Diogo Luís e as contas do Benfica: «Dívidas a um ano são o dobro do que vai receber»   
Diogo Luís representou o Benfica na década de 2000. Foto ASF

Diogo Luís e as contas do Benfica: «Dívidas a um ano são o dobro do que vai receber»  

NACIONAL09.09.202423:04

Antigo defesa do Benfica, agora consultor financeiro e comentador desportivo e de economia, alerta para cenário preocupante nas contas da SAD. Acredita que projeto desportivo pode estar em risco

Além da incerteza da equipa dentro das quatro linhas, com a mudança recente de treinador — a entrada de Bruno Lage para o lugar do alemão Roger Schmidt —, a SAD do Benfica vive uma situação instável também do ponto de vista financeiro, com as contas negativas apresentadas, domingo passado, no Relatório e Contas anual, documento onde se constata um prejuízo de €31,4 milhões em 2023/24.

«A situação é preocupante, pois tem sido uma tendência. Com Rui Costa como presidente, o Benfica teve saldo negativo em dois dos últimos três anos. Os custos estão descontrolados. A justificação de que o mercado fechou e que se o Benfica tivesse vendido depois do mercado teria um resultado muito melhor, pode ser verdade, mas iria condicionar o próximo ano. Neste Relatório e Contas, o ponto fundamental é a dívida líquida e as pessoas podem ir à página 36 e vão deparar-se com um aumento exponencial de 92 milhões de euros para 210, desde a época 2019/20 até ao presente. A justificação é de que essa dívida foi feita para investir no futebol profissional, mas estamos a falar de um período em que o clube vendeu João Félix (126 milhões, Enzo Fernández (121 milhões), Darwin Núñez (75 milhões de euros, mais 25 milhões por objetivos), Gonçalo Ramos (65 milhões), entre outros. Este ano, a venda do João Neves demonstrou a falta de liquidez para pagar ordenados de jogadores, fornecedores, etc...», detalha Diogo Luís em conversa com A BOLA, indo mais longe na análise.

«O passivo corrente do Benfica ronda os 209 milhões de euros, ao passo que o ativo está nos 100 milhões de euros. As dívidas do Benfica a um ano são o dobro do que vai receber e isso causa uma enorme pressão e a solução passa pela venda de jogadores. Mas, atenção: já não basta vender um jogador, mais a receita da Liga dos Campeões. E mesmo vendendo dois jogadores, há que escolher muito bem quem são. Por exemplo, João Neves e David Neres não iam permitir ao Benfica um resultado positivo. Estes dois mais um Marcos Leonardo já poderá equilibrar. Tudo isto deve alertar os adeptos benfiquistas, pois a venda de jogadores implicará, consequentemente, a construção de uma equipa mais frágil desportivamente», disse.

Pior resultado só recuando aos anos de Covid e já na presidência de Rui Costa 

O Relatório e Contas da SAD do Benfica, referente à época de 2023/2024, exercício finalizado a 30 de junho, foi conhecido no domingo passado e apresenta um resultado líquido negativo de €31,4 milhões. A SAD dos encarnados acredita que as movimentações no mercado de verão foram atrasadas em consequência do Campeonato da Europa e que algumas das vendas mais valiosas como as de João Neves para o PSG, Neres para o Nápoles, Morato para o Nottingham Forest e Marcos Leonardo para o Al Hilal, concretizadas já depois de 30 de junho, passariam as contas do vermelho para o verde.

Porém, o resultado do exercício é negativo e acima de €31 milhões, só comparável com os €35 milhões negativos registados em 2021/2022, já sob a gestão de Rui Costa, mas ainda a sofrer as consequências da pandemia. Em 2022/2023, o resultado foi  positivo em €4,2 milhões.

Recuando, antes da temporada de 2021/2022, só em 2012/2013 a SAD do Benfica registara resultados negativos, de €10,4 milhões.