A transparência como motor de mudança

'Mercado de valores', a opinião semanal de Diogo Luís

André Villas-Boas venceu de uma forma contundente as eleições do FC Porto. Durante a campanha foi alvo de inúmeros ataques pessoais. A falta de experiência foi um dos pontos que foi mais abordado pelos que estavam no poder, como se ter experiência, ou melhor, anos de administração, fosse uma mais-valia. Hoje percebemos a demagogia que estava por trás dessas palavras.

O que mudou em três meses

Ao fim de apenas três meses, todos percebemos que o FC Porto mudou. Cortou com o passado, cortou com os vícios e ganhou luz. Não deixa de ser incrível a forma como André Villas-Boas e a sua equipa estão a conseguir mudar a filosofia, a forma de estar, o posicionamento e a imagem do clube em tão pouco tempo. Todos sabemos que o FC Porto está, financeiramente, a atravessar uma fase muito complicada. A herança (de quem tinha muitos anos de experiência) é muito pesada. Sabendo de tudo isto, a estratégia do novo presidente e da sua equipa passa por reforçar os verdadeiros valores do desporto e do clube. Ao contrário do que queriam fazer passar, o Porto continua fiel à sua filosofia, com a garra e determinação que caracterizam o clube. A tudo isto está a acrescentar organização, disciplina, democracia, inovação, modernização e visão. O mais interessante é que tudo isto tem vindo a ser feito de uma forma tranquila, sem grandes alaridos. Muito mais do que dizer palavras fortes, Villas-Boas está a agir e a apontar o caminho. Em três meses o FC Porto é um clube que se aproximou dos seus adeptos e dos seus sócios, sem perder a competitividade que o caracteriza. Exemplo disto mesmo é o aumento de número de sócios que, neste momento, já ultrapassam os 140 mil. A missão era, e continua a ser, muito difícil. A queda do negócio de Galeno irá obrigar a administração a procurar novas soluções para a liquidez de curto prazo. Apesar de todas estas dificuldades, a realidade é que a mensagem que Villas-Boas e a sua equipa passam para fora é de credibilidade, organização e disciplina. O mais interessante é que todas estas características estão presentes na forma de agir da administração e que é transversal a toda a organização. Basta analisar a forma como o futebol está a ser organizado ou como, com apenas um mês a exercer funções, conseguiu fazer um bom mercado, encontrar um treinador competente, com qualidade e que tem a capacidade de ter uma comunicação que se enquadra na visão atual do clube. 

Portal da transparência

O portal da transparência foi uma medida anunciada por Villas-Boas na campanha eleitoral. Muitos pensaram que se tratava de uma medida populista, em função da obscuridade que caracterizava a anterior administração. Ao fim de três meses o portal está em funcionamento, com informações detalhadas sobre os mais variados temas. Desde comissões a orçamentos das modalidades ou protocolos com as claques, existe muita informação que pode ser consultada de uma forma clara e que, mais uma vez, reforça a transparência e credibilidade. O meu destaque não vai só para a informação que está disponível neste portal. O que destaco é a forma como, em equipa, em apenas três meses, a atual administração conseguiu planear, organizar e concretizar a pré-época do seu principal ativo — a equipa de futebol—, conseguiu mudar por completo a forma como comunica com os adeptos do clube e do futebol em geral, conseguiu atrair inúmeros novos sócios, conseguiu criar um portal completo e atualizá-lo de uma forma célere e transparente e, em simultâneo, conseguiu trazer a calma necessária para que todos, em conjunto, possam fazer o seu trabalho. Ainda neste ponto da transparência, acredito que André Villas-Boas e a sua equipa irão concretizar uma auditoria séria e independente. Este item já está destacado no Portal da Transparência. Toco neste ponto porque todos sabemos que muita coisa estranha se passava no FC Porto e que ficou por explicar. A grande dúvida que tenho é se esta auditoria servirá apenas para explicar os motivos que fizeram a FC Porto SAD chegar à difícil situação que atravessa ou se esta auditoria servirá para verificar se houve situações ilegais dentro do FC Porto e se as mesmas serão alvo de responsabilização judicial. 

Comunicar para valorizar

Outra das grandes mudanças na nova gestão de André Villas-Boas é a sua comunicação. A estratégia comunicacional da anterior administração era tóxica. Focava-se em perseguir quem criticava o seu modus operandi. Em vez de se aproximar dos adeptos, a estratégia da administração anterior focava-se na perseguição, muitas vezes através do insulto, a quem a criticava. Essa forma de estar criava um ambiente pesado, que promovia a paixão pelo ódio. Todos os que tinham uma opinião diferente eram considerados inimigos e eram atacados, de várias formas. Acredito que esta estratégia tenha sido responsável por gastar muitos recursos do clube/SAD que deveriam ter sido utilizados de uma forma diferente. De uma forma propositada apareceram personagens tóxicas que tinham como missão identificar alvos, de forma a tentar condicionar as suas opiniões e manter o status quo. A nova administração rompeu com tudo isto. Apresenta uma comunicação para os sócios, pela positiva, incentivando a presença de todos no dia-a-dia. O aumento do número de sócios pode ser o primeiro reflexo desta frescura, credibilidade e organização que Villas-Boas trouxe para o Porto.

Rui Costa envergonhado?

Não posso deixar de comparar estes primeiros três de meses de Villas-Boas com os primeiros três anos de Rui Costa no Benfica. Villas-Boas cortou com o passado, Rui Costa promoveu-o. Villas-Boas trouxe união, transparência, organização e credibilidade, Rui Costa manteve a opacidade, as más práticas e permitiu a desunião interna. André Villas-Boas foca-se na sua missão e no que pode controlar. O exemplo mais claro é a forma como os dois olham para os orçamentos das modalidades. Rui Costa, na última assembleia, disse que não divulgava o orçamento das modalidades para não dar trunfos aos adversários. Villas-Boas detalha todos os orçamentos de cada uma das modalidades do clube. Para Villas-Boas o importante não é saber se os outros têm maior ou menor orçamento. O fundamental é potenciar o que tem à disposição e permitir que os seus associados saibam com o que podem contar de uma forma clara e direta. Ao fim de três meses todos percebemos que a transparência será o motor da mudança do novo FC Porto.