Com onze a defender e onze a atacar, Portugal tem tudo para ser campeão
Roberto Martínez, Selecionador Nacional (IMAGO / NurPhoto)
Foto: IMAGO

Com onze a defender e onze a atacar, Portugal tem tudo para ser campeão

SELEÇÃO23.03.202409:31

Em Guimarães, a fasquia ficou muito alta. Aguarda-se a resposta a dar em Liubliana. Muito talento ficará fora da lista final para o Euro

Roberto Martínez tem por objetivo apresentar, no próximo dia 18 de junho, às 17 horas, em Leipzig, Alemanha, uma equipa capaz de vencer o Campeonato da Europa de Futebol de 2024. É a esse desiderato que está apontado o foco do selecionador nacional e, tanto os jogos de preparação realizados até lá, quanto os jogadores neles envolvidos, não passam de experiências que visam o projeto acabado que deve entrar no relvado da Red Bull Arena, em Leipzig.

CANDIDATOS

Portugal encontra-se no lote de equipas que podem vencer o Euro-2024, juntamente com a França, a Itália (detentora do título), a Espanha, a anfitriã Alemanha, e a Inglaterra - por sinal os países onde se disputam os melhores campeonatos de clubes da Europa, onde evoluem muitos dos jogadores da turma das Quinas. Todas estas seleções têm em comum o talento, todas já venceram grandes competições e todas elas sabem que, para subirem ao lugar mais alto do pódio após a final de Berlim, a 14 de julho, devem cumprir alguns requisitos: precisam de chegar à competição, que se realiza após uma temporada esgotante, em boa condição física; precisam de ser capazes de crescer como equipa à medida que a prova se desenvolve; só podem ter aspirações se tiverem um balneário coeso; e, last but not least, não lhes bastará terem excelentes jogadores em ótima condição física, que se deem muito bem e sejam solidários, pois é condição sine qua non que o equilíbrio entre os onze que estiverem em campo seja irrepreensível.

DETALHES

Cumpridos estes requisitos, há, ainda, que ganhar a batalha dos detalhes, nos quais, tantas vezes, se traça a linha entre a vitória e a derrota. E, para ilustrar esta tese, nada melhor do que pegar na final do Mundial do Catar: o resultado estava em 3-3 e faltavam 19 segundos para se esgotar o tempo de compensação do prolongamento do duelo entre França e Argentina, quando Kolo Muani surgiu isolado perante Emiliano Martinez, rematou forte e colocado e, já o galo da França cantava vitória, eis o guarda-redes argentino, com o pé esquerdo, a fazer a defesa mais importante da história dos Mundiais (a melhor foi de Gordon Banks, a uma cabeçada de Pelé, no Mundial do México, em 1970) e a levar tudo para a marca dos onze metros, onde os alvicelestes se sobrepuseram aos bleus. Esse detalhe, que nada teve a ver com tática, nem estratégia, nem condição física ou anímica, já que o remate de Kolo Muani foi irrepreensível, apenas detido pela defesa de uma vida, permitiu que a festa fosse feita em Buenos Aires e não em Paris, e que Messi, e não Mbappé, fosse consagrado como melhor jogador de 2023.

GUIMARÃES

Portugal, frente a uma Suécia recheada de grandes jogadores, foi sério na atitude com que encarou o jogo particular (com cada jogador a querer dar ao selecionador argumentos para ser escolhido) e, durante a maior parte do encontro, manteve-se coeso e equilibrado; ora, quando se colocam esses dois elementos numa equipa recheada de talento, o resultado só pode ser um bálsamo para a alma.

Com alas muito diferentes - enquanto na direita Nélson Semedo fazia o corredor e Bernardo Silva deambulava para zonas mais centrais, na esquerda Nuno Mendes e Rafael Leão mantiveram-se fiéis à linha lateral -, com um ponta-de-lança, Gonçalo Ramos, que, além de marcar golos, limita muito as saídas de bola do adversário, com um meio-campo de criatividade e responsabilidade defensiva totais, formado por Bruno Fernandes e Matheus Nunes, protegidos por uma muralha que dá pelo nome de João Palhinha, e com uma defesa serena e competente, foi possível atingir patamares exibicionais muito altos, apenas com o óbice de algum atabalhoamento, a rever urgentemente, em situações de início de jogada a partir do guarda-redes.

No segundo tempo, com as substituições (já agora, recorde-se que a tradição já não é o que era e, se num jogo oficial são possíveis cinco trocas, num particular são apenas seis, o que não é significativo), o início ainda manteve ritmo, mas depois, porque o resultado estava mais do que fechado, e também porque a saída da dupla Nuno Mendes/Rafael Leão fez-se sentir muito na equipa nacional, o nível foi baixando, a concentração defensiva também, Toti Gomes e Bruma não foram defensivamente competentes, e a Suécia arranjou espaço para se aproximar da baliza de Rui Patrício, marcando dois golos.

NOTAS ALTAS

Para quem foi boa a noite de Guimarães? Sem dúvida para Nélson Semedo (metido numa luta de laterais como não há memória entre nós), que não só defendeu bem, como soube combinar com o apoio mais próximo, normalmente Bernardo Silva, e ainda fez duas assistências de bandeja para os golos de Bruno Fernandes e Gonçalo Ramos (após passe extraordinário de António Silva); para Nuno Mendes, porque mostrou estar a regressar ao normal, o que é excelente; para Rafael Leão, que deixou gravado em Guimarães o que tem para dar, e a forma como pode dá-lo, à Seleção Nacional; para João Palhinha, que jogando a seis, sem ninguém ao lado, manda no espaço e dá-se ao jogo sem limites; para Gonçalo Ramos, essencial em qualquer equipa que queira fazer pressão alta; e para Matheus Nunes, que passou, novamente, a entrar na equação de Roberto Martínez.

LIUBLIANA

Na terça-feira, na Eslovénia, novos protagonistas sobem a palco, para outra sessão para Martínez ver. Sabem que a fasquia ficou muito alta em Guimarães e que a luta por um lugar nos escolhidos para o Euro-2024 será renhida (desconhece-se, ainda, o número exato de jogadores que podem ser inscritos na fase final). Como não há dúvidas quanto ao talento de nomes como os de João Cancelo, João Félix, Otávio, Danilo, Diogo Dalot, Vitinha, Rúben Neves e Cristiano Ronaldo, e como também não se duvida do seu compromisso com a equipa, a principal questão reside no desequilíbrio que podem provocar na estrutura. Mas isso depende deles. Peguemos nos exemplos de João Félix, um virtuoso, e Cristiano Ronaldo, que é quem é: o primeiro, ao longo dos anos, tem aprendido que saber defender é indissociável do sucesso ao mais alto nível; o segundo, no contexto presente, praticamente não faz trabalho defensivo, a não ser nas bolas paradas, no Al Nassr. É possível apresentar o futebol de Guimarães, sem um nove que defenda? Ou mesmo com quem jogue a partir da esquerda e não corra para trás, tapando o lateral? São estes os grandes dilemas com que Roberto Martínez irá debater-se, daqui em diante, e não são de somenos, porque não são conjunturais, mas sim estruturais. Não será o primeiro a tê-los, mas é muito provável que seja o último…

VÍDEO QUE PODE INTERESSAR: