Diogo Brito: «Acho estranho os Kings não terem visto o potencial do Neemias»
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ENTREVISTA A BOLA Diogo Brito: «Acho estranho os Kings não terem visto o potencial do Neemias»

Base/extremo da Seleção e do Ourense foi companheiro de equipa do poste português durante duas temporadas na Universidade de Utah State,nas quais foram campeões de conferência, e diz que a evolução de Queta não o surpreende. Esta sexta-feira, em Almada, tentará ajudar Portugal a superar a Eslovénia na corrida para o EuroBasket 2025 e explica como se sente um grupo que considera ser especial, porque nunca jogou na Liga Portuguesa e que mantém o sonho de acabar a carreira no Povoa. 

Habitual aposta de Mário Gomes no cinco inicial da Seleção, Diogo Brito, de 27 anos, será peça fundamental para que Portugal quebre a invencibilidade da Eslovénia na 3.ª jornada do Grupo A da fase de qualificação para o EuroBasket 2025. Jogo marcado para esta sexta-feira no Complexo de Almada (19h).

Atualmente no Ourense, 4.º (6 v-2 d) da LEB Oro, o base/extremo explica porque nunca jogou como sénior em Portugal, fala da ambição pessoal e dos linces na prova e como se sentiu ao ver o amigo Neemias ser campeão da NBA.    

— Desde que saiu da Universidade de Utah State, em 2019/20, nunca chegou a atuar na Liga Portuguesa e leva cinco temporadas na LEB Ouro [2.ª Divisão espanhola]. Foi o caminho que planeou, apostar em jogar fora de Portugal?

— Sim, desde o início. Também por causa do trajeto que o meu agente viu que seria o melhor para mim e o meu futuro. E desde que estou a trabalhar com ele, considerou que a melhor opção seria ir diretamente para Espanha. Foi o caminho que seguimos e, até ao momento, estou contente com a decisão.

Sobretudo no verão, costumam sempre aparecer propostas de diferentes clubes [portugueses].

— O objetivo é chegar à ACB [principal liga, considerada a melhor depois da NBA]? 

— Sem dúvida. Sempre foi e continua a ser.

— Mas nestes anos tem tido convites de clubes portugueses? 

— Sobretudo no verão, costumam sempre aparecer propostas de diferentes clubes. Vão aparecendo para vir jogar para Portugal.

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— Por um lado isso é aliciante, afinal, nunca chegou a jogar na Liga Portuguesa? 

— De certa forma. Uma vez que fui para fora e decidi ir para os Estados Unidos, nunca tive a pressa de voltar para Portugal. Ou seja, se um dia as condições se proporcionarem vir para cá, não tenho qualquer problema nisso e até acredito que aconteça de forma natural. 

Mas, sinto que para o meu desenvolvimento como jogador e para a valorização da carreira, que estou melhor no estrangeiro, neste caso em Espanha. No entanto, nunca ponho de parte ou desvalorizo vir para Portugal. 

A LEB Oro é um campeonato bastante competitivo, ou seja, todos os fins de semana há jogos de altíssimo nível, com enorme intensidade. Um nível de competição que, infelizmente, a nossa Liga ainda não consegue oferecer.

— Nesta convocatória 50 por cento da Seleção já atua em clubes fora do país, alguns deles em Espanha, acabaram por seguir a sua aposta. O que é que é atrativo na LEB Oro? 

— É excelente que já joguem tantos fora. A LEB Oro é um campeonato bastante competitivo, ou seja, todos os fins de semana há jogos de altíssimo nível, com enorme intensidade. Um nível de competição que, infelizmente, a nossa Liga ainda não consegue oferecer. Para além do mais, acho que o estilo de jogo que se pratica em Espanha é muito mais propício ao desenvolvimento do basquetebolista português comparativamente à Liga portuguesa.

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Agora, quando vão outros, já chegam com outro estatuto. Olham para os portugueses de maneira diferente, que Portugal possuiu, realmente, basquetebolistas com valor.

— Já que fez essa referência, é fácil chegar a Espanha e ser um jogador português? 

— Não foi fácil, ainda para mais fui dos primeiros nos últimos anos e não foi nada fácil. Não havia referências portuguesas. Há cinco ou seis, para um espanhol, quem eram os portugueses no basquete? Conheciam o Betinho [João Gomes] que esteve na ACB [seis épocas] mas, além dele, mais ninguém. Sim, já por lá tinha passado o Sérgio Ramos, mas isso há 15 anos.

Entretanto, perdera-se esse fio ao jogador português. Ao ir para lá, e na altura também foi o Gonçalo Delgado, foi complicado. Agora, quando vão outros, já chegam com outro estatuto. Olham para os portugueses de maneira diferente, que Portugal possuiu, realmente, basquetebolistas com valor que podem acrescentar algo ao campeonato espanhol.

Sabemos que a vida dá muitas voltas, [mas o Póvoa] é o local onde, um dia, quero terminar a carreira.

