De Vale e Azevedo a Gonçalo Ramos: 17 anos da ‘fábrica’ do Seixal
Centro de estágios e formação celebra mais um aniversário; viagem à história e aos muitos milhões de euros com origem no Benfica Campus
Está quase a atingir a maioridade: o Benfica Campus celebra esta sexta-feira o seu 17.º aniversário. Uma estrutura que moldou o modelo de negócio do clube, tornando-se definitivamente um exportador de talentos.
Foi ainda na Direção de João Vale e Azevedo que foram feitos os acordos para a construção do espaço na Quinta da Trindade, no Seixal, concelho da margem Sul do Tejo. A cerimónia do lançamento da primeira pedra ocorreu a 14 de janeiro de 2000, com a presença das mais altas instâncias do desporto e do Governo, incluindo ministro adjunto à data, Fernando Gomes, hoje administrador da SAD do FC Porto.
Com a vitória de Manuel Vilarinho nas eleições de outubro de 2000, os encarnados ainda equacionaram revogar os acordos celebrados pelo antecessor com a imobiliária Euroárea, mas depressa o novo executivo entendeu que os custos e os riscos seriam incomportáveis, até porque estava em causa também uma hipoteca sobre os terrenos do Estádio da Luz.
De 2000 a 2006, entretanto já com Luís Filipe Vieira e Mário Dias a assumirem o comando das operações, o Benfica arrancou para uma gigantesca empreitada: derrubar a velha Luz, construir um novo estádio e avançar para a criação de um centro de estágio e formação.
A 25 de outubro de 2003 nascia o futuro palco da final do Euro-2004 e três anos mais tarde, a 22 de setembro de 2006, era inaugurado o Benfica Campus, à época designado Caixa Futebol Campus, referência ao patrocinador, o banco público Caixa Geral de Depósitos.
A fasquia dos €15 milhões
A obra nascia, mas era preciso tempo até surgirem as primeiras colheitas já com a marca Seixal, com tudo o que isso implica: condições logísticas, recursos humanos e aquisição de conhecimento. Foram precisos sensivelmente 10 anos até o Benfica começar a vender passes de jogadores nascidos e criados nas novas instalações. Hoje pode parecer pouco face aos números praticados no futebol contemporâneo, mas os €15 milhões faturados pelas saídas de João Cancelo (Valência) ou Bernardo Silva (Mónaco) tiveram grande impacto (época 2014/2015).
AS 10 MAIORES VENDAS DE JOGADORES NASCIDOS E CRIADOS NO SEIXAL
Nome | Época (clube) | Valor |
João Félix | 2019 (Atlético de Madrid) | €126 milhões |
Rúben Dias | 2020 (Manchester City) | €71,6 milhões |
Gonçalo Ramos | 2023 (PSG) | €65 milhões |
Nélson Semedo | 2017 (Barcelona) | €35,7 milhões |
Renato Sanches | 2016 (Bayern) | €35 milhões |
Gonçalo Guedes | 2016 (PSG) | €30 milhões |
André Gomes | 2015 (Valência) | €20 milhões |
Jota | 2022 (Celtic) | €16,2 milhões |
Bernardo Silva | 2014 (Mónaco) | €15,7 milhões |
João Cancelo | 2015 (Valência) | €15 milhões |
Foi a partir daqui que o Seixal entrou numa nova e decisiva fase. Acompanhando a valorização do mercado de transferências europeu, impulsionado pela entrada em cena de capitais do Médio Oriente, o efeito de roda dentada fez-se sentir junto dos clubes que tinham a capacidade de formar. Daí para cá, tornou-se um hábito (e uma obrigação) o Benfica transferir um jogador made in Seixal por montantes que tornam o preço de Bernardo Silva irrisório. No conjunto destes anos, o Benfica Campus já rendeu mais de €500 milhões em vendas, valor anunciado recentemente pelo diretor-geral, Pedro Mil-Homens.
Segundo um estuto publicado em fevereiro pelo Observatório do Futebol, as águias têm a formação mais valiosa do mundo. O organismo sedeado na Suíça analisou os valores das transferências de mais de 30 mil futebolistas com contratos de pelo menos três anos e idades compreendidas entre os 15 e os 21 anos em mais de 75 ligas e chegou à conclusão que o produto final tem um valor de 670 milhões de euros.
«Formar para a equipa principal»
João Félix continua a ser o jogador que gerou a maior transferência até ao momento, com os €120 milhões (mais €6 milhões de factoring) pagos pelo Atlético de Madrid em 2019, seguindo-se Rúben Dias e Gonçalo Ramos, ambos com valores acima dos 65 milhões de euros — o avançado foi mesmo a mais recente venda.
Com um custo anual entre os cinco e os 12 milhões de euros, valores conhecidos nos últimos anos e que variam consoante o volume de investimento (como, por exemplo, a transferência do futebol feminino para aquela infra-estrutura), o Seixal tornou-se numa fábrica altamente lucrativa, embora a máxima seja outra, como recordou ontem Mil-Homens à BTV: «Formar jogadores e ser capazes, de forma continuada e não ocasional, de fazer chegar alguns à nossa equipa profissional.»