Varandas sofreu  ‘bullying’ de Amorim
Frederico Varandas e Ruben Amorim no adeus do técnico ao Sporting (Foto: Imago)

Varandas sofreu ‘bullying’ de Amorim

'Hat trick' é o espaço de opinião semanal do jornalista Paulo Cunha

Só faltou a Frederico Varandas afirmar que foram 45 anos disto, a idade do presidente do Sporting, distinguido, na quinta-feira, como dirigente do ano na gala dos Prémios Stromp. No habitual discurso destes momentos solenes, em que imperam sentimentos fraternos de pertença clubística, o líder leonino abriu o coração e na pele de adepto — desde que nasceu, a 19/9/1979, os verdes e brancos conquistaram seis campeonatos (1980, 1982, 2000, 2002, 2021 e 2024), apenas quatro vividos por Varandas — deitou-se no divã para traumática viagem no tempo.

«Estamos em dezembro, com quase 45 anos de sócio, dezembro era um mês traumático, sofri bullying com este mês, com as piadas do Natal», desabafou, palavras com as quais os consócios presentes no hotel de Lisboa onde decorreu a cerimónia se identificaram por terem saboreado o mesmo fel nestas quatro décadas e meia.

Naqueles períodos de seca, a goleada de 7-1 ao Benfica — a 14/12/1986, tarde de glória do saudoso Manuel Fernandes com quatro golos que ajudaram a imortalizá-lo como baluarte do esforço, dedicação, devoção e glória — foi um oásis no deserto. Mas nem essa vitória gorda proporcionou aos sportinguistas uma quadra natalícia tranquila, pois nas seis jornadas seguintes desceram à terra com dois desaires e quatro empates — voltaram a sorrir com triunfo sobre o Belenenses a 28/2/1987.

Varandas era, então, uma criança de sete anos ainda sem sonhar que lideraria o seu Sporting na caminhada rumo aos títulos de 2021 e 2024. Uma mudança de paradigma e a certeza de que «seja da forma A, B, C, D, E ou F o Sporting vai continua a lutar por títulos e isso nunca mais volta para trás». O plano A no ataque ao bicampeonato que escapa desde 1954 era com o treinador contratado ao SC Braga em março de 2020 sob a inspiração «e se corre bem?». Em Alvalade, o alfabeto para 2024/25 terminava, pois, na primeira letra e somente se contemplava o A de Amorim.

«Preparámos o grupo e a equipa para isso, e assim arrancámos a época, uma máquina afinada. Acontece depois o que toda a gente já sabe, um grande clube europeu, com outras capacidades financeiras, chegou e o nosso treinador aceitou», lembrou no decorrer da referida gala, em jeito de lamento indisfarçável, como se quisesse dizer muito mais sobre a deserção — a qualificação é minha — do atual técnico do Manchester United.

Não acredito — outra convicção pessoal — que Frederico Varandas, ao longo de todo este processo que redundou na saída de Ruben Amorim para Old Trafford, tenha dito tudo o que lhe vai na alma sobre a opção do antecessor de João Pereira. Talvez daqui a uns meses, quando a poeira assentar, opine sem amarras conjunturais — agora que se joga o futuro de uma temporada que alguns antecipavam como passeio em forma de jogo da glória — a propósito de tão inesperado adeus.

Uma prenda de Natal que não se ofereceria ao pior dos inimigos esta que Amorim deixou no sapatinho de Varandas — afirmou que nunca se viu em Portugal um treinador sair assim logo em novembro, a ganhar e a brilhar, se calhar porque noutros casos de sucesso os presidentes protegeram contratualmente os clubes de maneira mais competente — ou a prova de que os amigos também são capazes de atos de bullying num dezembro qualquer.