Espanha: como a Liga controlou os gastos dos clubes

INTERNACIONAL06.09.202416:55

Com grande parte dos emblemas em dificuldades extremas, a La Liga promoveu regras de controlo das finanças; pandemia de Covid-19 obrigou a medidas duras e a situação; Barcelona foi um dos mais 'castigados'

Em finais da década passada o futebol espanhol passava por uma situação bastante complicada, com os clubes a viverem com dificuldades extremas, o que deixava alguns à beira do abismo. A regra era: atrasos nos pagamentos a jogadores e técnicos e dívidas ao Fisco e à Segurança Social, situação que se agravou com a chegada da pandemia de Covid-19, em 2020, cujos efeitos foram devastadores, sobretudo no capítulo das receitas.

Perante este cenário, a La Liga, como entidade patronal, viu-se obrigada a atuar, criando um rigoroso sistema de controlo de receitas e gastos, tendo como objetivo o saneamento das contas, ao mesmo tempo que estas não sejam viciadas e correspondam à verdade. E assim criar forma de as regras serem iguais para todos.

No início de cada exercício, os clubes enviam à La Liga um orçamento que é analisado em pormenor por especialistas, determinando então, em função das receitas e custos previstos, o volume da massa salarial que cada clube está autorizado a utilizar para fazer frente aos custos originados pelo plantel, técnicos, direitos de imagem e tudo o que estiver relacionado com a equipa profissional de futebol.

Estabelecidos esses limites, o chamado fair play financeiro, os clubes estão obrigados a cumprir sob pena de sanções ou o impedimento de inscreverem jogadores na abertura do mercado de transferências.

E como toda a regra tem exceção, há formas de esses limites serem ampliados. Foi o que fez o Barcelona há dois anos, com as denominadas palancas que na realidade passaram por prescindir de uma parte do património do clube, sobretudo em forma de venda de ações de algumas das empresas do seu conglomerado empresarial.

Outra fórmula utilizada foi a do aval bancário prestado pelos próprios dirigentes do Barça que, dessa forma, puderam aumentar a margem de manobra para poder efetuar as contratações que então se levaram a cabo.

O sistema funciona, com maior ou menor dificuldade, os clubes lograram atingir os seus objetivos de remodelação dos planteis durante a vigência do recente mercado estival.

Barça outra vez protagonista

E mais uma vez o grande protagonista voltou a ser o Barcelona, com Deco a viver enorme pressão de querer reforçar a equipa, mas sem ter dinheiro para o poder fazer. O resultado é o que se sabe: só pôde contratar o jovem Pau Rico e Dani Olmo, com a inscrição deste último a ter sido possível apenas graças à saída de Gundogan para o Manchester City e à lesão de longa duração de Christensen, que permite a ampliação dos limites do fair play.

Segundo explicou o presidente Joan Laporta, o Barcelona está a 60 milhões de euros de poder cumprir a regra 1:1:, ou seja, ter fundos disponíveis para poder comprar por esse valor. Podia tê-lo conseguido se tivesse podido fechar a tempo o novo contrato com Nike, mas o clube preferiu não precipitar as negociações, num claro sinal de que o objetivo é conseguir o melhor proveito possível desse novo acordo.

Desta forma, no mercado de inverno, o clube estará em condições de fazer as contratações que Deco e o treinador Hans-Dieter Flick queriam ter feito agora. Não pôde ser, mas a equipa funciona e está no primeiro lugar da liga com quatro pontos mais que o Real Madrid.