João Paulo acaba carreira aos 42 anos: «Estive prestes a ir à Seleção, mas apareceu o Pepe»
Ex-FC Porto e Sporting despede-se do futebol por questões familiares, após oito épocas nos distritais: «Queria acabar bem, não a arrastar-me»
João Paulo, antigo central da UD Leiria que somou passagens pelo Sporting (2002/03) e FC Porto (2006/07 e 2007/08), colocou um ponto final na carreira, aos 42 anos, «por motivos familiares», após oito épocas nos distritais. Em entrevista à Lusa, o jogador falou do último desafio, o Castrense, e revelou o que ficou a faltar na carreira: representar Portugal.
«Deixo o futebol praticamente por questões familiares. Os meus colegas e a minha esposa estão tristes e queriam que eu continuasse – e penso que teria ainda condições para continuar –, mas chegou a hora. Já tinha ponderado há alguns anos e acho que é o momento certo. Queria acabar bem, não a arrastar-me», explicou o defesa, depois de cumprir a quinta época no Castrense, depois de três no Marinhense: «Ter ido para a distrital foi a melhor decisão que tive nos últimos tempos.»
Quanto à lacuna na carreira, foi taxativo. «O que faltou foi ter representado a Seleção A. Infelizmente, não consegui. Estive na seleção B com o [Luiz Felipe] Scolari, na altura, mas nunca consegui ser internacional A. É o desejo de qualquer futebolista. Estava em Leiria, as coisas estavam a correr-me bem. Sei que o Scolari foi a Leiria ver-me jogar e eu não joguei esse jogo por acumulação de amarelos ou por alguma lesão. Era capitão na altura, fui ao balneário antes do jogo e, quando entro no elevador, qual não foi o meu espanto ao ver o mister Scolari. O presidente não sabia que não podia jogar. Sei que estive prestes a ir, mas depois apareceu o Pepe. Foi na altura em que foi naturalizado e ele tinha mais qualidade do que eu, não dá para esconder isso», recordou.
O destaque maior foi registado no Dragão: «Jogar na Liga dos Campeões é o ponto mais alto da minha carreira. Agora, em termos de número de jogos, não foi o que esperava, como é óbvio. Contudo, deu para sentir o clube que era e viver novas realidades que não tinha vivido até então.»
Mas nem tudo se resumiu a bons momentos, já que em 2007/08 acabou afastado da equipa portista. «Joguei na Liga dos Campeões contra o Liverpool, marquei um golo em Leiria e, depois, vamos jogar a Fátima para a Taça da Liga, em que perdemos nos penáltis. Nos minutos iniciais, houve um canto a favor do FC Porto, o guarda-redes soca-me o nariz e fiquei a jogar com ele partido. Sou operado no fim do jogo e, quando regresso, quero treinar e não me deixaram. O futebol é um pouco ingrato e sei que o nome João Paulo não me fez jogar. Se o nome fosse diferente, eu tinha jogado, mesmo com a máscara.»
No Sporting, partilhou balneário com Cristiano Ronaldo: «Eu, o Quaresma e o Ronaldo andávamos praticamente sempre juntos. Havia vontade, ele acabava os treinos e ficava com uma bola no campo. Esperava que os mais velhos tomassem banho para ficar a ver-se ao espelho, num trabalho de ginásio que já o fazia. Ele pedia ao treinador de guarda-redes para cruzar umas bolas, porque um dos pontos fracos dele na altura era o jogo aéreo. Evoluiu em tudo e tudo o que alcançou é mérito dele, pois trabalhou imenso para isso.»