Os censos nem sempre dizem a verdade
Cristiano Ronaldo é o líder de balneário de um Portugal que entra em ação no Euro 2024 nesta terça-feira (Foto: HMB-Media/IMAGO)

Pontapé de Estugarda Os censos nem sempre dizem a verdade

INTERNACIONAL18.06.202409:00

Como os 10 milhões de habitantes de Portugal podem representar uma vantagem competitiva

Pode ser só um detalhe, mas o jogo entre Portugal e Chéquia é o primeiro desta fase de grupos que colocará frente a frente dois países com praticamente a mesma população oficial, o que nos permite refletir um pouco sobre a relação que a demografia tem com o desenvolvimento nacional do maior e melhor desporto do mundo.

O que os 10,4 milhões de portugueses representam face aos 10,6 milhões de checos? Observando os respetivos campeonatos, mas fundamentalmente o nível dos jogadores de cada país que atuam dentro e fora das fronteiras, parece haver uma enorme discrepância, como se existisse um erro nos censos e a quantidade de talento que existe atualmente no canto mais ocidental da Europa fosse proporcional aos 84 milhões do país anfitrião, a Alemanha. Mas não é. Tal como o Uruguai com os seus pouco mais de três milhões de habitantes tem fabricado pontas de lança de elite, os quatro milhões da Croácia viram a sua seleção chegar à final do Mundial 2018 e às meias do Mundial 2022 ou, numa escala totalmente diferente, assistiu-se à epopeia da Islândia no Euro 2016, um país de 380 mil habitantes que eliminou a Inglaterra de 56 milhões nos oitavos de final.

Fosse o número de pessoas o principal fator para garantir o sucesso e China seria campeã do mundo em todas as modalidades, mas o desporto e o futebol em particular mostra-nos como menos pode ser mais. Lembro-me há uns anos de ler uma entrevista feita a um gestor desportivo nos Estados Unidos que dizia que preferia trabalhar na Islândia porque ali tinha a garantia de encontrar e trabalhar todo o talento que existia, enquanto na costa Leste (e já não incluiu o país inteiro) estava tudo tão disperso, o que obrigava a custos muito mais elevados para assegurar uma rede de prospeção, criando-se este paradoxo de um pequeno país de origem vulcânica conseguir fazer uma seleção melhor que a norte-americana (mesmo descontando que o soccer não é a modalidade número 1).

Portugal está a meio da tabela em número de habitantes quer na União Europeia, quer nos 24 países presentes na Alemanha, mas no futebol é claramente do top 3. É por isso que de dois em dois anos se liberta um orgulho escondido, mesmo  que dure só um mês. É melhor que nada.