Pontapé de Estugarda Sem portagens mas pagando o uso do WC
Pequenos retratos de uma Alemanha que se esforça em receber bem
Cada povo tem as suas especificidades, embora numa Europa cada vez globalizada seja mais difícil, para não dizer mesmo errado, afirmar que há uma identidade própria deste ou daquele país. Seja como for, há traços que se mantêm e outros que mudam com o avançar da linha cronológica. Um exemplo: recordo-me de vir à Alemanha em trabalho há quase 20 anos e da resistência que encontrei nas pessoas para falar inglês. Hoje, principalmente nas gerações mais novas, o domínio desta língua franca e universal nem se discute e mesmo os mais velhos que não dominam o idioma respondem com sorrisos. «O Euro serve para mostrar que nós somos um país aberto, que gosta de receber», disse-nos um grupo de locais em Munique, em plena Marienplatz, enquanto se divertiam a ouvir os cânticos de milhares de escoceses que faziam do centro da capital bávara uma pequena Edimburgo. Nota-se que há um desejo de os alemães pretenderem mudar uma imagem feita de estereótipos, mas que só o tempo e a insistência em contrariá-los trarão os seus resultados.
Mas felizmente que outras características se mantêm intactas: o planeamento das cidades, cada vez mais centradas no cidadão pedestre e no utilizador da chamada mobilidade suave ou verde mas sem com isso carregar em cima dos automobilistas, aqueles que conduzem os motores (no sentido literal) da maior economia da União Europeia.
Para quem como eu gosta de planeamento, sinto-me recompensado cada vez que pago um serviço, como aqueles 50 cêntimos que desembolsei na casa de banho de um restaurante/mercado à beira da autoestrada (sem portagens) que liga Munique a Estugarda: não tinha sanitas à japonesa mas percebia-se que havia ali um produto premium, pelo qual as pessoas estão dispostas a pagar, talvez porque o sentimento de injustiça económica seja muito menor comparativamente, por exemplo, com o que existe em Portugal, onde umas pequenas compras numa famosa cadeia de supermercados alemã custam quase o mesmo que paguei em Munique, onde os salários são substancialmente superiores.