ENTREVISTA A BOLA Carlos Freitas: «Fora de campo, João Pereira é uma pessoa adorável»
Dirigente faz a antevisão a quem com ele trabalhou, mas não só...
— Trabalhou com o João Pereira no SC Braga e no Sporting, antevia-lhe de carreira de treinador, ou nem por isso?— —Não, sinceramente não. A última vez que eu trabalhei com ele, como disse, foi no Braga e no Sporting, um jogador, um profissional exemplar...
— Muito diferente dentro de campo e fora dele. Fora de campo, pelo que sabemos, é uma pessoa tranquila.
— Sim, cá fora, tranquilíssimo, ou seja, uma pessoa adorável, com quem se pode conversar, com quem se pode interagir. Dentro de campo, um caráter forte, muitas vezes contagiante, muitas vezes talvez tivesse a faculdade de irritar os adversários. Quem estava do lado dele não irritava, porque preferia sempre ter jogadores daqueles do nosso lado. Só houve uma vez que ele me irritou dentro de campo, foi em 2004/ 2005, quando expulsou Hugo Viana no dérbi da Taça de Portugal. Mas não era daqueles jogadores a quem eu conseguisse antever uma carreira de treinador. A verdade é que as informações que vamos tendo é de alguém que se preparou bastante para a função, tem dado passos por trás da cortina para chegar ao grande palco, e agora aparentemente vai ter a sua oportunidade, e espero que lhe corra bem.
— Ruben Amorim, tem perfil para 'manager' à inglesa?
—Lá está, também não consigo ter essa capacidade de vidente.
— Mas pelo trabalho desenvolvido no Sporting?
— Aquilo que me parece é que ele terá condições diferentes em Inglaterra daquilo que teve em Portugal. Ou seja, em Portugal eu não vou chamar zona de conforto, porque ele quando entrou no Sporting estava numa situação tudo menos confortável, portanto não vou cometer essa injustiça. Mas a verdade é que quando trabalhamos com alguém do qual somos amigos, é uma situação em termos pessoais bastante confortável. E essa confiança ele teve a sorte de se cruzar com ela, mas nada disso obviamente vai mitigar aquilo que foi a excelência do seu trabalho. Em Inglaterra vai ter uma situação diferente, ou seja, vai trabalhar com um diretor desportivo que chegou o ano passado, e também chegou com peso, porque foi recrutado ao Newcastle com funções bastante abrangentes [Dan Ashworth], houve a integração recente de um CEO [Omar Berrada] que vem do grupo City, a verdade é que ele também vai chegar porque foi procurado, porque chega com o estatuto de um dos treinadores europeus da moda. Portanto, obviamente vai ter o seu espaço, mas que terá que ser compaginável com aquilo que é a zona de atuação de outros atores.
— Outro que trabalhou consigo, Hugo Viana, vai para o Man. City. Vai ter sucesso?
—Espero que sim, até porque é bom que a função seja reconhecida internacionalmente, porque hoje em dia já temos o Tiago Pinto no Bornemouth, depois de ter estado na Roma, o Luís Campos que está no PSG, o Mário Branco no Fenerbahçe; o Antero [Henrique] que não está em clube mas está numa posição mais macro e é o responsável pela liga catari, que por muito periférica que seja, é uma liga importante onde há um fluxo de capitais importante que muitas vezes depois vem desaguar no mercado europeu, ou seja, há uma série de profissionais portugueses que vão sendo exportados, o que reflete que em Portugal também há esse conhecimento e há essa matéria-prima de qualidade.
—Trabalhou com Frederico Varandas no Sporting, que opinião guarda dele? Ele era médico na altura…
— Certo. Ele é promovido da equipa da sub-19 para a equipa principal em 2012/ 2013, ou 2011/2012. Um apaixonado pelo Sporting, ou seja, um adepto, confesso, alguém que também se preparou para este tipo de função, que até tem desempenhado em etapas diferentes, primeiro numa fase muito turbulenta que depois ele teve a faculdade de invertê-la, ou seja, inverteu o ciclo vicioso num ciclo virtuoso e que agora vai estar perante um desafio grande, porque tem a missão de continuar esta onda de sucesso com novos atores. E isso é sempre um desafio desafiante, mas que eu estou convencido que hoje em dia há uma preparação…
— O Sporting é o principal candidato ao título neste momento? Ou acha que esta mudança muda um pouco a agulha, por assim dizer?
—É óbvio que podem-se colocar questões pela saída do técnico e pelo conhecimento da saída no final da mesma por parte do diretor desportivo. A verdade é que há um trabalho consolidado por parte de um grupo de pessoas que já vai perto de meia dúzia de anos. Quando a concorrência, no caso do Benfica e do FC Porto, têm estruturas mais recentes, quer em termos técnicos, quer em termos diretivos, organizacionais, técnicos, a qualidade existe, mas precisa de ser consolidada com jogos, com trabalho, com tempo. É verdade que o futebol diz-nos que muitas vezes há casos de sucesso onde tudo começa a funcionar bem desde o primeiro dia. Ainda assim, a lógica não diz isso. Agora, o que se vai passar a partir do momento em que se concretize a saída de Rúben Amorim é uma incógnita. Os jogadores mantêm-se, há uma liderança que vai ser diferente. A forma como as pessoas vão reagir de um lado e do outro serão os jogos e o tempo a dizer isso mesmo.