Irresistível pressa de ganhar que permite gerir e desfrutar: a crónica da vitória do leão

Moreirense-Sporting, 0-2 Irresistível pressa de ganhar que permite gerir e desfrutar: a crónica da vitória do leão

NACIONAL19.02.202423:42

Leão entra a matar e depois faz gestão competente; jogo sem magia, mas com intensidade e agressividade q.b.; Moreirense foi inofensivo

Longe vão os tempos em que, jogando depois dos rivais, o leão se enervava, tremia ou quebrava, em que reagia mal aos vislumbres de poder ameaçador dos mais diretos competidores na luta intensa pelo lugar cimeiro da classificação. Coisas do passado, sem dúvida. Porque hoje, com Amorim no comando, o Sporting parece imune a qualquer pressão e tem nos seus quadros jogadores que já não se deixam «embalar com determinadas conversas» - cumprindo, portanto, com distinção o desejo, em jeito de aviso, do treinador na antevisão à partida. De resto, não há volta a dar: a equipa leonina é, mesmo, de todas a mais forte à beira do último terço do campeonato e comprova-o, jogo após jogo. 

E se a viagem a Moreira de Cónegos, onde mora um dos conjuntos mais surpreendentes e competentes da temporada, encerrava perigos, os leões trataram deles cedo, cedinho, chegando à vantagem logo aos 122 segundos, quando, na sequência de um canto convertido por Trincão, Kewin falhou o tempo de saída e, num ressalto dividido com Frimpong, Morita fez o 1-0. 

Trincão foi uma das figuras da partida frente ao Moreirense

Ganhava forma, na madrugada do desafio, a irresistível pressa de ganhar que este leão tem, esta sede insaciável de marcar, de resolver, de conquistar e de dominar que cresce de semana para semana, pouco importando se o fato que veste é verde ou branco, se tem pormenores dourados ou é, simplesmente, preto. Pode mudar a farda, até mesmo o estilo de funções (mais artísticas, mais operárias ou mais guerreiras) que, no fim, o resultado é o mesmo: um Sporting competente, intenso, dominador e com armas de nível superior, seja a defender, seja a atacar.  

E, também, com um sentido de solidariedade, coragem e entreajuda que, tantas vezes, permite ver um Gyokeres menos eficaz lá a frente a vir cá atrás ajudar a defender nas alturas; ou um Trincão a sacar truques da cartola ofensivamente ao mesmo tempo que é incansável nas missões de contenção; ou ainda Pedro Gonçalves ora na direita, ora na esquerda, ora no meio, procurando o melhor espaço, o instante perfeito para soltar um golpe. 

Como o que conseguiu aos 23 minutos, disparando para o 2-0 - de novo a passe genial de Trincão, elemento em fantástico momento de forma e que, nos últimos seis jogos na Liga, protagonizou quatro assistências e seis golos. Notável! Rúben Amorim apostou na fórmula que goleou o SC Braga (5-0) na ronda anterior e ganhou. Geriu durante a semana na Liga Europa, voltou ontem ao melhor onze do momento. 

E, assim, mesmo com vantagem de dois golos, não descansou e, até ao intervalo, a tendência não mudou: leão dominante, mais perigoso (aos 32’, grande arrancada de Gyokeres, e, segundos depois, Nuno Santos disparou para grande defesa de Kewin para o poste), com maior posse e com total competência a anular as intenções (tímidas) do Moreirense, destacando-se, neste plano, o trabalho eficaz de Morita e Hjulmand no meio-campo. Mostraram outra face na segunda parte os cónegos, mais organizados, mais ligados ao jogo. Mas, igualmente, inofensivos, não tanto por demérito próprio, mas muito por culpa da gestão notável de todos os momentos do duelo por parte do Sporting, que controlou e geriu a seu bel-prazer. 

E que ainda criaria ocasião gritante aos 90+3’, com Trincão (e como merecia o golo) a obrigar Kewin à defesa da noite. Logo depois, no derradeiro lance, Maracás cabeceou à malha lateral, no que terá sido o único susto para Adán, num noite de absoluta tranquilidade. Nas bancadas há muito que a festa dos adeptos leoninos, em maioria, era imensa. Vive ali a sensação de que o título de campeão é mesmo mais do que miragem...