ENTREVISTA Mário Gomes: «Jogadores que atuam no estrangeiro acrescentam-nos força mental»
Selecionador nacional de basquetebol masculino refere a principal mais-valia de a equipa das quinas dispor do maior número de jogadores a atuarem fora do país
Portugal está prestes a iniciar a preparação para o terceiro e quarto jogos na fase de qualificação para o EuroBasket-2025, contra o líder do grupo A, Eslovénia, nos próximos dias 22 (Almada, 19h00) e 25 (Koper, naquele país). O selecionador nacional Mário Gomes convocou, pela primeira vez no historial da equipa portuguesa, um grupo de jogadores em que metade alinha em clubes estrangeiros. O técnico destaca-lhes importante mais-valia para o grupo e observa ainda, com satisfação, Neemias Queta a ganhar o seu lugar na NBA, reconhecendo-lhe diversos méritos - e como crê na qualificação para o Campeonato da Europa espera dispor, então, do poste dos Boston Celtics.
- Nestes oito anos em que é selecionador nacional nunca teve sete jogadores que atuam fora de Portugal convocados para jogos oficiais, como o fez para estes compromissos frente à Eslovénia. Já havia notado que, sem contar com os que não podem vir, são já 50 por cento da Seleção?
- É verdade… É verdade. Acho que é a primeira vez que acontece, não só comigo, mas no basquetebol português. Já tinha reparado que, efetivamente, metade dos jogadores convocados, que foram 14, estão a jogar fora de Portugal. É um facto e pode ser analisado sob vários prismas, mas, em si, quer para os próprios em primeiro lugar, quer para o basquete nacional, trata-se de uma situação que temos de encarar como natural, e por outro lado positiva, na medida em que demonstra que existem basquetebolistas portugueses com valor para fazerem apostas no estrangeiro e também para apostarem neles noutros países.
- É aliciante como selecionador passar a ter este panorama, uma vez que também já viveu outro, em que, provavelmente, jogavam quase todos em Portugal?
- É diferente, mas claro que é aliciante porque são jogadores que estando a viver experiências diferentes também trazem coisas diferentes. Fundamentalmente, a diferença reside na mentalidade em encarar a competição, e isso é uma diferença em relação a tempos ainda relativamente recentes. Trata-se de um conjunto que não teve medo de arriscar, porque ir para fora comporta sempre risco, nem teve medo de ir à luta noutros contextos. Neste momento, isso é positivo do ponto de vista da atitude mental em encarar a competição, pois é preciso ter coragem para assumir riscos. Tal como é preciso ter coragem para enfrentar os desafios competitivos. Pelo prisma da Seleção, além de aliciante, julgo que trouxe-nos alguma força mental, digamos assim, na maneira como a equipa encara a competição.
- Se bem que, mais jogador, menos jogador, já tenha contado com esta equipa no verão, mas era defeso de temporada e alguns ainda estavam na transição de clubes, a presença de mais estrangeiros refletiu-se nos treinos e jogos? Notou-lhes crescimento como basquetebolistas?
- Ao nível da qualidade basquetebolística e da forma como encaram a preparação, olhando para a qualidade e intensidade que trazem aos treinos, estive sempre bastante satisfeito com o trabalho deles. Por isso, desse ponto de vista não há diferenças. A mais significativa, tal como disse, é que se trata de um conjunto de basquetebolistas que, pelo facto de estarem fora daquilo que era o seu ambiente quentinho, transportam uma maneira de encarar a competição diferente. Mais positiva, de ir à luta esteja quem estiver do lado contrário. E isso, em termos de equipa, aumenta a nossa capacidade competitiva, principalmente no que se refere à mentalidade de encarar a competição.
Os jogadores ‘estrangeiros’, por estarem fora do seu ambiente ‘quentinho’, aumentam a nossa capacidade competitiva
- Essa convocação de maior número de jogadores a alinhar no estrangeiro implicou — e implicará, a manter-se — que o selecionar viaje muito mais para fora, para vê-los jogar. Tem sido assim?
