Mozart começou a ópera, Gabri dançou vira minhoto (crónica)
Guerreiros do Minho fizeram a festa em solo austríaco e garantiram a continuidade na Liga Europa. (Foto: SC Braga)

R. VIENA-SC BRAGA, 0-2 Mozart começou a ópera, Gabri dançou vira minhoto (crónica)

NACIONAL29.08.202423:25

Austríacos tiveram entrada(s) de rompante(s) e ameaçaram apuramento; arsenalistas foram autênticos guerreiros e extremo espanhol mostrou tradição portuguesa; Carvalhal segue imbatível

Áustria. Viena. Wolfgang Mozart. A história de um país e de uma cidade que se confunde com o icónico compositor (nascido em Salzburgo) que morreu de forma bastante precoce – aos 35 anos, devido, consta, a uma infeção intestinal. E foi ao som da incomparável ópera concebida pelo artista que o Rapid começou o espetáculo. O SC Braga era o convidado, mas também não era necessária tão fria receção

Afinal, o primeiro golo dos visitados surgiu logo aos 7 minutos. A composição foi de Matthias Seidl, que bateu o canto, a letra final foi escrita por Bright Arrey-Mbi, que, de forma infeliz, introduziu a bola na própria baliza, já depois de um desvio subtil de cabeça de Ricardo Horta, ao primeiro poste.

O concerto agradava, naturalmente, aos mais de 20 mil espectadores que assistiam ao espetáculo, a música não era, claro está, boa para os comandados de Carlos Carvalhal. Técnico que teve ainda mais uma dor de cabeça antes do intervalo, fruto da lesão (mais uma) de Robson Bambu. O defesa-central brasileiro não está nada feliz neste início de época – esse infortúnio permitiu a estreia oficial de Paulo Oliveira em 2024/2025.

E na primeira parte houve, efetivamente, pouco SC Braga. Pouco para a qualidade exibicional já patenteada pelos arsenalistas e pouco para aquilo que Carvalhal tinha pedido na antevisão à partida. Nesse período, apenas Rodrigo Zalazar (22’), Ricardo Horta (28’) e Roberto Fernández (41’) tentaram a entrada na orquestra.

E se o som estava tremido em tempo de descanso, mais distorcido ficou logo após o reatamento: passe em profundidade de Jonas Auer, Bright Arrey-Mbi (que não ficou propriamente adepto do estilo de música que predomina na Áustria…) parecia ter o lance controlado, mas, de repente, foi surpreendido por Isak Jansson que, sem desafinar, atirou a contar. Que os bilhetes para um espetáculo desta magnitude não são baratos, já se sabia, mas também era escusado haver borlas

Mas como há sempre algo de positivo a extrair dos momentos negativos, eis que soaram os alarmes na nação bracarense. Os problemas auditivos eram… visíveis e tornava-se urgente a entrada em cena de um especialista. Carlos Carvalhal passou a receita – lançando Roger Fernandes e El Ouazzani – e Gabri Martínez foi à farmácia. O espanhol comprou tampões para os ouvidos e, na viagem, levou bilhetes para um espetáculo popular português. Chegou, então, ao Westsadion e distribuiu convites para o vira minhoto. Como que apelando os da casa a visitarem (de novo) Portugal para assistirem ao típico espetáculo luso.

Já depois do primeiro acorde – remate em arco a rasar o poste esquerdo (52’) -, o número 77 partiu acelerou de tal forma a passada da dança que… partiu os rins a Isak Jansson. O sueco não teve outra alternativa que não a de derrubar Gabri Martínez à margem das leis, já dentro da área, e El Ouazzani, chamado à conversão do penálti, não perdoou. O SC Braga reduzia e empatava a eliminatória.

Mas no Minho, já se sabe, as festas são (mesmo) a valer. Embalados, os guerreiros demoraram apenas dois minutos a voltar ao palco. Gabri Martínez (sempre ele!) fugiu pela esquerda e fez a assistência perfeita para o maestro (perdão, o capitão) dar o refrão. Ricardo Horta agradeceu e encerrou o espetáculo. Com pompa e circunstância.

O SC Braga está na Liga Europa e Carlos Carvalhal continua imbatível. Desde o seu regresso a casa, cinco jogos, quatro vitórias e um empate. Mas este empate foi equivalente a um… concerto de ópera. Que terminou à boa maneira portuguesa. Afinal, Gabri foi o verdadeiro Wolfgang. Ou Martínez foi Mozart.