bastante competitivo. Há uma distância pontual muito diminuta entre os clubes que estão no topo da tabela, cenário idêntico, de resto, ao que acontece com as várias equipas que estão na parte inferior da classificação. Isso é muito positivo para a qualidade do nosso campeonato, uma vez que é sinal de competitividade. A esse facto acresce ainda a qualidade dos nossos treinadores e jogadores.
--» Pegando, exatamente, no que acabou de dizer, que jogadores e treinadores têm estado em maior destaque?
Sobre treinadores, poderia destacar o Rúben Amorim e o Sérgio Conceição, não necessariamente pelo que estão a fazer esta época, mas, e acima de tudo, pelo excelente trabalho que têm realizado ao longo de todos estes anos e que lhes tem permitido montar equipas que lutam constantemente por títulos. Mas poderia também encontrar vários motivos para elogiar muitos outros colegas que estão também a realizar excelentes trabalhos. Relativamente a jogadores, destaco o Gyokeres. A uma equipa que já funcionava muito bem, adicionou a capacidade de resolver jogos individualmente. Quando uma equipa pressiona alto o Sporting, o que é muito difícil de fazer, deixa muitas vezes atrás a situação de igualdade numérica. Ora, essa situação com o Gyokeres é extremamente perigosa, devido às caraterísticas individuais que tem, o que redunda num risco enorme para os adversários quando têm de assumir essa igualdade numérica. Depois, e como o próprio tem provado, é a ligação direta que tem ao golo. O Sporting está a potenciar ao máximo as caraterísticas individuais do jogador.