Com o clube sob fogo de chumbo grosso — e não é de prever rápida sentença para este processo — ou os benfiquistas se unem em nome de um bem maior, ou terão vida ainda mais difícil…
O Benfica, num primeiro momento, reagiu à acusação do Ministério Público, que, grosso modo, pede a suspensão do clube das competições profissionais de futebol, por um prazo de seis meses a três anos, com uma comunicação obrigatória à CMVM. Seguir-se-ão muitos outros passos, a começar pelo pedido, por parte dos advogados dos encarnados, de abertura de instrução, e a Justiça seguirá o seu caminho, com os seus tempos próprios, como cumpre num Estado de Direito.
SAD acusada de crime de corrupção ativa e crime de oferta ou recebimento indevido de vantagem.
Em causa negócios com V. Setúbal. Vieira e Paulo Gonçalves também acusados. Rui Costa ilibado
No que respeita ao processo — neste como nos que já correram, com este ou outros clubes, recorde-se — muito será especulado, debatido, exaustivamente esmiuçado, com muito fumo e pouco fogo, mais parra que uva, mais ruído que substância. Será um debate absolutamente estéril do ponto de vista jurídico, que terá, porém, o condão de manter a atenção da opinião pública focada no assunto, servindo, por isso, um determinado propósito.
Tem 20 dias para fazê-lo; por agora fala de «acusações infundadas»
Não darei, como não dei noutros casos, com outras cores, para esse peditório, preferindo aguardar pelo resultado do caminho que a Justiça irá fazer, lembrando apenas que a procissão ainda está no adro. Acredito na Justiça e nas suas várias instâncias, verbero, é certo, a lentidão com que alguns processos são tratados, que levam a indesculpáveis prescrições, mas prefiro esperar pelo trânsito em julgado para perceber se há inocentes ou culpados.
Porém, há uma guerra em que o Benfica se encontra em tremenda desvantagem, dê o que der este processo: a da imagem. Estando nós perante uma matéria que deverá arrastar-se por um tempo razoável, está na rua, ao alcance de todos, através das redes sociais e em alguma opinião publicada ou falada, uma arma de arremesso temível, que não deixará de abalar a credibilidade do clube, dentro e fora de portas. Dessa batalha comunicacional que já está em marcha, desigual, porque no tribunal da opinião pública não é preciso fazer prova, nem há instâncias de recurso, o Benfica deve alinhar, desde já, uma estratégia de contenção de danos, jogando os trunfos que tem. E quais são esses trunfos? O primeiro e mais forte, o facto de «nenhum outro dos anteriores ou atuais membros do Conselho de Administração da Sociedade, incluindo o seu Presidente, ter sido acusado no âmbito deste processo.» O facto de o Ministério Público ter, expressamente, tirado Rui Costa deste filme, é uma carta que o Benfica precisa de usar, não só junto dos sócios, seguramente perplexos com o que está a acontecer, mas também — e não se trata de coisa menor — na interlocução com os patrocinadores, nomeadamente a Adidas e Emirates, dois pilares do clube.
Administradores da SAD à data dos factos e com assinaturas em contratos mas ilibados pelo MP. Depoimento de Luís Filipe Vieira importante na decisão
Mas há outro ponto fundamental, que o emblema da Luz — e aqui refiro-me aos membros dos Órgãos Sociais e aos movimentos organizados que têm mostrado o seu desagrado pelo rumo que o clube tem levado — deve observar, e que está inscrito como lema, desde 1904: «E Pluribus Unum», de todos, um. Nesta fase em que o Benfica está, ninguém duvide, debaixo de fogo pesado, se não se mantiver blindado aos ataques, corre o risco de, um dia destes, precisar de ser Fénix. E isto também é válido para os processos que se seguirem, caso venham a existir…