Futuro? «Vou ser mais aborrecido, como o Amorim…»
André Horta na redação de A BOLA, com a medalha da Liga Conferência. Foto: DR

ENTREVISTA A BOLA Futuro? «Vou ser mais aborrecido, como o Amorim…»

NACIONAL12.06.202409:00

André Horta foi emprestado pelo SC Braga ao Olympiakos, que depois da época de sucesso quer ficar com o passe, mas tem de pagar 6 milhões. Garante que estará sempre disponível para os bracarenses, se o quiserem…

«Estranheza». É assim que André Horta entende o que se passou na primeira metade da época 2023/24, quando foi perdendo minutos na equipa do SC Braga. O médio não sabe como vai ser o futuro, daí optar por uma abordagem Rúben Amorim e dizer apenas que tem contrato. Em entrevista na redação de A BOLA, fez uma retrospetiva dos anos em Braga e deixou ainda elogios ao treinador e ao possível reforço do Sporting.

O Olympiakos, para ficar consigo, tem de acionar a cláusula de 6 milhões de euros… É onde quer ficar?

Nós no futebol não controlamos muito, a verdade é essa. Os jogadores cada vez controlam menos, por isso eu não vou estar a responder a isso, se eu não controlo nada…

Mas sente-se bem no Olympiacos?

Agora vou ser Rubén Amorim: eu tenho contrato… [risos]

Mais aborrecido…

Vou ser mais aborrecido. Tenho contrato mais três anos com o SC Braga, no fundo nós jogadores estamos muito nas mãos dos clubes, por isso vou esperar para ver o que é que querem fazer comigo.

Mas vê-se, nas redes sociais, adeptos gregos constantemente a pedirem para ficar… Como é essa relação, aquele ambiente?

Já comentei com os meus pais e amigos, é estranho dizer isto… Eu voltei a sentir-me jogador outra vez. Aquela parte do jogador de andar na rua, tirar fotos, as pessoas virem falar… O fanatismo que se calhar eu tinha vivido mais nos tempos de Benfica. E no SC Braga vivi mais uma questão familiar, porque a cidade é mais pequenina, é um ambiente mais familiar. Os sítios que eu frequento, as pessoas já me conhecem, já me tratam como um deles, se calhar da família… E ali foi muito novidade. A verdade é que as coisas começaram a correr bem, sinto que eles também perceberam que eu, o Carmo e o Chiquinho, que chegámos ao mesmo tempo, chegámos para ajudar e que queríamos muito, porque íamos para provar algo. Eu acho que eles sentiram que nós queríamos muito que resultasse, que desse certo, e eu acho que em todos os clubes é um pouco assim: quando os adeptos veem que o jogador quer, tem o caráter e tudo mais… E na Grécia acabou por se passar um bocadinho isso Eu já não estava muito habituado, é verdade, vivi muito com a questão Benfica, porque leva tudo a um nível muito maior, no SC Braga tudo muito mais tranquilo, e depois viver agora esta experiência, principalmente com a conquista da Liga Conferência, os adeptos exaltaram-se um bocadinho. Eu acho que eles pensam que eu sou melhor jogador do que aquilo que eu sou [risos].

Também tem uma boa relação com os adeptos do SC Braga. Regresse ou não, há alguma coisa que gostaria de lhes dizer neste momento?

Sim, tanto os adeptos do SC Braga como o clube sabem que eu estou sempre disponível para jogar pelo SC Braga. A minha carreira, no fundo, acaba por ser SC Braga. Estive um ano no Benfica, um ano de Vitória de Setúbal, um ano de Estados Unidos e tudo o resto acaba por ser SC Braga. Foi um clube que aprendi a amar, porque não nasci bracarense, mas do qual aprendi a gostar. Foi o clube que me deu a oportunidade de jogar com o meu irmão, que foi sempre uma prioridade para mim, e a verdade é alguns dos grandes momentos que tive na minha carreira, confundo sempre com tudo o que vivi no SC Braga. Sinto que as pessoas, depois desta saída, também acabam, porque é sempre assim na vida, acho que acaba sempre por acontecer, é quando não temos que acabamos por dar mais valor… Mas, como eu disse, para o SC Braga vou estar sempre disponível. Basta quererem-me, claro.

