OPINIÃO DE NUNO GOMES Em nome do Futuro
Pessoalmente, não me recordo de um ambiente assim no Futebol Profissional em Portugal. Os dirigentes podem discordar, mas respeitam-se, os clubes podem e devem ser rivais, mas não são inimigos
Aos 48 anos, já vivi muito do que o futebol tem para oferecer, dentro e fora dos relvados. Muitas emoções! Desilusões, também. Sei que, por mais que viva, nunca conseguirei devolver a este desporto tudo o que ele me deu, mas continuarei a tentar, sempre. E a melhor forma de o fazer, seja qual for o cargo, o momento ou a perspetiva, é ser fiel às minhas convicções, intransigente nos meus princípios, justo nas minhas avaliações e independente nas minhas escolhas.
Vesti várias camisolas ao longo da minha carreira, todas elas com enorme orgulho, desde clubes à Seleção Nacional, e é com essa mesma honra que hoje envergo as camisolas de embaixador da Liga Portugal e de vice-presidente da Fundação do Futebol da Liga Portugal, onde procuro ser um elo firme na importante missão de ligar este desporto às causas de Responsabilidade Social.
Por força desta dupla circunstância, nos últimos anos tenho tido a oportunidade de acompanhar de perto, nos bastidores, o trabalho desenvolvido pela Liga Portugal nas mais variadas áreas, sem perder, ao mesmo tempo, a ligação com o que acontece no terreno, onde continuo a ser adepto (sempre!) e comentador. No futebol, como em qualquer outra área, há sempre algo por fazer, algo por melhorar, mas, mesmo numa atividade onde o peso das emoções torna particularmente fácil a crítica, a evolução da Liga Portugal e do Futebol Profissional em Portugal, é uma evidência.
Podia enumerar vários aspetos, desde a recuperação económica à celeridade da justiça desportiva, desde as alterações nos quadros competitivos ao aumento das assistências, desde o crescimento comercial à introdução das novas tecnologias, desde a profissionalização através da Liga Portugal Business School, sem esquecer, claro, o já referido projeto da Fundação do Futebol, que me toca de forma muito especial. Não é, porém, nenhum destes pontos positivos, entre outros, que mais destaco.
O que sublinho, acima de tudo, resume-se numa palavra: agregação. O maior desafio no Futebol Profissional português, a base sólida para se partir à conquista de tudo o resto, sempre foi tentar sentar os clubes à mesma mesa, fazer-lhes ver que são adversários apenas durante os 90 minutos e que no resto do tempo devem cuidar de um produto que é de todos, de uma marca que é de todos, de um negócio que é de todos, ou seja, convencê-los de que a melhor maneira de salvaguardarem os interesses individuais é defenderem o interesse coletivo.
Foi difícil fazer entranhar uma ideia que, inicialmente, os clubes tanto estranhavam, mas a semente plantada em 2015 foi regada, cuidada e adubada com determinação ao longo do tempo, mesmo perante os momentos de intempérie, e a colheita está hoje à vista em toda a sua plenitude. Pessoalmente, não me recordo de um ambiente assim no Futebol Profissional em Portugal. Os dirigentes podem discordar, mas respeitam-se, os clubes podem e devem ser rivais, mas não são inimigos. Este, acreditem, é o bem mais precioso que esta indústria pode ter. Esta, acreditem, é a maior vitória que esta Direcção pode ter.
Seja a nível nacional ou internacional, o futebol tem de ser olhado na perspetiva de uma grande comunidade em que convivem elementos com interesses convergentes e divergentes. É através da construção de pontes de diálogo, e nunca com o espírito territorial de outrora, que se pode chegar ao grande desígnio: unir na diferença.
E não me refiro apenas à união entre os clubes, mas também entre todos os stakeholders desta atividade, nomeadamente as Associações de Classe (recordo a importância da criação da Comissão de Diálogo Social, da qual fazem parte Liga Portugal, Associação Portuguesa de Árbitros de Futebol, Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol e Associação Nacional de Treinadores de Futebol) e as Associações Distritais e Regionais, as quais, na base da pirâmide, na sombra, longe dos flashes’ da ribalta, realizam um trabalho absolutamente fundamental para alimentar o topo com jogadores, treinadores, árbitros e dirigentes de excelência.
Sobre esta aproximação essencial entre o Futebol Profissional e o movimento associativo, partes fundamentais da mesma realidade, permitam-me destacar o projeto Liga-nos o Talento, no qual participei e que envolveu precisamente a Fundação do Futebol da Liga Portugal, com ações que percorreram todo o País para fazer chegar a cada uma das 22 Associações Distritais e Regionais um conjunto de 20 bolas e um cheque de dois mil euros, em colaboração com parceiros, envolvendo também as autarquias. Um apoio e reconhecimento mais do que justos e que refletem o tal Futebol que nos une, como tão bem vinca o lema desta temporada.
A inovação de mentalidades não deve ser desperdiçada, a ambição a grandes desafios deve ser o rumo. Todo este trabalho realizado tem que ter continuidade, o que foi feito na Liga merece ser replicado noutros palcos. Acredito que Pedro Proença, que já demonstrou ser um dirigente preparado e qualificado no Futebol Português, é a pessoa indicada para realizar esta tarefa. Em nome do Futuro.