O quinto ano depois de Cristo
'JAM sessions' é o espaço de opinião semanal do jornalista João Almeida Moreira, correspondente de A BOLA no Brasil
Gabriel Barbosa, como era conhecido quando se estreou, aos 16 anos, substituindo Neymar num jogo em Brasília entre o Santos, onde começou, e o Flamengo, onde ainda está, ou Gabigol, como o alcunhou a galera, ou Gabi, como prefere ser chamado, vai sair da Gávea.
E vai sair, para o Cruzeiro, ao que tudo indica, ou para o Santos, que acredita numa reviravolta antes da assinatura do contrato, à sua maneira: decidindo uma final, os seus dois golos no duelo com o Atlético Mineiro na primeira mão da decisão da Copa do Brasil foram importantes para o 4-1 agregado, e causando divisão, ao irritar-se com o treinador por ser substituído e festejar o título em casa numa celebração paralela à do grupo.
A saída de Gabi, entretanto, simboliza, em 2024, o fim de 2019, ano zero de um Fla devorador de taças sob o comando de Jorge Jesus — 2024 não é, em rigor, o quinto ano depois de Cristo, como diz o título deste espaço, mas é o quinto ano depois de Jesus, que, do ponto de flamenguista e não do ponto de vista cristão, é quase a mesma coisa.
Gabi, eleito naquele ano melhor jogador sul-americano, Bola de Ouro da revista Placar, maior goleador tanto do Brasileirão como da Libertadores, tinha em Bruno Henrique, eleito segundo melhor jogador sul-americano e maior craque, tanto da Série A, segundo a CBF, como da Libertadores, segundo a Conmebol, um sócio perfeito no ataque do Flamengo de JJ.
A acusação de manipulação de cartões para benefício de apostas de familiares e amigos não tirou ainda BH — como é chamado por causa das iniciais e pela coincidência de ter nascido em Belo Horizonte, BH para os locais — do Flamengo mas simboliza também um certo fim da inocência de 2019.
Já, Everton Ribeiro, cérebro daquele ano, está no Bahia, Willian Arão no Panathinaikos, Rafinha no São Paulo, Rodrigo Caio no Grêmio, Pablo Marí no Monza e o goleirão Diego Alves a jogar, como médio defensivo, ao lado do ex-benfiquista Jonas em torneios de futebol de sete para manter a forma.
Sobram, da equipa titular, apenas o motor Gerson, que foi para Marselha mas voltou, e o talentoso De Arrascaeta.
E Filipe Luís, claro, o treinador com quem Gabi se irritou, e que, já assumiu, vê JJ como modelo nos treinos, na relação com os atletas e no mantra ganhar, ganhar, ganhar. Mesmo sem o português, o ano que vem, o primeiro que o ex-lateral esquerdo vai iniciar, talvez seja o ano em que Cristo volta à Terra, isto é, em que Jesus ressuscitado volta à Gávea, acreditam os crentes rubronegros.