Ruben Amorim: jogar sem camisola
O maior desafio de Amorim é devolver a identidade ao Manchester United e nesse aspeto o treinador português começou muito bem.
O Manchester United precisa de um treinador especial. A sucessão de Alex Ferguson teria sempre obstáculos, tal era a PRESENÇA – e uso capitais de propósito – do escocês em tudo o que fazia o clube mexer.
David Moyes foi o escolhido para dar continuidade ao legado do compatriota, mas depois de um início prometedor as coisas começaram a ruir em Old Trafford. A identidade que Sir Alex tinha criado começou a desvanecer-se e na altura em que Erik Ten Hag saiu o único vestígio dela são as cores do United, pois até o estádio hoje oferece dúvidas.
O treinador tem de ser especial porque tem de ser capaz de unir um clube fragmentado por ter pisado minas e armadilhas, muitas colocadas por (in)decisões dos Glazer, a família norte-americana que o detinha.
Chegado aqui, o maior desafio de Ruben Amorim não é propriamente dizer onde vai jogar Bruno Fernandes, Marcus Rashford ou perceber quem faz de Nuno Mendes ou de Pedro Porro – apesar de 2024/25 ser a versão melhorada do Sporting, aqueles dois alas continuam a ser, para mim, as melhores opções que houve naquelas posições. O maior desafio de Amorim é devolver a identidade ao Manchester United e nesse aspeto o treinador português começou muito bem, pois foi isso mesmo que disse em entrevista à ManUtd TV.
Ter sucesso passa por perceber tudo o que foi dito antes: do lugar do capitão português ao avançado britânico, formado no clube, à escolha dos alas. Mas também pelo criar um perfil claro de jogo, um dos pecados de Erik ten Hag em Old Trafford: alguém viu o futebol pressionante do seu Ajax no ManUtd?
Amorim já disse que o que o Sporting faz pode não ser exatamente o que o United vai fazer. Mas o que não pode suceder é Ruben ceder nas suas ideias como o neerlandês fez ao ponto de ninguém reconhecer uma equipa sequer, muito menos os poderosos Red Devils.
O ManUtd joga é um clube sui generis nas cores. Joga de encarnado, de azul e até de verde e dourado. Mas relevante mesmo é perceber como joga se não usar camisola. Uma equipa deve ser reconhecível pelo que é em campo e não pelo que usa.
Amorim percebeu o desafio e falou várias vezes sobre identidade na entrevista à ManUtd TV. Sempre foi crença dele para o sucesso. Diria até que ter esse princípio foi o que levou a que os novos chefes do United arriscassem nele. Um treinador jovem, mas de ideias claras e que nunca cedeu no caminho. O processo não será fácil. Há quem o vá chamar teimoso em Inglaterra, como houve por cá. E outros haverá que no lugar da teimosia, verão caráter…