Pontapé de Estugarda Sigam os esquilos
A grande surpresa no intervalo das tecnologias e no rescaldo de uma festa inesperada
Adoro gadgets, agradeço à nossa senhora da tecnologia os avanços que me permitem hoje saber em tempo real onde comprar um medicamento, pedir comida ou traduzir um idioma, mas há momentos em que vale a pena parar, voltar às origens e seguir os instintos sem recorrer aos satélites suspensos por cima das nossas cabeças. Um desses regressos a tempos que parecem de outro século (na verdade, até é o caso) ocorrem quando decido conhecer uma cidade, vila ou lugarejo a passo de corrida. Indo à descoberta, sem amarras, absorvendo tudo, sem recorrer a Google Maps, Waze e afins. Foi assim, por exemplo, que em 2016, no Europeu de França, dei por mim a entrar numa quinta vinícola de acesso público nos arredores de Bordéus e onde uma das pessoas que lá trabalhava, surpreendida por ver um tipo transpirado entre vinhas, me ofereceu um copo de vinho. Valeu tanto quanto uma prova organizada (excetuando os queijos).
Neste domingo, em Goppingen, cidade pacata de 58 mil habitantes de casas térreas, jardins frondosos e onde o tempo parece passar mais devagar, voltei a lembrar-me do quão recompensador podem ser as surpresas. Bastou, na verdade, seguir os esquilos. O primeiro, pequeno, rápido a esconder-se perante a presença humana, depois o segundo, menos furtivo e (mais tarde percebi) mais próximo do seu habitat. Subindo por ruas arborizadas e impecavelmente limpas, dei de caras com uma espécie de parque do Monsanto em ponto menor, mas mesmo assim uma gigantesca floresta de perder de vista em ambiente urbano, daqueles elementos que dão a esta região alemã (mas não é a única) uma harmonia que já inspirou todo o tipo de artistas. O parque automóvel é luxuoso, mas não carrega uma sensação de poder sobre os elementos naturais porque as cidades-dormitório estendem-se em largura, não em altura, como se houvesse espaço para todos, no sentido literal e metafórico: por estas bandas respira-se um misto de culturas que tantas vezes só o futebol traz à superfície, exemplo da euforia tresloucada dos italianos na noite da vitória sobre a Albânia, em oposição à frustração dos albaneses que por aqui vivem e respondiam com as mãos cruzadas simulando a águia. O ruído foi tão intenso que provavelmente terá acordado os esquilos. Amanhã voltarei para ver se eles estão bem.