De Vale e Azevedo a Gonçalo Ramos: 17 anos da ‘fábrica’ do Seixal
Imagem panorâmica no dia da inauguração

De Vale e Azevedo a Gonçalo Ramos: 17 anos da ‘fábrica’ do Seixal

FUTEBOL22.09.202313:19

Centro de estágios e formação celebra mais um aniversário; viagem à história e aos muitos milhões de euros com origem no Benfica Campus

Está quase a atingir a maioridade: o Benfica Campus celebra esta sexta-feira o seu 17.º aniversário. Uma estrutura que moldou o modelo de negócio do clube, tornando-se definitivamente um exportador de talentos.

Foi ainda na Direção de João Vale e Azevedo que foram feitos os acordos para a construção do espaço na Quinta da Trindade, no Seixal, concelho da margem Sul do Tejo. A cerimónia do lançamento da primeira pedra ocorreu a 14 de janeiro de 2000, com a presença das mais altas instâncias do desporto e do Governo, incluindo ministro adjunto à data, Fernando Gomes, hoje administrador da SAD do FC Porto.

Com a vitória de Manuel Vilarinho nas eleições de outubro de 2000, os encarnados ainda equacionaram revogar os acordos celebrados pelo antecessor com a imobiliária Euroárea, mas depressa o novo executivo entendeu que os custos e os riscos seriam incomportáveis, até porque estava em causa também uma hipoteca sobre os terrenos do Estádio da Luz.

De 2000 a 2006, entretanto já com Luís Filipe Vieira e Mário Dias a assumirem o comando das operações, o Benfica arrancou para uma gigantesca empreitada: derrubar a velha Luz, construir um novo estádio e avançar para a criação de um centro de estágio e formação.

A 25 de outubro de 2003 nascia o futuro palco da final do Euro-2004 e três anos mais tarde, a 22 de setembro de 2006, era inaugurado o Benfica Campus, à época designado Caixa Futebol Campus, referência ao patrocinador, o banco público Caixa Geral de Depósitos.

A fasquia dos €15 milhões

A obra nascia, mas era preciso tempo até surgirem as primeiras colheitas já com a marca Seixal, com tudo o que isso implica: condições logísticas, recursos humanos e aquisição de conhecimento. Foram precisos sensivelmente 10 anos até o Benfica começar a vender passes de jogadores nascidos e criados nas novas instalações. Hoje pode parecer pouco face aos números praticados no futebol contemporâneo, mas os €15 milhões faturados pelas saídas de João Cancelo (Valência) ou Bernardo Silva (Mónaco) tiveram grande impacto (época 2014/2015).

AS 10 MAIORES VENDAS DE JOGADORES NASCIDOS E CRIADOS NO SEIXAL

NomeÉpoca (clube)Valor
João Félix2019 (Atlético de Madrid)€126 milhões
Rúben Dias2020 (Manchester City)€71,6 milhões
Gonçalo Ramos2023 (PSG)€65 milhões
Nélson Semedo2017 (Barcelona)€35,7 milhões
Renato Sanches2016 (Bayern)€35 milhões
Gonçalo Guedes2016 (PSG)€30 milhões
André Gomes2015 (Valência)€20 milhões
Jota 2022 (Celtic)€16,2 milhões
Bernardo Silva2014 (Mónaco)€15,7 milhões
João Cancelo2015 (Valência)€15 milhões

Foi a partir daqui que o Seixal entrou numa nova e decisiva fase. Acompanhando a valorização do mercado de transferências europeu, impulsionado pela entrada em cena de capitais do Médio Oriente, o efeito de roda dentada fez-se sentir junto dos clubes que tinham a capacidade de formar. Daí para cá, tornou-se um hábito (e uma obrigação) o Benfica transferir um jogador made in Seixal por montantes que tornam o preço de Bernardo Silva irrisório. No conjunto destes anos, o Benfica Campus já rendeu mais de €500 milhões em vendas, valor anunciado recentemente pelo diretor-geral, Pedro Mil-Homens.

Segundo um estuto publicado em fevereiro pelo Observatório do Futebol, as águias têm a formação mais valiosa do mundo. O organismo sedeado na Suíça analisou os valores das transferências de mais de 30 mil futebolistas com contratos de pelo menos três anos e idades compreendidas entre os 15 e os 21 anos em mais de 75 ligas e chegou à conclusão que o produto final tem um valor de 670 milhões de euros.

«Formar para a equipa principal»

João Félix continua a ser o jogador que gerou a maior transferência até ao momento, com os €120 milhões (mais €6 milhões de factoring) pagos pelo Atlético de Madrid em 2019, seguindo-se Rúben Dias e Gonçalo Ramos, ambos com valores acima dos 65 milhões de euros — o avançado foi mesmo a mais recente venda.

Com um custo anual entre os cinco e os 12 milhões de euros, valores conhecidos nos últimos anos e que variam consoante o volume de investimento (como, por exemplo, a transferência do futebol feminino para aquela infra-estrutura), o Seixal tornou-se numa fábrica altamente lucrativa, embora a máxima seja outra, como recordou ontem Mil-Homens à BTV: «Formar jogadores e ser capazes, de forma continuada e não ocasional, de fazer chegar alguns à nossa equipa profissional.»

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