Tudo o que disse Bruno Lage na apresentação como novo treinador do Benfica

NACIONAL05.09.202420:17

Treinador de 48 anos prometeu trabalho e futebol atrativo que reconquiste os adeptos

Bruno Lage foi apresentado esta quinta-feira como novo treinador do Benfica e, com Rui Costa ao seu lado na conferência de imprensa, prometeu aos adeptos muito trabalho, compromisso e um futebol atrativo que reconquiste os adeptos.

— Que futebol quer que a sua equipa pratique?

— Quero um futebol que os adeptos gostem de ver e que já viram durante largos anos, não só comigo, viram o Benfica jogar um futebol ofensivo, dinâmico, divertido, fundamentalmente um futebol que puxe pela bancada, é o que queremos. Conversámos sobre isso, o meu primeiro jogo foi muito isso, a paixão que se viveu entre o que era a paixão dos adeptos e o apoio que deram aos jogadores. Estávamos a perder o jogo e foi a partir dessa união entre adeptos e jogadores que se deu a reconquista. É por aí que temos de começar. Um futebol atrativo com golos e a conquistar os adeptos.

— Quatro anos depois, que treinador é hoje e o que podemos esperar de Bruno Lage? Que mensagem deixa aos adeptos?

— O nosso caminho é de aprendizagem, todas as últimas experiências que tive foram assim. É assim que um treinador como eu, que começou a treinar meninos aqui, pode chegar depois a esta posição. Alguém com energia positiva e com vontade de fazer um bom trabalho, tirando o maior partido de todos. Da estrutura e da qualidade que temos no nosso plantel. A mensagem para os adeptos? Há pouco tempo tive oportunidade de falar com colegas vossos [jornalistas] sobre o que foi a minha primeira passagem no Benfica, fiquei com a sensação que a história não podia acabar daquela maneira e quis o destino que, ao dia de hoje, na situação que o Benfica vive, eu pudesse estar disponível para regressar a esta casa. Sinto uma vontade enorme de trazer o sentimento de ser benfiquista, é o que sinto quando estou a falar com as pessoas. Que não conseguem descrever o que é ser Benfica, mas conseguem sentir. Quase como o sistema nervoso que percorre o nosso corpo. É essa chama que temos de trazer para cá e dar energia positiva aos jogadores. Independentemente do momento, é pelo Benfica que temos de nos unir para voltarmos a fazer um trabalho que vai ser diário, de muito sacrifício, mas acredito que, com a união de todos, podemos chegar ao fim com sucesso.

— Consegue prometer que a equipa vai jogar o dobro do que tem apresentado? E depois, há também desconfiança dos adeptos em relação a si, não é um nome consensual, eu pergunto-me se gostava de usar a mesma expressão que Rúben Amorim utilizou quando chegou ao Sporting, ‘e se corre bem’?

— Olha, você já me conhece, eu sou muito genuíno, nós temos de olhar para pessoas de sucesso e aprender com elas, mas eu gosto de olhar para aquilo que tenho vindo sempre a fazer e partir de mim. Vou-lhe dizer o que sinto desde a primeira hora e o que senti quando o presidente falou comigo, uma vontade enorme de me trazer e eu com uma vontade enorme de vir trabalhar para a minha casa. Eu sinto-me em casa, estou em casa. Não tenham dúvidas nenhumas daquilo que eu vou fazer e da dedicação que eu coloco no meu trabalho, e no meu profissionalismo que é para fazer crescer a equipa de acordo com a forma como os adeptos gostam de a ver jogar.

— Perguntava-lhe primeiro se, na conversa que teve com o presidente, ficaram objetivos mínimos definidos e quais são para esta temporada e para o futuro? Depois, tendo em conta também o que mudou ao longo dos últimos anos e da experiência que foi ganhando, o Bruno Lage de hoje fazia alguma coisa diferente do que fez, para tentar mudar o desfecho da última passagem pelo Benfica?

