Um jogador para 15 minutos
A chamada de Pedro Neto à Seleção e algumas semelhanças com o caso de Éder em 2016
Tenho de definir o que é que preciso de um avançado: se levo um jogador que em alguns momentos vai ser importante quando eu precisar de pôr gente na área, como era aqui com a Bulgária, para despejar mais a bola; ou se não vale a pena levar um jogador deste tipo e então levo outro tipo de avançado... Esta pergunta tenho feito a mim várias vezes e até maio vou decidir
Fernando Santos, selecionador de Portugal, em março de 2016, sobre levar ou não Éder à fase final do Campeonato da Europa
O nome menos consensual da convocatória de Roberto Martínez para o Europeu é provavelmente o de Pedro Neto. Acho que parte disso é a falta de perceção do que pode fazer em campo – porque joga no Wolverhampton, que está longe de ser uma potência; por só ter feito três jogos na Liga Portuguesa, num total de 57 minutos, em 2017 e quando tinha 17 anos; ou por só ter seis internacionalizações, espalhadas por três anos e meio, e nunca ter estado numa fase final.
Mas quem vir com regularidade o Wolverhampton e o apanhe a jogar (o que nem sempre é fácil) perceberá que, não fossem as lesões, e seria há uns anos indiscutível na Seleção, mesmo que não no onze.
Só que também não podemos ignorar as lesões. Esta época fez apenas 24 jogos e não chegou aos 1800 minutos. Antes do anúncio da convocatória, tinha um jogo e 12 minutos nos dois meses anteriores. Dificilmente chegará ao Euro com 90 minutos nas pernas. Não faria sentido, então, chamar outro jogador?
Provavelmente, não. O outro jogador que fosse chamado (Ricardo Horta ou Pedro Gonçalves, por exemplo), realisticamente, faria quantos minutos no Europeu, com a fartura de opções que Martínez tem? Talvez 15? Bom, Pedro Neto tem 15 minutos nas pernas, até mais. E para jogar 15’ por jogo, é provável que acrescente mais, ou seja mais desequilibrador, que qualquer outra opção que o selecionador pudesse tomar.
Por motivos diferentes, a chamada faz lembrar a de Éder para o Euro-2016. Há oito anos escrevia, em março, que acreditava que Fernando Santos ia concluir que 15 minutos de Éder valeriam mais que 15 de Pizzi ou Varela, talvez melhores jogadores mas que não dariam nada de muito substancialmente diferente em relação a outros que tinham à frente, como Ronaldo, Nani, Quaresma ou Rafa. Ainda bem que assim foi.