Benfica: isto tem tudo para acabar mal...

OPINIÃO06.09.202410:00

A julgar pela pré-temporada, o Benfica já era campeão: tinha o melhor avançado, ganhava a todos e era só começar a Liga. Mais uma vez, a frase de Jorge Jesus: isto não é como começa, é como acaba. E tem muito para acabar mal...

«Isto não é como começa, é como acaba.»

A frase popularizada por Jorge Jesus serve para constatar um padrão que nos últimos anos tem sido norma no Benfica: os treinadores chegam, ganham e são idolatrados, depois perdem e são escorraçados. O último foi Roger Schmidt.

O alemão chegou em maio de 2022 com juras de amor: «Quem ama o futebol ama o Benfica.» Desde logo conquistou os adeptos. Que frase genial, como é que ninguém no clube se tinha lembrado dela, foi preciso chegar um alemão para resumir tão bem um sentimento — e até cachecóis se produziram com o lema.

A bola começou a rolar e a rolar continuou o casamento perfeito: um treinador espetacular, com uma equipa espetacular, a jogar um futebol espetacular, num clube espetacular. E o Benfica foi campeão. Rui Costa não teve dúvidas em renovar-lhe o contrato: à boleia da alcunha de novo Eriksson consolidou a sua liderança, desde o início frágil, mas que se sustentou com o título de 2022/2023. Mas de um ano para o outro, o treinador deixou de ser espetacular, a equipa também, o futebol igualmente. E a liderança de Rui Costa passou a frágil outra vez, muito frágil. Mas não apenas pelos resultados no futebol, porque esses até podem segurar no imediato mas são os alicerces que, nas crises, aguentam o edifício e este da Luz não tem construção antissísmica. A necessidade de vender em fase adiantada do mercado denota que as contas não se recomendam; as saídas de jogadores só porque são assobiados denotam falta de pulso na liderança; a debandada de elementos da estrutura denota que algo vai mal no reino da águia.

Schmidt foi escolha cuidada de Rui Costa, foi o projeto vencedor no futebol que lhe deu mar calmo para navegar. Foi também Rui Costa quem aguentou o treinador de uma época para a outra quando os sinais de alarme já eram grandes e foi ele quem o despediu mais tarde do que cedo já como a época em andamento. Por convicção, certamente, preparou a época com o alemão, por convicção o deixou cair com o barco já a navegar em águas que se agitaram outra vez. O problema é que até pode parecer não ter sido por convicção, antes por… fezada. Que a escolha de Bruno Lage não tenha sido apenas por… fezada. Não pode ter sido só por imaginar que o treinador pode fazer o mesmo que fez em 2019, quando chegou em janeiro para recuperar sete pontos de atraso do FC Porto e ser campeão. É que, antes de Schmidt — e foi assim com Jorge Jesus e Rui Vitória que venceram, só, três campeonatos — também Lage foi escorraçado quando chegou o fracasso. E os regressos a casa (veja-se Jesus) não costumam correr bem. E se Lage não correr bem, Rui Costa pode cair com ele.

Voltando a Schmidt, não basta também dizer que se estava mesmo a ver o que ia acontecer, que o alemão devia ter saído no final da época. É que a julgar pela pré-temporada, o Benfica já era campeão: tinha o melhor avançado de todos, ganhava a todos e era só começar o campeonato para se voltar a ver o futebol avassalador de outros tempos. Mais uma vez, a frase de Jorge Jesus: isto não é como começa, é como acaba. E tem muito para acabar mal...