Bruno Lage: 'Back to the future II'
Bruno Lage assume o Benfica fragilizado (Foto Miguel Nunes)

OPINIÃO Bruno Lage: 'Back to the future II'

OPINIÃO08.09.202408:00

'Mercado de valores' é um espaço de opinião semanal de Diogo Luís

Estamos apenas na quarta jornada, com 90 pontos por disputar. Por norma, após o fecho de mercado, os clubes respiram de alívio por nenhum tubarão ter vindo fazer um raide à última hora. Ao contrário do que seria de esperar, no caso do Benfica, este período está a ser muito conturbado, com tomadas de decisão importantes e difíceis, que deveriam ter sido concretizadas mais cedo, não fosse a fezada do seu presidente.

Saída de Roger Schmidt

O despedimento de Schmidt era um fim anunciado. Quem analisava a equipa de Benfica percebia que não havia evolução na forma como jogava. A equipa não estava mecanizada ou automatizada e Schmidt nunca foi capaz de criar variabilidade no seu jogo, pelo contrário, forçou sempre a mesma forma de jogar. No último ano, foi muito pela qualidade individual que o Benfica foi conseguindo vencer os seus jogos. Analisando isto, por que motivo Rui Costa não despediu Roger Schmidt? Encontro três justificações. A primeira, foi porque, conforme Rui Costa tantas vezes mencionou, Schmidt era a cara do seu projeto desportivo.

A segunda, porque como todas as decisões acabam por ter as devidas consequências (boas ou más), a renovação do treinador alemão por valores estratosféricos, acaba por dificultar uma tomada de decisão. A terceira e, em minha opinião a que me deixa mais perplexo, foi a justificação que o presidente encarnado deu na conferência de imprensa, quando referiu que acreditava muito mais que Schmidt repetisse o seu primeiro ano e não o segundo! De uma forma pragmática, esta justificação não tinha por trás dados, factos ou sinais de que as coisas podiam melhorar.

O que levou Rui Costa a adiar o inadiável foi uma fé que tudo iria voltar a ser igual ao primeiro ano. Por fim e para fechar o capítulo Schmidt, não deixa de ser incrível que esta rescisão entre no lote das maiores de sempre, no que se refere a rescisões de treinadores. Acontece é que todas as outras sucederam em Inglaterra, o que demonstra na perfeição a forma como o Benfica saltou para fora de pé nos valores envolvidos na renovação do treinador alemão. 

Bruno Lage - Parte II

Tendo em conta o atual contexto que o Benfica está a atravessar, qualquer que fosse o treinador escolhido por Rui Costa seria um enorme risco. Analisando as várias movimentações que se tornaram publicas, percebemos que o racional da escolha não esteve num perfil identificado e que fosse ao encontro do que a SAD pretendia para o seu futebol. Sustento esta minha afirmação no facto de Leonardo Jardim ou Lage não terem características similares.

Como tal, muito mais do que analisar um perfil, a opção iria sempre recair sobre um nome que os responsáveis encarnados acreditariam que fosse capaz, pelas suas competências, de dar a volta aos acontecimentos. Neste caso, o projeto voltará a ser o treinador e não algo perfeitamente delineado e preparado.

Também me parece obvio, sem estar a menosprezar Bruno Lage, pelo contrário, que o técnico setubalense foi a solução possível. Por que refiro isto? Porque, tendo em conta o momento que o Benfica está a atravessar, qual o treinador que quer arriscar a entrar numa estrutura que demonstra desunião e num clube que está sem rumo? E se for alguém com estatuto, para aceitar esta função, quanto é que pediria de salário?  Bruno Lage acabou por se enquadrar nestas duas vertentes: quer relançar a carreira e tem um salário inferior a outros nomes com maior curriculum.

A oportunidade de Lage

Bruno Lage teve um arranque incrível na sua primeira época ao leme da equipa principal do Benfica, à semelhança de Roger Schmidt. A segunda época foi mais complicada e difícil. Com o covid pelo meio, não teve a capacidade e perceção de que deveria criar novas variantes no seu jogo, acabando por se tornar previsível e por perder um título que estava nas suas mãos.

Após o Benfica, teve duas experiências no exterior. No Wolverhampton, onde fez um grande primeiro ano ficando a um ponto do oitavo classificado. O segundo ano foi novamente complicado, embora tenha sido penalizado pelo desinvestimento que a equipa inglesa começou a fazer. Seguiu-se uma passagem pelo Botafogo onde as coisas não correram bem, com resultados e exibições que deixaram a desejar.

A realidade é que após Bruno Lage sair as coisas não melhoraram. Contudo, parece-me que o caminho que deu à sua carreira a seguir à experiencia no Benfica não foi o melhor. O trajeto de um treinador também tem muito a ver com a capacidade de escolher projetos que tenham alicerces e que permitam demonstrar o seu trabalho.

Aqui chegados, Bruno Lage volta a entrar num projeto escorregadio, com a ausência de uma estrutura e sob o comando da uma das pessoas que participou na decisão do seu despedimento em 2020 e o deixou desamparado. Será que desta vai ser diferente? Ironia das ironias, Lage regressa à luz precisamente no ano que o seu contrato estaria a terminar, caso não tivesse sido despedido.

Se nos focarmos exclusivamente em Lage, este tem características que fazem sentido no momento atual: conhece a realidade do Benfica (interna e externa) e a realidade da liga portuguesa; Tem conhecimento do plantel encarnado; sabe que terá de adaptar novos jogadores acabados de chegar a uma nova forma de jogar e a uma realidade diferente; em função da enorme rotatividade do plantel encarnado, não existem  muitas referências no balneário, o que dificulta a sua missão; tem de entrar na cabeça dos jogadores, algo que no passado demonstrou que consegue fazer; a comunicação interna e externa tem de ser clara e objetiva; sabe falar do jogo, sabe treinar e preocupa-se em analisar os adversários.

Fica a dúvida se conseguirá gerir os egos de um plantel que tem demasiadas soluções em algumas posições e escassez em outras, sendo ainda fundamental deixar os estatutos de lado. Por fim, será interessante perceber se vai ser Bruno Lage a adaptar-se aos jogadores ou se este vai implementar o seu sistema e terão de ser os jogadores a adaptarem-se a ele.

Numa primeira fase e sem muito tempo para trabalhar, parece-me que o que faz sentido será colocar os jogadores nos locais certos e deixá-los confortáveis em campo, algo que com Roger Schmidt não acontecia. Independentemente da instabilidade que existe atualmente, Lage ao aceitar este desafio aceita as condições impostas. Como em tudo, o sucesso irá relança-lo e o insucesso irá enfraquece-lo.

A valorizar

Ronaldo
Chegar aos 900 golos é algo inacreditável!

A desvalorizar

Deschamps
Não consegue potenciar a qualidade individual da seleção francesa, nem em exibições nem em resultados.