Sete minutos resumem a superação de sete anos (crónica)
João Mendes (autor do 1-0) comemora com Nélson Oliveira (autor da assistência). Foto: Hugo Delgado/LUSA

SC Braga-V. Guimarães, 0-2 Sete minutos resumem a superação de sete anos (crónica)

NACIONAL15.09.202423:24

V. Guimarães não vencia em Braga desde 2017. Primeira parte de bocejo, segundo tempo cheio de incidências. Dois golos e expulsão entre os 52' e os 59'. Vimaranenses mantém-se colados ao FC Porto

Foram 45 minutos para enganar. Seria mau demais que o melhor dérbi regional do futebol português se limitasse a taticismos e a um jogo de espelhos, em que à exceção de um remate ao ferro de Nélson Oliveira nos primeiros segundos da partida a primeira parte no Municipal de Braga fosse um bocejo maior que a distância que separa as duas cidades.

Talvez fosse do habitual adormecimento que marca o regresso das atividades dos clubes após a pausa para as seleções ou uma estratégia de parte a parte de esperar para ver. Para quem via, do lado de fora, era um tédio e a única boa notícia quando Luís Godinho apitou para o intervalo era que pior não poderia ocorrer na segunda parte.

Treinadores e jogadores terão percebido que era preciso dar mais, arriscar mais, até porque o conservadorismo não é o traço de Carvalhal e Rui Borges e o facto de SC Braga e V. Guimarães serem as duas equipas nacionais que acumulam mais jogos em Portugal por causa das pré-eliminatórias das competições europeias não servia de desculpa.

Foram precisos seis minutos após o regresso das cabinas para dar-se o início de um segundo jogo: aos 51' Gabri Martínez isolou-se perante Bruno Varela mas permitiu que o guarda-redes vimaranense travasse a bola com a mancha à guarda-redes de hóquei em patins. E na jogada de resposta o rival chegou ao 1-0 num lance que reflete os méritos e deméritos de cada equipa: a capacidade de o Vitória envolver mais os seus médios e avançados na construção e a passividade dos bracarenses nas marcações.

Detalhando: mesmo nos momentos de equilíbrio houve sempre melhor desdobramento e dinâmica dos três médios Tiago Silva, Handel e Nuno Santos e ótima comunicação com o trio da frente, em particular Nélson Oliveira (assistência) e João Mendes (conclusão), demolidores cada um ao seu estilo.

Um contraste com o meio-campo bracarense demasiado estático, incapaz de produzir a mesma qualidade de ligações do adversário. André Horta e Vítor Carvalho viram-se muitas vezes em inferioridade numérica nos momentos de transição defensiva, Zalazar foi um falso ala que nem deu profundidade ao flanco direito nem forneceu os apoios certos para fazer as compensações na tal luta a três, Gabri Martínez destacou-se mais no apoio defensivo e o ponta de lança El Ouazzani foi a maior parte do tempo um corpo estranho, demasiado desapoiado.

Do ponto de vista mental também se notaram diferenças: a expulsão de Arrey-Mbi por agressão a Nélson Oliveira (já andavam picados), aos 56', mostrou uma equipa mais nervosa e a verdade é que a sorte também esteve ao lado do Vitória: Tomás Ribeiro, que havia entrado ao intervalo para o lugar do lesionado Mikel Villanueva, fez o 2-0 (59')num cabeceamento espetacular perante a passividade da defesa, após canto.

Foram sete minutos de verdadeiro terror do SC Braga e de puro brilhantismo do V. Guimarães, que volta ali a vencer, para a Liga, sete anos depois, e se mantém colado ao FC Porto no segundo lugar.