- Sim, ainda agora, durante o mês de outubro e o princípio de novembro, andei com a trouxa às costas. Consegui estar com todos, vê-los a jogar e falar sobre o que temos pela frente em novembro. O único que não vi a atuar foi o Rafael Lisboa, porque, infelizmente, lesionou-se nessa semana. Mas estive com ele e recuperou logo a seguir. Comecei em Ourense e terminei, há poucos dias, em Oradea [Roménia], com o Travante Williams. Está toda a gente cheia de vontade, como é habitual, em vir à Seleção. É um conjunto bastante bom, no que se refere à química do grupo. É um prazer para todos cada vez que nos juntamos e sente-se isso quando se contacta com os jogadores. Estão todos em condições físicas — espero que ninguém se lesione neste fim de semana - e a partir de domingo à noite [concentração da Seleção] estaremos juntos a trabalhar.
- Portugal é terceiro no grupo, com três pontos, menos um do que a líder Eslovénia, os mesmos de Israel (2.º), e mais um do que a Ucrânia (4.º), sendo que os três primeiros seguem para a fase final. A Eslovénia, se bem que sem Luka Doncic [Dallas Mavericks], é um daqueles adversários aliciantes, que entusiasmam?
- É claro que entusiasma! A Eslovénia tem o estatuto que tem e merecido no basquete europeu e mundial. Naturalmente, com o Luka Doncic torna-se numa equipa diferente, tal como nós esperamos que no verão — e estamos confiantes que vamos lá chegar [ao EuroBasket-2025] —, sejamos diferentes com o Neemias [Queta]. Trata-se de uma seleção [a eslovena] que, à partida, é a principal favorita do grupo, mas nestes jogos não nos vamos encolher e iremos encarar os confrontos não só para competir, mas a pensar que podemos ganhar.
- Uma vez que fez referência do Neemias, há uma pergunta incontornável: como é que tem visto este arranque de época do português nos Boston Celtics?
- O que é que hei de lhe dizer? Com muita alegria e satisfação. Com a convicção que sempre tive, por várias vezes a expressei e agora está ainda mais reforçada: o Neemias está a encontrar, e irá fazê-lo ainda mais, o seu lugar na NBA. Além das qualidades todas que tem, possuiu igualmente a mentalidade, o que é muito importante no desporto de alta competição. Talvez o mais importante de tudo é que tem a mentalidade adequada para chegar onde quer chegar, por isso ver o que está a acontecer é uma satisfação enorme. O Neemias tem uma coisa fundamental: independentemente daquilo que lhe vá acontecendo, está sempre preparado para o que der e vier, e isso faz com que quando as oportunidades surgem mostre estar pronto para responder. Por isso, mais tarde ou mais cedo, será uma figura com o maior destaque. Já começa a ter algum, mas sê-lo-á ainda mais na NBA. Sempre pensei isso e agora, obviamente, faço-o com mais propriedade. Estou muito feliz, fundamentalmente por porque é um rapaz que merece tudo de bom.
Estamos confiantes de que vamos estar no EuroBasket do próximo ano e que sejamos diferentes com o Neemias
- Uma vez que fez referência do Neemias, há uma pergunta incontornável: como é que tem visto este arranque de época do português nos Boston Celtics?
- O que é que hei de lhe dizer? Com muita alegria e satisfação. Com a convicção que sempre tive, por várias vezes a expressei e agora está ainda mais reforçada: o Neemias está a encontrar, e irá fazê-lo ainda mais, o seu lugar na NBA. Além das qualidades todas que tem, possuiu igualmente a mentalidade, o que é muito importante no desporto de alta competição. Talvez o mais importante de tudo é que tem a mentalidade adequada para chegar onde quer chegar, por isso ver o que está a acontecer é uma satisfação enorme. O Neemias tem uma coisa fundamental: independentemente daquilo que lhe vá acontecendo, está sempre preparado para o que der e vier, e isso faz com que quando as oportunidades surgem mostre estar pronto para responder. Por isso, mais tarde ou mais cedo, será uma figura com o maior destaque. Já começa a ter algum, mas sê-lo-á ainda mais na NBA. Sempre pensei isso e agora, obviamente, faço-o com mais propriedade. Estou muito feliz, fundamentalmente por porque é um rapaz que merece tudo de bom.