— A conversa com o presidente foi muito clara, muito objetiva e há coisas que estão inerentes à grandeza do Benfica. Nós temos de olhar para aquilo que é o nosso caminho, que nós temos de fazer nos próximos nove meses. O primeiro passo é já o treino de amanhã e depois o jogo que temos de preparar com o Santa Clara. Por isso, está mais que evidente aquilo que são os nossos objetivos. O passado recente tem-nos dito que a desvantagem pontual que temos para o primeiro não é significativa, é possível recuperar e além do campeonato, temos várias competições em que temos objetivos definidos em função da grandeza do Benfica. O segundo ponto, eu não penso muito no passado nem olho muito para trás. Hoje o Bruno Lage é diferente. O presidente falou da maneira como eu saí daqui, do último dia em que saí daqui e, três anos e meio depois, eu hoje já chego com cabelos brancos e estes cabelos brancos ajudam a ver as coisas à distância com outra clareza e até mesmo de uma forma emocional completamente diferente. Se eu, a pessoa e o homem e o treinador que sou hoje olhasse para trás e não entendesse que em determinado momento podia ter feito as coisas de outra maneira, o meu caminho de aprendizagem não tinha sido este. Mas não é isso que se faz, é naquele momento e é naquela situação. Por isso, as ações ficam e nós temos de olhar para elas, aprender e fazer um caminho de sucesso.

— Podíamos querer aqui falar se é o Bruno Lage que venceu, se é o Bruno Lage que perdeu, que está de volta. Eu gostava de falar de outro Bruno Lage e de uma das frases que marcou a outra vinda para o Benfica. O que eu quero saber é, quando isto tudo acabar e voltar para casa, o Jaime ainda hoje vai estar a ver o canal Panda ou as mensagens já não são mais do Super Wings?

— Eu já nem posso dizer o que é que eles com nove anos veem. O mais importante sobre a minha família, que já são dois, que é o Jaime e o Manuel, é que… vocês metem-me a falar dos meus filhos, eu vou sair para o tapete [Bruno Lage emocionou-se]. Eu saí de casa, dei-lhes a informação, o pequeno ainda não sabe o que é o Benfica, perguntou-me até se podia vir para o Benfica, comecei a vestir o fato e a gravata, ele anda no colégio de fato e gravata e também se começou a vestir de fato e gravata, pensava que vinha para alguma festa. O grande já sabe e aquilo que eu lhe disse é para que ele tenha orgulho no pai. E é isso que eu quero que ele, que é um grande benfiquista, como a mãe que também é uma grande benfiquista e como os benfiquistas, que tenham orgulho em mim e do trabalho que eu vou fazer aqui. Quem regressa é alguém com vontade de vencer. Porque, diga-me um treinador que não ganhou e que não perdeu nos últimos 20 anos, quer do Benfica, do FC Porto ou do Sporting. Talvez muitos perderam e não ganharam, outros ganharam e perderam, se nós até formos à média de anos de títulos, de títulos conquistados e anos em que nunca conquistou os títulos, se calhar a média do Bruno Lage é muito semelhante aos últimos 20 anos dos vários treinadores. Por isso, o mais importante de olhar para o passado, além do 37, que me enche de orgulho, que está no museu, que o meu filho há-de querer um dia visitar, mas eu nunca quis interferir com a vida diária do Benfica, e por isso é que eu nunca o levei ao Museu do Benfica, mas aquilo que é fundamental é nós olharmos para o futuro e olharmos para aquilo que nós podemos fazer para conquistar mais um título ou mais títulos a este grande clube.

— Queria-lhe perguntar muito concretamente se o objetivo que lhe foi colocado pela estrutura do Benfica é ser campeão e se pode prometer isso aos adeptos que vão tentar recuperar esta desvantagem?

— É isso que eu prometo. É ganhar e jogar bem. E muito trabalho. É isso que eu prometo. E é isso que nós vamos fazer. Desculpe interrompê-lo, mas é para você sentir a energia com que eu chego.

— E queria saber qual é a sua apreciação que faz do plantel, se lhe dá garantias, já que não foi o Bruno Lage que o montou nem foi escolhido pelo Bruno Lage?

