ENTREVISTA A BOLA Seferovic: «Lage mudou a energia, estávamos todos felizes»
Avançado suíço foi uma das figuras da vitória do Benfica no Dragão que lançou águias para o título de 2018/2019. Recorda esse jogos e a intensidade no vermelho dos clássicos e muito mais
Haris Seferovic, 33 anos, deixou o Benfica, que representou cinco época, em 2022, mas continua bem atento à realidade dos encarnados. Em entrevista a A BOLA, segunda-feira, recorda uma vitória por 2-1 no Dragão, sob o comando de Bruno Lage, determinante na conquista do título de 2018/2019. E recorda muito mais.
— Pensa muito no Benfica?
— Claro, penso sempre no clube, porque ainda tenho contacto com alguns jogadores, ex-jogadores e, também, com pessoas que estão a trabalhar lá. E sempre que posso vejo os jogos. Por isso, estou sempre a seguir o Benfica, sobretudo porque agora Bruno Lage está lá.
— Sabe qual foi o último resultado do Benfica?
— O último? Acho que foi 3-1 ou algo parecido.
— Foi 3-0, com o Gil Vicente. Como é que o Benfica o marcou profissional e pessoalmente?
— Marcou-me muito das duas formas, profissional e também pessoalmente. O Benfica é um dos maiores clubes, precisamos de ter mentalidade vencedora e, também, ser um homem para lá jogar. Marcou-me de forma muito boa como jogador e como homem. Cresci lá muito.
— Sente mais saudades do futebol ou da vida em Lisboa?
— Das duas coisas. Aprendi no que diz respeito a futebol e cresci muito. E a vida também é muito boa. Bom tempo, temos mar, temos tudo. É uma cidade e é um país muito lindos.
— Disse que ainda fala com antigos companheiros de equipa e com pessoas ainda no Benfica. Com quem fala?
— Falo algumas vezes com Fejsa, Mile Svilar ou com Rafa. Ainda falo com dois ou três. Ainda outro dia estava a ver o jogo entre Besiktas e Galatasaray e o Rafa marcou.
— Mandou-lhe uma mensagem?
— Sim, sim, depois do jogo, sim.
— Foi um grande golo.
— Sim, foi um grande golo. É sempre bom ganhar um dérbi.
— Sabe bem o que isso é porque jogou no Galatasaray.
— Sim, claro.
— Ainda têm algum grupo no WhatsApp?
— Não, não temos. Mas esqueci-me de alguém com quem continuo a falar. Com Adel Taarabt, sempre.
— Ele ainda está aí no Dubai?
— Sim, sim, está aqui. Agora, sobretudo no Ramadão, estive muito com ele. À noite tomávamos um café ou algo assim e falávamos.
— Taarabt também o marcou muito, certo?
— Sim, claro, Taarabt é top como homem e como jogador é muito bom.
— Porque não teve Taarabt tanto sucesso como o futebol dele talvez merecesse?
— É um gajo que vem da rua, sabes? Vê-se que tem uma qualidade incrível e depois... não sei. Jogou em grandes clubes como Milan, Tottenham e tudo. O que ele fazia em campo era muito bom. As pessoas não vão esquecê-lo porque é um jogador top. Tecnicamente... Agora não se veem muitos jogadores de rua. Foi um dos últimos jogadores a chegar da rua. Para mim, teve uma carreira muito boa, claro que poderia ter feito melhor. Mas ele está feliz. E, como disse, é um amigo que vejo quase todos os dias.
— Esteve muito anos no Benfica, cinco épocas, mas só ganhou um campeonato. Foi pouco?
— Sim, foi pouco, claro. Cheguei ao Benfica quando o Benfica baixou um pouco. Estávamos a jogar bem e a ganhar, mas faltava ganhar mais um ou outro troféu. Mas estou feliz por lá ter jogado, ganhei o campeonato, a Taça de Portugal e marquei muitos golos. Então, estou feliz.
— Começou logo a ganhar uma Supertaça, no primeiro jogo. Lembra-se?
— Sim, sim.
— Como foi a época em que foi campeão? O Benfica começa com Rui Vitória, depois foi substituído por Bruno Lage, conte-nos um pouco como foi esse ano.
— Sim, esse ano... Não sei se foi nesse, mas estive quase para sair antes de começar a época. Falei com [Rui] Vitória e ele disse-me que não iria jogar muito, que não me estava a ver [a jogar muito]. E estive quase a sair. No final, não me lembro porquê, mas fiquei. E depois acabou por ser muito bom. Comecei a jogar pouco, a entrar, mas Bruno Lage mudou as coisas. Joguei com o [João] Félix. Não me lembro se seria o Jonas que estava lesionado. Tive a felicidade de jogar e depois marquei muitos golos, fiquei na equipa e ganhámos o campeonato.
— Como é que Bruno Lage fez a diferença? Porque foi tão importante para si e tão importante para a equipa?
— Lembro-me bem de que mudou a energia no clube, nas pessoas, em nós. Estávamos todos felizes, os treinos eram bons, curtos e intensos. E, sobretudo, como homem... é um homem muito bom. Como treinador é top e como homem é muito bom. Dava confiança a todos os jogadores. E essa foi a diferença.
— Como é que lhe dava confiança?
— Nada de especial, falava comigo, dizia-me: ‘Não te preocupes se falhares um, dois ou três golos, vais marcar. Faz o que quiseres. Nos últimos 30 metros, quando as bolas entrarem tens de estar ali ou aqui.’ Dava-me confiança assim, também quando falhava. Depois marcava e ganhava ainda mais confiança. E, claro, se a equipa está a ganhar e marcamos a confiança vai aumentando jogo a jogo.
— Nesse ano em que conquistou o título, o Benfica venceu duas vezes o FC Porto, a vitória no Dragão marcou muito adeptos. Lembra-se de quem fez o passe para João Félix marcar?
— Sim, sim, fui eu. Lembro-me. Gabi [Gabriel] ganhou a bola, tocou para a esquerda e centrei para o Félix e o Félix marcou e depois ganhámos. O Benfica agora joga fora?
— Sim.
— FC Porto é muito difícil. É uma boa equipa, muito agressiva. Gosto de jogar fora com os adversários mais difíceis, como o FC Porto. E quando está tenso e tudo o mais... gosto muito disso. Ganhámos lá e foi decisivo para ganhar o campeonato. Agora, o Benfica está num bom momento, está a ganhar e agora vão jogar no Porto, será muito difícil.
— Nessa época, o Benfica ganhou 1-0 contra o FC Porto na Luz, na primeira volta. Sabe quem marcou o golo?
— Sim. Lembro-me. Cabeça de Pizzi e depois eu [desviei] com o pé direito.
— Tem muito boa memória?
— Lembro-me de muitos jogos e muitos golos no Benfica.
— Também marcou alguns golos ao Sporting.
— Sim, também, sim.
— Como foi viver no Marquês de Pombal a festa da conquista do campeonato?
— Foi especial. Não me esquecerei. Foi muito lindo. Ver toda a gente lá a festejar o campeonato é muito lindo.
— Que mensagem gostaria de enviar aos benfiquistas?
— É importante que apoiem a equipa no Porto. Espero que o Benfica vença e que no final da época desfrutem e festejem no Marquês.
Quero ver uma equipa sem medo a jogar para ganhar. Com inteligência, intensidade e determinação. Uma equipa que queira ser campeã. Força Benfica