'Obrigado', Ruben, por nos deixares mais pobres

OPINIÃO11:00

A saudade em carta aberta ao cativante profeta de Alvalade: o teu humanismo e a tua honestidade intelectual vão agora enriquecer o futebol inglês...

Caro Ruben,

Olá. Escrevo-te hoje porque já estou com saudades, admito...

Deixaste marca rara aqui e ainda não consigo conformar-me com a tua partida. Não vou estender-me no elogio às tuas qualidades técnicas, táticas e de liderança, pois sobre elas já muito se escreveu e dissertou. Sim, também o fizeram sobre a tua personalidade humanista e honesta, sobre o grande comunicador que és, mas é nessas que quero fixar-me nesta carta que te envio.

Porque é, acima de tudo, por causa delas que, desde há uns dias, sinto um enorme vazio por cá. Ficámos mais pobres com a tua partida rumo a Old Trafford — irão os ingleses sentir-se, muito em breve, multimilionários, vais ver. Não me movem ressentimentos, Ruben, nem pensar. Até porque, sem disparates nacionalistas, sou patriota o suficiente para ficar feliz quando os portugueses são bem sucedidos e dão boa imagem do povo trabalhador, acolhedor, honesto e simpático que também somos.

É o teu caso, Ruben, tu que foste profeta, naquele dia em que, contra o que muitos diziam, que tinhas tudo para falhar, atiraste com o teu sorriso cativante: «E se corre bem?». Correu! Muito bem. Mas isso sabes tu melhor do que ninguém, viveste o sucesso por dentro, trouxeste felicidade a um emblema histórico e que há muito vivia em profunda tristeza.

Mas trouxeste acima de tudo... verdade. A verdade que é luz na escuridão, a honestidade na análise e a simplicidade nas palavras que tocam fundo em quem as recebe. E que deixam saudades num meio onde, infelizmente, ainda reinam os discursos gastos, arcaicos e tantas vezes bafientos. Adeus, com um abraço. E boa sorte!