«€75 M por Diogo Costa? Eu pagava, têm ali guarda-redes para 10 anos!»
Diamantino Figueiredo treinou Diogo Costa no FC Porto durante 7 anos. Veio parar às suas mãos com 18 anos (FOTO: IMAGO)

ENTREVISTA A BOLA «€75 M por Diogo Costa? Eu pagava, têm ali guarda-redes para 10 anos!»

NACIONAL02.07.202423:00

Foram sete anos no FC Porto a moldar o talento de Diogo Costa, o herói de Portugal na partida contra a Eslovénia; o treinador de guarda-redes fala de um jogador obstinado e focado em eliminar o erro. Levava consigo vídeos dos seus jogos e imaginava defesas impossíveis; penáltis? O segredo está nos nervos de aço e na capacidade de transferir pressão para o adversário

Foram sete anos a moldar o Diogo Costa no FC Porto. Sente especial orgulho por vê-lo singrar desta maneira na Seleção?

— Antes de mais realçar que não foi apenas o meu trabalho, mas também o de Vedran Runje nos últimos três anos no FC  Porto. Apanho o Diogo Costa com 18 anos, mas acho também  importante sublinhar esse trabalho em conjunto.

— O Diogo disse que usou o instinto para defender os três penáltis. Concorda?

— Claramente foi o instinto. Nós analisamos os penáltis e, tanto eu como o Vedran fomos guarda-redes, vivemos situações iguais e podemos passar essa experiência. Mas no fim quem toma a decisão é o guarda-redes. Quem converte o penálti pode ter tendência de bater a bola quatro vezes para a direita, uma ao centro, uma à esquerda. O guarda-redes tem essa informação, mas a tomada de decisão e o instinto são dele. Por vezes basta o jogador que bate abrir o braço de determinada forma para se saber que vai mandar a bola para a direita, por exemplo.

— Há fórmula mágica para defender penáltis?

— Na realidade, a grande responsabilidade é de quem bate o penálti. A partir daí, com nervos de aço e o tempo de espera correto, o guarda-redes tem mais possibilidades de defender. Com o Brugge, o Diogo defendeu dois penáltis, há muito trabalho ali e muita dedicação dele.

Doze penáltis defendidos ao longo da carreira não podem ser um acaso…

— Não é um acaso, claro que não, tem tudo a ver com a postura dele, os nervos de aço que faz com quem vai bater o penálti sinta ainda mais essa responsabilidade. O Diogo tem essa capacidade de pôr dúvidas no batedor, viu-se isso com a Eslovénia.

Contava que ele defendesse as três grandes penalidades?

— Assim que ele defendeu a primeira, disse que ele ia defender a outra, porque quem foi bater a seguir foi com aquela perceção de que o Diogo estava confiante. E não foi só nos penáltis.

Houve aquele defesa com os pés a manter Portugal vivo no jogo. Dizem que é uma defesa à andebol…

— Não tem nada ver andebol, a única maneira de defender aquela bola é com o pé. Isso também tem muito de instinto, da qualidade que ele tem. Depois vem aquilo que nós podemos passar. Falava muito sobre comunicação com ele: o guarda-redes tem de estar sempre ativo, a comandar o jogo, a ajustar os posicionamentos para atacar uma bola em profundidade e ser eficaz do primeiro ao último minuto.  

Foi um trabalho a longo prazo, coisa rara nos clubes...

— Sim, foram sete anos de um trabalho de base, uma grande preparação para chegar a este nível e estar entre os melhores do Mundo. No FC Porto já atuava na Taça da Liga, Taça de Portugal, ia à Champions connosco como terceiro guarda-redes e jogava a Youth League. Houve essa preparação e depois a decisão do Sérgio Conceição, em sintonia comigo, de não ir buscar ninguém. Tínhamos confiança nele, a exigência que mete nele próprio é elevadíssima. Trabalhamos com 4/5 guarda-redes. Numa unidade de treino estamos uma ou duas horas a trabalhar vários aspetos. Daí se trabalhar com dois treinadores de guarda-redes. Há muito para fazer, muito jogo para ver, detalhes importantes a limar para tomadas de decisões e equilíbrio no jogo.

— O Diogo é um perfeccionista?

— Quando comete um erro não descansa enquanto não o corrigir. Há que relevar a importância de Cláudio Ramos neste processo. O Cláudio em todos os momentos em que foi chamado deu boas respostas. Não o deixou confortável. Costumo dizer que se não houver um guarda-redes de certeza que não vai haver jogo. Imaginemos uma batalha: normalmente quem comanda as tropas não vai para a frente, fica atrás a liderá-las. O  comandante de uma equipa é o guarda-redes e a melhor defesa é essa comunicação. Trabalhámos muito esses aspetos. A aceitação dele para evoluir era de tal ordem que levava vídeos e ações dele. Mesmo em bolas impossíveis dizia que ia defender.

— Ele próprio admitiu que não fez um grande Mundial…

— A grande vantagem dele é mesmo essa. Admite o erro, mas quer fazer melhor. Por isso é que é o melhor! Enquanto os outros dão desculpas, ele assume.

Imagina um clube pagar a cláusula de €75 M do Diogo Costa?

— Estando algum dos grandes clubes mundiais a precisar de um guarda-redes que é titular no FC Porto.... Eu não me importava de pagar €60 ou €75 milhões. Tem 24 anos, têm ali guarda-redes para 10 anos! E a jogar com os pés são poucos como ele. Há Neuer, e mesmo assim… O Sérgio Conceição diz que ele era o seu número 10, tal a qualidade no processo ofensivo, mete a bola onde quer com grande facilidade.

Há mais promessas que podem atingir o nível do Diogo Costa?

— Olhando para os guarda-redes do FC Porto iríamos dar continuidade a esse trabalho com Gonçalo Ribeiro e Diogo Fernandes, que têm capacidade para evoluir e chegar ao patamar do Diogo. Agora, depende da forma com os vão desenvolver. Nós tivemos essa capacidade de o fazer em sete anos.