Luís Rocha: «Não nos podemos deslumbrar»
Luís Rocha tem contrato com o Santa Clara até 2026 /CD SANTA CLARA

ENTREVISTA A BOLA Luís Rocha: «Não nos podemos deslumbrar»

NACIONAL09.09.202408:00

Defesa-central de 38 anos não se ilude com o excelente início de campeonato do Santa Clara. Depois de três vitórias em quatro jornadas, segue-se o Benfica, no Estádio da Luz. Os Açores, o projeto e as ambições no regresso à Liga

— Não é seu hábito continuar num clube, depois de alcançar a subida de divisão. O que o fez ficar e renovar contrato com o Santa Clara?

— Senti que era o momento e o clube certo para ficar. Pelo projeto que o clube está a traçar, até pela própria região, senti que devia ficar. Tanto o treinador como a Administração fizeram-me sentir importante, fizeram-me sentir como poucos clubes o fizeram, e quando assim é, a decisão de ficar torna-se fácil. Também tive o apoio da minha família nesta decisão, por isso estou muito feliz aqui.

— É a sua segunda época sob o comando de Vasco Matos. Como é que caracteriza o treinador?

— Considero o mister Vasco um treinador muito exigente, tanto a nível físico como mental. É um treinador que tenta tirar o máximo de cada jogador. É jovem [43 anos] e tem muita margem de progressão.

— Oito anos depois, voltou a competir na Liga. Que diferenças encontrou neste regresso?

— Sinto que houve uma grande diferença desde então. Acho que está um campeonato muito mais competitivo entre todos os clubes. O desnível de qualidade entre as equipas já não é tão grande, o que considero ser positivo para o nosso campeonato.

Luís Rocha no desafio ante o Casa Pia (CD Santa Clara)

— O Santa Clara já fez o seu melhor arranque da história na Liga, com três vitórias em quatro jornadas. Até onde a equipa pode ir?

— Estamos a fazer um grande início de campeonato, mas acho que devemos manter o foco e não nos podemos deslumbrar, até porque temos de pensar jogo a jogo. Não adianta traçar qualquer tipo de objetivo ou lugar na classificação nesta fase tão inicial. Somos uma equipa de uma região, de uma ilha, algo que por si só provoca um enorme desgaste, dadas as constantes viagens de avião. Vamos continuar a trabalhar, dando um passo de cada vez e, como disse, o foco passa trabalhar treino a treino, jogo a jogo, e sermos cada vez melhores.

— No regresso da Liga, vem aí uma visita ao Estádio da Luz para defrontar o Benfica, que tem agora um novo treinador [Bruno Lage]. É a melhor altura para esse desafio?

— Sabemos que as trocas de treinador normalmente dão uma motivação extra aos jogadores, uma nova energia... Sabemos da dificuldade que é defrontar o Benfica no Estádio da Luz, mas o grande foco está em nós, no nosso trabalho diário e naquilo que temos de fazer. Será um jogo difícil, mas estamos muito motivados!

— Neste momento, o Santa Clara conjuga o crescimento desportivo com a melhoria das infraestruturas…

— O Santa Clara tem crescido muito a todos os níveis e isto deve-se ao trabalho do nosso acionista maioritário Bruno Vicintin e a toda a estrutura. A Administração faz de tudo para que não falte nada aos jogadores. As regras, a exigência e a ambição estabelecida pela estrutura desde a época passada foram muito fortes e acho que esse foi o segredo em 2023/2024. Andamos todos alinhados, jogadores, equipa técnica e Administração.

— No total, conta com cinco subidas de divisão [Famalicão, Farense, Chaves, Moreirense e Santa Clara]. Qual é o segredo?

— As minhas subidas de divisão só foram possíveis devido a todos os grupos em que estive. Grupos construídos com homens de caráter e também qualidade dentro de campo, obviamente. Por isso, fico muito orgulhoso do que conquistei, mas partilho as minhas vitórias com todos os grupos de trabalho.

— Quais são as principais diferenças entre Liga e Liga 2?

— Tal como na Liga, há uma grande competitividade na Liga 2. Grande parte das equipas constroem os plantéis para atacar a subida de divisão e são sempre muito fortes. Prova disso, é o facto de que nos últimos plays-offs entre equipas dessas divisões, as da Liga 2 têm conseguido a tão desejada subida de divisão.

— Tem 38 anos. Até quando pretende jogar e o que lhe falta ainda conquistar?

— Renovei [até 2026] e sinto-me muito feliz e orgulhoso. Como disse anteriormente, a Administração e o mister Vasco fizeram-me sentir importante, por isso foi fácil tomar a decisão. Não sei até quando vou jogar, mas sei que o fim estará próximo, mas graças a Deus estou bem fisicamente, sinto-me bem e ainda tenho muita ambição de conquistar mais coisas. Se vou conquistar não sei, mas esse é o meu pensamento, que ainda há mais coisas para conquistar. A minha vontade de acordar e treinar, de estar no balneário com os meus colegas, ainda é muita, por isso vou continuar.

Os bons exemplos de Cristiano Ronaldo e Pepe

Luís Rocha continua a exibir-se a um nível alto aos 38 anos, algo que só se consegue com muita dedicação. «Quando vejo os casos do Cristiano Ronaldo ou do Pepe, vejo o que eles fazem e trabalham, a forma como se dedicam e tento seguir esses exemplos. Por isso, o segredo é muito trabalho diário, muita consistência, muitos sacrifícios também», diz o defesa-central, que eternizou as conquistas de uma já longa carreira de uma forma bem peculiar. «Tatuei a taça de campeão da Liga 2 pelo Santa Clara, tal como fiz com outros troféus que conquistei ao longo da minha carreira», conta.