Algo de estranho se passa...

OPINIÃO18.07.202206:30

Nada do que tem acontecido para os lados do Dragão aconteceria nos anos dourados de Pinto da Costa.

A LGO de estranho se passa no longo e até há pouco tempo incontestado reinado de Pinto da Costa no FC Porto. Não, nem vale a pena ir pelo facto de até o líder da principal claque do clube, que por todas as razões e mais algumas devia ter um comportamento bem mais recatado, se sentir no direito de comentar quase todos os assuntos relativos ao clube, sempre numa tentativa (coordenada ou não) de defender quem pelos seus interesses zela há dezenas de anos - e que parece incapaz de perceber que quase sempre agrava ainda mais os problemas de quem tanto quer defender. O facto de Fernando Madureira funcionar, por estes dias, quase como um advogado de defesa de Pinto da Costa é curioso e até sintomático de que algo de estranho se passa, efetivamente, no reino do Dragão, mas não é o principal problema do FC Porto. Antes fosse.

Do que quero falar nestas linhas é do problema que a SAD do FC Porto parece enfrentar, de há alguns anos a esta parte, para segurar os seus principais ativos. As dificuldades não são de agora e basta recordar apenas os casos mais recentes: Herrera, Brahimi, Marega, Mbemba saíram a custo zero e Corona foi como se a custo zero tivesse saído. Se a isso juntarmos Luis Díaz - à data de muito longe o melhor jogador do campeonato - vendido ao Liverpool por 45 milhões de euros ou Vitinha - um dos mais promissores jovens jogadores portugueses - que saiu para o PSG por uma cláusula de rescisão reconhecidamente baixa de 40 milhões de euros facilmente percebemos que há muito a sociedade desportiva liderada por Pinto da Costa perdeu a capacidade negocial que a caracterizava. A gota de água, e talvez o exemplo mais flagrante de que algo de estranho efetivamente se passa no reino do Dragão, é a saída de Francisco Conceição para o Ajax por apenas 5 milhões de euros pelo simples facto de a SAD não ter conseguido renovar, nos últimos dois anos, o contrato de um jogador que ganhava dois mil euros por mês.

Feitas as contas aos negócios efetuados neste defeso, o FC Porto viu sair três das principais pérolas formadas no Olival (Vitinha, Fábio Vieira e Francisco Conceição) por pouco mais de 80 milhões de euros. Muito pouco, convenhamos, em especial se tivermos em conta que o Benfica fez €75 milhões só com a transferência de Darwin Núñez para o Liverpool. Sei bem que nestas coisas do mercado de transferências as comparações são sempre perniciosas, mas ninguém dúvida que são estas as contas feitas pelos adeptos. E os adeptos portistas foram enchendo o copo da paciência com uma série de negócios discutíveis (para dizer o mínimo) até que esse copo está à beira de transbordar.

Ainda por cima, se até há pouco tempo o sucesso do Benfica no mercado era, pelos adeptos e comentadores afetos a clubes rivais, justificado pela intromissão de Jorge Mendes nos negócios do emblema da Luz - quantas vezes ouvimos «o Benfica só conseguiu este negócio por causa de Jorge Mendes»? -, a verdade é que o superempresário luso (sem dúvida nenhuma uma espécie de pote de ouro para os clubes portugueses) esteve envolvido nas transferências de Fábio Vieira e Vitinha, que ficaram, em especial no segundo caso, muito aquém do que deviam a nível financeiro. Não sei se, como dizem alguns adeptos do FC Porto, estamos perante um caso de gestão danosa ou de incompetência, mas parece evidente que algo de muito estranho se passa, efetivamente, para os lados do Dragão.

Dir-me-ão, de certeza, que o que não é estranho é o FC Porto ganhar mais vezes do que os seus rivais. E é verdade. Nisso não existem qualquer tipo de dúvidas, tal como dúvidas não existem sobre o principal obreiro das conquistas do dragão nos últimos cinco anos, apesar dos constantes disparates negociais da SAD: Sérgio Conceição. O tal que o advogado de defesa de Pinto da Costa veio agora atingir com uma tirada que faz mais mal que bem. É ou não é estranho?...