Durante esses anos todos no SC Braga, quase nunca foi aquele titular indiscutível constante. O que faltou? Foi concorrência a mais?

Honestamente, acho que não faltou nada. Não consigo dizer «ah nesta altura eu não jogava ou porque não merecia, ou porque não estava tão bem». A ideia geral, e era unânime, era que quando jogava acrescentava. Depois pode ter a ver mais com estratégias de treinadores. O jogador que não era o titular indiscutível, mas era sempre 40, 45 jogos por época… Os últimos dois anos sinto que foram os melhores em termos quantitativos e qualitativos. Em termos de números, de jogos jogados, de minutos. A última época então foi mesmo a melhor, fui o jogador mais utilizado em termos de jogos, em termos de minutos fui o quinto ou o sexto. No ano anterior, com o mister Carlos Carvalhal, já tinha sido top também, acabei por jogar a maior parte da época. No ano em que cheguei dos Estados Unidos também acabei por fazer 30 e tal jogos a titular. Ou seja, numa época de 50 jogos, acabo por fazer sempre mais de metade a titular. Claro que num clube como o SC Braga há três, quatro titulares indiscutíveis. Eu sei que não era um desses quatro, mas acabava por jogar sempre. Nos últimos dois anos sentia-me, como é normal com o passar do tempo e dos anos, melhor jogador. Também se calhar mais maduro no sentido de saber melhor o que tinha de fazer em campo. Ou seja, eu controlava melhor todas as nuances do jogo. Daí a estranheza do que se passou este ano.

E com a chegada do novo treinador, Daniel Sousa, acha que até se encaixava mais no seu estilo como jogador?

Não é bem pergunta para mim, é mais para ele. Eu quero acreditar que os bons jogadores encaixam sempre em quase todos os treinadores. Por exemplo, fiquei um bocadinho assustado quando chegou o treinador Mendilibar ao Olympiakos e ele começa a falar mais de nuances defensivas, ou de como nós queríamos defender. Eu assim: «Isto se calhar não combina muito comigo» [risos]. Ele se calhar falou um bocadinho mais de questões defensivas porque quando avaliou a equipa, e via muitos dos nossos jogos, nós defensivamente não éramos tão consistentes. Ele disse que ofensivamente, como havia muita qualidade, acabávamos sempre por arranjar maneira de resolver os jogos. Só que não podíamos era estar a sofrer constantemente. Então ele falou muito defensivamente. E eu lembro-me que ele, no fim dessa primeira reunião, disse assim: «Mas agora não pensem que para jogar na minha equipa têm de ser jogadores muito agressivos ou defensivos.» Ou seja, ele fez questão de vincar que há uma ideia, a ideia defensiva é coletiva, e tu não vais jogar porque és um gajo que rouba 15 bolas, rouba 20 bolas, ou porque és um jogador muito defensivo. E ele tinha razão, e a verdade é que eu acabei por jogar praticamente os jogos todos.

«No SC Braga ainda havia algo para fazer»

Não sabendo o que vai acontecer no futuro imediato, ainda tem como ambição destacar-se na Liga portuguesa? Ou fechou esse capítulo?

Nós como jogadores temos de estar sempre abertos um bocadinho a tudo. Como eu disse há pouco, nós não controlamos muito bem. Por exemplo, falando objetivamente desta época, eu venho de uma época em que sou o 5.º jogador mais utilizado do plantel. Nós fazemos uma época inteira em que eu e o Al Musrati, por exemplo, ele foi o 5.º e eu o 6.º jogador mais utilizado do plantel em termos de minutos. A nossa época teve 52 jogos, eu joguei em 51. E depois nós chegámos à época seguinte e eu e o Al Musrati jogámos 20 minutos juntos até janeiro. Isto ninguém consegue explicar. Isto para dizer o quê? Nós não conseguimos muito bem controlar, ou não temos grandes quereres nesta profissão. Nós fazemos o nosso melhor.

