Uma exibição-fantasma

OPINIÃO29.03.202107:00

Só um selecionador que não quer melindrar o melhor jogador pode fingir que nada viu

PORTUGAL vai qualificar-se fácil. É tão superior à Sérvia (e ao Azerbaijão e ao Luxemburgo, e a uma pobre Irlanda) que não será um golo-fantasma a colocá-lo em risco. Empatar em casa do maior rival está longe de ser mau resultado, mas há, claro, questão de princípio não respeitada: se a fase final tem tecnologias VAR e linha de golo também o apuramento as tem de ter. De resto, foi um erro grave, mas acontece. Aconteceu a Ronaldo e à seleção de Ronaldo, e daí o alarido por todo o mundo.
Não justifica é que algum jogador de qualquer equipa ou seleção possa abandonar o jogo antes de este acabar. Depois, também não dá razão a que se possa atirar a braçadeira para o chão. Não se trata da final do Mundial, e mesmo assim já seria condenável. Ronaldo será sempre um dos melhores da história, mas o estatuto que tem na Seleção exige responsabilidade. É um exemplo para milhões. Portugal já teve exemplos suficientes de indisciplina, basta lembrar o Euro-2000 e o Mundial 2002. Só um selecionador que não quer melindrar o melhor jogador pode fingir que nada viu.
Mais preocupante do que o não-golo ou a raiva do capitão foi a espécie de exibição-fantasma e o que esta perspetiva para um Europeu com França e Alemanha como adversários. O ataque viveu de movimentos sem bola de Jota (é mesmo especial!) e do tricotar de Bernardo Silva com esta. Continua sem absorver o impacto que Bruno Fernandes tem no Man. United e o que Félix poderia ter na criatividade que lhe falta (e também ao Atl. Madrid). Entretanto, numa defesa que contempla Nuno Mendes, prefere-se adaptar o melhor lateral-direito à esquerda, e o meio-campo assenta num 6 e num 6 e meio, seja Moutinho ou Sérgio Oliveira a desempenhar a função. Não há química, a equipa não joga bem.
O campeão europeu ainda está longe de se assumir como tal!