Vítor Bruno e Villas-Boas: a hora da exigência
André Villas-Boas e Vítor Bruno na apresentação do treinador. Foto: FC Porto

Vítor Bruno e Villas-Boas: a hora da exigência

OPINIÃO07:58

Técnico do FC Porto quer mostrar que está à altura do desafio. A época até não está a correr mal, mas depois de uma goleada contra o maior rival a tolerância é pouquíssima...

Vítor Bruno já sabia – e disse-o - que as dúvidas sobre a sua capacidade para agarrar tamanho desafio iam surgir numa altura destas. Não só pela goleada na Luz, mas pelo culminar de uma tendência: o FC Porto tem sido grande com os pequenos e pequeno com os grandes. É verdade que as contas só se fazem no fim, mas o estado de graça do treinador terminou no passado domingo.

A partir daqui, Vítor Bruno tem três urgências. A primeira é ganhar, claro. Qualquer escorregadela nos próximos jogos será praticamente imperdoável. A segunda é provar que a sua estratégia funciona. Os reforços foram os possíveis e acrescentaram qualidade ao plantel, e saíram alguns jogadores difíceis de substituir, mas essa é uma história que se repete num FC Porto até há pouco sem plano financeiro sustentável. Há ainda algumas dúvidas em relação ao melhor onze, mas sobretudo há agora uma menor crença do que o treinador quer fazer com ele. Quando todos os que jogaram na Luz cometeram erros e pareceram bem pior do que são, falar só em falta de agressividade, intensidade, ou entrega é redutor. Qual era a estratégia para o jogo, afinal?

E isso leva-me à terceira urgência. Bem sei que ainda estamos todos um pouco influenciados por Ruben Amorim, mas a forma como um treinador comunica vai sempre influenciar a perceção que temos do seu trabalho. Na antevisão ao clássico, Vítor Bruno estava «descansado» porque, a seguir à derrota em Roma, «o traço Porto» estava «vincado» na equipa. Problema: foi tudo o que não vimos no domingo. «Temos de ser mais Porto», afirmou depois, menos descansado, mas a conversa temos ADN, não tivemos ADN não pode durar para sempre. Viu ainda uma «primeira parte equilibrada» (além do resultado caído do céu, não sei em quê) e garantiu que «o FC Porto está a crescer», que é a pior coisa que se pode dizer a um adepto minutos depois de um resultado que não acontecia há 60 anos contra o maior rival.

Para ultrapassar esta fase, Vítor Bruno precisa ainda de três ajudas: dos jogadores, que terão de voltar a um calendário apertado sem desculpas e que ainda não encontraram uma voz de comando em campo para os momentos em que as coisas descarrilam; dos adeptos, até dos que festejam derrotas porque continuam numa corrida eleitoral imaginária; e do presidente, que foi ao balneário exigir mais ao plantel mas desapareceu entretanto. André Villas-Boas está agora a passar pelo teste mais difícil e já sabia – e disse-o – que no FC Porto não há anos zero sem exigência de vitórias. Ora ela aí está, resta saber lidar com ela.