Mas a minha pergunta era mais no sentido de se ainda quer provar o que vale na Liga portuguesa…

Eu sinto que no SC Braga ainda havia algo para fazer. Aliás, eu quando saí lembro-me de dizer que isto ainda não acabou, ainda há aqui qualquer coisa para fazer. Mas, volto a dizer, não depende só de mim, depende muito também da vontade do clube. Mas eu acho que ainda se pode fazer muita coisa no SC Braga de bom, ainda se pode evoluir muito como clube. E quando digo como clube é ir ganhando, estando mais perto da luta por troféus, ir ganhando ainda mais e aproximar-nos ainda mais dos grandes.

«Ioannidis é mais um Gyokeres…»

Na Grécia também já defrontou Ioannidis, que poderá vir a ser reforço do Sporting. O que destaca nele?

Ele é muito forte, é muito forte a segurar, é muito forte a procurar profundidade. Antigamente dizia-se que o jogador ou procura profundidade, ou é mais jogador de vir no pé. E havia poucos jogadores que combinavam essas duas características. E eu acho que ele tem um bocadinho das duas. Segura com muita qualidade, mas, por exemplo, no jogo contra nós, que o Panathinaikos acabou por ganhar, ele fez muitos movimentos de profundidade… Um dos golos nasceu mesmo de um movimento em profundidade dele. Tem bom timing de desmarcação, muita qualidade a segurar, a associar-se com os colegas, forte no um para um, para depois finalizar de remate fácil também.

É mais um Gyokeres ou mais um Paulinho?

Eu acho que pode ser mais um Gyokeres. Se calhar não tão explosivo, um jogador mais técnico, mas combina um bocadinho das duas coisas. Mas lá está, sente-se lá confortável no seu país, também a jogar num clube grande, não sabemos o que se pode vir a passar aqui.

«Tudo o que Amorim diz acontece...»

Também foi treinado por Rúben Amorim, no SC Braga. O que destaca nele como treinador?

O que se destaca nele é a simplicidade com que lida com os jogadores. Ele não deixou de ser jogador assim há muito tempo, não sei se vem daí também a facilidade com que ele nos percebe melhor, se bem que há outros treinadores que foram jogadores e não têm essa capacidade… E depois os jogadores verem que normalmente tudo o que ele diz acontece [risos]. A maneira como ele passa a mensagem e a confiança com que ele a passa, por conhecer tão bem aquilo que ele quer e a maneira de jogar, normalmente nós jogadores retemos muito melhor a informação, para já porque está uma pessoa com muita confiança a passar-nos algo e quando alguém está a dizer isto com tanta confiança nós tendemos a acreditar. E depois, quando chegamos ao jogo e as coisas acontecem, pronto, aí percebemos. Eu sinto que é muito aí que ele ganha os grupos e começa a ter as equipas na mão: é quando nós começamos a perceber que chegamos ao jogo e tudo o que ele diz acontece.

A BOLA noticiou que o SC Braga estará interessado no guarda-redes do Olympiakos, Konstantinos Tzolakis. Que características é que destaca nele?

É sempre muito difícil fazer futurologia, porque o jogador é o seu contexto. Ou seja, ele lá também acaba por se sentir confortável, está no seu país. Uma mudança nós nunca sabemos como é que pode correr, porque ele pode chegar e no primeiro jogo algo corre mal, e a partir daí, psicologicamente, acaba por ir sendo uma bola de neve e as coisas já não correm bem, e depois tudo o que eu estou a dizer aqui acaba por ir por água abaixo. Mas o que eu vi foi um guarda-redes muito seguro. Ele é muito jovem, tem 21 anos e destacava-se muito pela capacidade de trabalho. Ele nos treinos, na altura que nós chegámos, em janeiro, não jogava, era o número 2, mas nós já víamos muita qualidade, muita gente já se perguntava porque é que ele não jogava. Mas o outro guarda-redes tinha mais estatuto. A partir do momento em que ele entrou não saiu mais e eu gostei de tudo: muito seguro, bom a sair dos postes, bom entre os postes. Ou seja, tinha um conjunto de características que depois de começar a jogar é muito difícil de sair, e foi o que aconteceu.