— Se você for recordar durante as várias conferências que tive a oportunidade de conversar convosco a minha ideia de plantel foi sempre um plantel curto, competitivo e equilibrado. Curto no sentido de ter dois atletas por posição e equilibrado que me desse a hipótese de poder jogar de várias maneiras, ou seja, olhar para o plantel e quer antes dos jogos ou quer durante o jogo poder alterar o sistema ou a própria dinâmica em função das características do plantel e ser competitivo internamente e competitivo fora. Eu quando olho para este plantel, vejo o plantel construído dessa maneira. Jogadores competitivos, um plantel curto que me permita trabalhar e um plantel que é competitivo internamente e isso é a maior garantia de evolução e de trabalho diário dos nossos atletas, eles sentirem que não há lugares garantidos, que têm de trabalhar diariamente para conquistar o seu espaço e que também me permita ter soluções em função daquilo que é o calendário, de 3 em 3 dias nós estamos a jogar. Olhando para isso, eu acho que se fez um excelente trabalho na construção do plantel.

— Pedia que nos revelasse quando é que recebeu o convite para regressar e se demorou muito tempo a dar uma resposta e pergunto-lhe também, tendo em conta o momento de instabilidade que se vive no clube, se sente que tem o destino de a Rui Costa nas suas mãos?

— Quando e como não é importante. Se calhar posso-lhe dizer que as coisas não aconteceram de imediato porque os meus agentes não estão neste momento no país e há determinadas conversas que não passam por mim e passam por eles e por isso atrasámo-nos, mas eu fiz tanta questão que acontecesse hoje, quer eu, quer o presidente, para marcar este início de amanhã com a equipa e celebrar da melhor forma aquilo que eu acho que são 20 anos desde que aqui cheguei para treinar os meninos de 10 anos. A coisa mais importante do Benfica é o futebol profissional, não nos podemos esconder disso. No entanto, o mundo e o universo da Benfica é enorme e o presidente tem feito o seu trabalho de dar continuidade a um projeto que iniciou há muito tempo para continuar a trazer títulos e grandezas para a Benfica. Se nós formos às histórias recentes dos presidentes, se calhar nem todos começaram da melhor maneira. O presidente começou logo com um título e com uma época de sucesso. Por isso, o caminho faz-se caminhando, aquilo que eu desejo ao meu presidente é aquilo que ele deseja também para mim porque, além de termos relação de presidente e de treinador principal, já tivemos a relação de diretor da formação e treinador de iniciados que, 20 anos sem ganhar um título, ganhámos; já tivemos a relação de diretor desportivo e treinador da equipa principal e vencemos um título e, agora, temos esta relação de presidente e treinador e o que eu desejo é que quando se olhar para a carreira do nosso presidente, daqui a 20 anos, que se olhe para uma carreira de sucesso à imagem do jogador que foi.

Queria perguntar-lhe como é que viu, como benfiquista, as saídas de João Neves, David Neres e Marcos Leonardo?

— Como vi? Qual é o clube que, nos últimos anos tem conseguido manter no quadro os seus melhores atletas? O mais importante é que, independentemente das saídas, possamos olhar para o plantel e sentirmos que o plantel foi feito, está ajustado e é competitivo para aquilo que se avizinha. O Neres e o Marcos Leonardo eu não os conheço, assim como não conheço o João Neves, mas quando se vê um atleta a deixar a casa é sempre um motivo de nós também nos sentirmos realizados, no bom sentido, pelo trabalho que tem sido feito na formação, na forma como os jogadores chegam à equipa principal. Depois, por muito fácil que seja desse lado analisar as coisas de um modo ‘sim ou não’, o que acontece deste lado, quando chega a proposta ao clube e a proposta ao jogador, há decisões que têm de ser tomadas. Eu não estava cá, não lhe posso dizer o que é que se passou, mas já vi muitos jogadores a darem esse passo e isso também é forma de como o Benfica tem trabalhado. Saiu o João Félix com o título e saiu o João Neves com o título e o nosso trabalho e o meu, porque tenho de olhar para a formação, é nós estarmos sempre a olhar e perceber se temos homens e jogadores como o Rúben Dias, como o João Félix, como o Ferro, como o Tino, como o João Neves, como o Renato Sanches, para defender as cores do Benfica.

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