Jesus fechado numa redoma

OPINIÃO01.03.202106:00

Jesus tem discurso que quando as coisas correm mal é tóxico para quem o rodeia

CHAMA-SE controlo de danos. É só aquilo que Benfica pode fazer. Só que ao mesmo tempo que tenta evitar declarações que se tornem combustível para a crítica e acentuem a pressão na luta pelo único objetivo que salvará realmente a época e salvaguardará o futuro imediato dos encarnados - a entrada na Liga dos Campeões - o resguardar de Jorge Jesus, na redoma do ambiente controlado do canal do clube, seja qual for a desculpa, também confirma o reconhecimento (tardio) do problema. Vieira desapareceu, esse sim por completo e durante meses após as eleições, e não deverá faltar quem o acuse de não dar a cara e de falhar no assumir das responsabilidades.
O mal está feito há muito. Não deixa de ser curioso que numa época em que os jogadores são controlados ao limite por clubes e federações, seja um treinador (experiente e maduro) a bomba-relógio (conhecida há demasiado tempo) que ainda inflama mais a crise dos encarnados. Jesus tem um discurso que, quando se alia a resultados positivos, é minimamente suportável, mas que, a partir do momento em que as coisas correm mal, se torna tóxico para quem o rodeia. É verdade que as raízes mais populares do Benfica podem levar uns a considerar que alguém com o perfil de JJ seja aceitável, contudo a grandeza do mesmo deveria ao mesmo tempo ter obrigado os dirigentes a serem mais seletivos, ainda para mais numa segunda passagem. O problema não é de hoje, nem só por si obriga a decisões drásticas, mas sublinha a outra dimensão de um técnico que não pode nunca ser desvalorizada: a comunicacional.
 

P.S. O clássico deu num nulo previsível - face ao encaixe tático -, justo e que encurta a distância do Sporting até ao título. A solidez do leão continua a impressionar, mesmo naquele que, para muitos, era o jogo do título.