— Fez quase toda a sua formação no Póvoa, não foi? 

— Sim, desde os 3 anos e até aos 15, quando fui para a Dragon Force, por duas épocas.

— Ora, o Póvoa encontra-se há cinco épocas na Liga, tantas quanto está em Espanha. Acompanha com atenção o que é que vai acontecendo ao Póvoa no campeonato? 

— Claro! É o meu clube.

— Se bem que há equipas que lutam pelo título em Portugal e, de certeza, são sobretudo essas que estariam interessadas em si, olhará sempre para o Póvoa como o clube onde um dia gostaria de jogar profissionalmente? 

— Isso é uma certeza. É um objetivo que tenho claro na minha mente. Se tudo correr bem, e sabemos que a vida dá muitas voltas, é o local onde, um dia, quero terminar a carreira.

Nessa altura o meu jogador favorito era o Rudy Fernandez [Real Madrid, retirou-se no final da época]. Claro que não sou o Rudy Fernandez, nem perto disso [risos], mas, de certa forma, acabei por moldar o meu jogo à imagem dele.

— É um extremo bastante agressivo a defender e explosivo a atacar, pelo menos é assim que o vejo. Enquanto cresceu, quem era o seu modelo e se, de alguma forma, adaptou esse estilo a essa imagem? E, já agora, quem é atualmente o seu preferido? 

— Acho que sim, foi um pouco o que aconteceu. Quando somos jovens procuramos imitar alguém que gostamos de ver. Nessa altura o meu jogador favorito era o Rudy Fernandez [Real Madrid, retirou-se no final da época]. Claro que não sou o Rudy Fernandez, nem perto disso [risos], mas, de certa forma, acabei por moldar o meu jogo à imagem dele. Hoje em dia, um jogador que gosto muito e com quem me identifico bastante é o sérvio Bogdan Bogdanovic [Atlanta Hawks].

— Portugal no EuroBasket 2025. É um sonho que tem de se realizar? 

— É um objetivo. Não gosto muito de ver as coisas pela negativa, mas seria uma grande desilusão não chegar lá. 

Penso que temos capacidade de competir, disputar o resultado e chegar ao fim e, quem sabe, ganhar [à Eslovénia]. Que é o objetivo.

— Por causa da equipa que tem e como a sente?  

— Da forma que o grupo está feito, da união que existe, a clareza do objetivo, dos anos que temos vindo a trabalhar juntos, com uma vista a lá chegar. Não ir ao EuroBasket seria uma tristeza enorme. Mas lá está, vamos falar pela positiva. Conseguir o apuramento será o cumprir de um objetivo e uma alegria bastante grande.

— A Eslovénia, mesmo sem Luka Doncic, é provavelmente o adversário de maior nível que encontrarão no Grupo A. O que é que espera deste jogo? 

— Acho que temos claramente hipóteses de competir. E uma vez que estás a competir e tens um grupo unido e bem trabalhado, como acredito que possuímos, podemos sempre ganhar. Apesar do favoritismo estar do lado deles, e digo-o sem qualquer problema, acho que são favoritos - líderes do grupo, seleção com jogadores muito experientes - penso que temos capacidade de competir, disputar o resultado e chegar ao fim e, quem sabe, ganhar. Que é o objetivo.

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Ainda chegou a jogar duas épocas com o Neemias Queta em Utah State [2018/19 e 2019/20]. Como é ter um ex-colega e atualmente companheiro de Seleção que é campeão da NBA? 

— É um orgulho. Posso dizer que como português estou bastante feliz, como amigo estou ainda mais contente. 

Os Celtics são a potência da NBA e são-no por alguma razão e o seu scouting é bom. Sabem ver a qualidade e o valor nos jogadores e viram isso no Neemias e agora ele é claramente um jogador da rotação

— Surpreendeu-o o salto que o Neemias deu em termos de evolução no início desta época? 

— Não, não diria que me surpreendeu. Penso que foi algo natural. Acho é estranho os Kings não terem visto esse potencial nele, mas os Celtics são a potência da NBA e são-no por alguma razão e o seu scouting é bom. Sabem ver a qualidade e o valor nos jogadores e viram isso no Neemias e agora ele é claramente um jogador da rotação, com quem contam. 

Já teve oportunidade de ir vê-lo a jogar pelos Celtics? 

— Ao vivo ainda não, porque também temos a nossa época. Mas gostava muito de o ir ver, especialmente se desse no final desta época. 

— Em junho, quando for campeão outra vez?

— Exato, se fosse possível. Este ano os Finals começam só dia 5? Isso é quando termina a nossa temporada em Espanha. Pode ser que dê, gostava de lá dar um salto.

Emocionou-se quando o viu ser campeão? 

— Não diria que sim, não me caiu nenhuma lágrima, não vou mentir, mas fiquei muito feliz por ele, como é óbvio. 

— Acha que o Neemias vai ficar triste por não lhe ter caído nenhuma lágrima? 

- Acho que não, acho que não... [risos].