Portugal: o guia
Sérgio Miguel Santos

EURO 2024 Portugal: o guia

SELEÇÃO26.05.202412:00

Expectativas

A qualidade individual dos jogadores ‘obriga’ Portugal a apresentar candidatura à conquista das grandes competições internacionais, hoje em dia, e a campanha de qualificação para o Euro 2024 reforçou a ambição. É verdade que o grupo não era dos mais exigentes, mas a equipas das quinas conseguiu um apuramento imaculado, com 10 vitórias em igual número de jogos, para além do melhor ataque da fase de qualificação, com 36 golos marcados, e a melhor defesa entre todos os grupos, com apenas dois golos concedidos.

Para já só há elogios para Roberto Martínez, que substituiu Fernando Santos após a atribulada participação no Mundial do Qatar, na qual Cristiano Ronaldo viu-se relegado para o banco de suplentes. A contratação do técnico espanhol permitiu fazer um reset na equipa das quinas, mas sem apagar o capitão do disco rígido. Cristiano recuperou importância – somou 10 golos no apuramento, registo superado apenas pelo belga Romelu Lukaku, com 14 - e ajudou Portugal a garantir a presença no Europeu de forma muito tranquila, com um futebol agradável, ofensivo, sustentado numa estrutura muito versátil, que tira proveito da cultura tática de jogadores como Bruno Fernandes, Bernardo Silva ou João Cancelo, entre outros.

A equipa parece tão confortável a jogar com três centrais como numa linha de quatro defesas, e na visita ao frágil Liechtenstein até recuou Rúben Neves para construir jogo a partir da retaguarda, sabendo que ia passar quase todo o tempo no meio-campo contrário. Na frente de ataque tanto pode jogar Cristiano Ronaldo mais fixo, com o apoio de Bernardo Silva, João Félix ou Rafael Leão, como juntar-se Gonçalo Ramos ao capitão para um ataque mais reforçado.

Em 3x4x3, 4x3x3 ou 4x4x2, muitas vezes mudando dentro do próprio jogo, Portugal mostrou dinâmicas bem trabalhadas, que conciliam a qualidade técnica e a inteligência estratégica dos seus jogadores. “Não acredito em sistemas, acredito em seres humanos que jogam futebol, e em ser tacticamente flexível, nunca forçar um talento para se adaptar a um sistema”, avisou logo na apresentação.
Nesse dia defendeu também que era preciso «sonhar alto», e o trabalho desenvolvido desde então alimentou as expectativas, a ponto de Portugal ser colocado entre as três ou quatro equipas que reúnem maior favoritismo.

O selecionador

Roberto Martínez (RODRIGO ANTUNES/EPA)

Uma escolha acolhida com reservas iniciais. Não tanto por substituir o treinador que conduziu Portugal ao título europeu em 2016, que a imagem de Fernando Santos desgastou-se muito nos últimos anos, mais pela ideia generalizada de que José Mourinho era a primeira escolha e a opção de recurso recaiu em alguém com palmarés reduzido.  

Embora seja espanhol e fale um idioma que os portugueses compreendem bem, Roberto Martínez mostrou logo vontade de falar português, dentro de uma estratégia de comunicação empática de contraste com o antecessor. Fez questão de visitar logo vários jogadores - incluindo Cristiano Ronaldo na sua nova residência, na Arábia Saudita -, e deu seguimento à operação de charme com uma filosofia de jogo que cativou desde logo os jogadores. «O jogador português é o melhor profissional que há no futebol europeu», afirmou, ao destacar a competitividade e a cultura tática.

O ícone

21. Cristiano Ronaldo, Al Nassr - 15 M€ (IMAGO)

Sem clube, relegado para o banco da seleção e em conflito também com o treinador de Portugal, Fernando Santos: quando terminou a participação portuguesa no Mundial do Catar, nos quartos de final, o ciclo de Ronaldo na equipa das quinas parecia ter chegado ao fim.

Semanas depois Cristiano era apresentado como jogador do Al Nassr, e Roberto Martínez rendia Fernando Santos no banco de Portugal. «A minha impressão, quando falei a primeira vez com ele, foi de uma pessoa de 18 anos», disse o selecionador, que esteve em Riade poucos dias depois de ter sido contratado. «Para a maioria dos jogadores, o corpo falha e a cabeça aceita. No Cristiano, parece acontecer o contrário. O corpo só vai parar quando a cabeça disser que tem de parar», acrescentou.

A Liga saudita não tem o nível que o avançado tenta apregoar, mas a mudança permitiu-lhe recuperar o hábito de marcar golos, inclusivamente na Seleção, já que marcou 10 na fase de apuramento para o Europeu. Aos 39 anos será o primeiro jogador a marcar presença em seis edições do torneio. «Já aprendi que tudo pode acontecer. Estou a desfrutar do presente. Agora ambiciono ir ao Euro e o resto veremos. Quero aproveitar o momento», disse o avançado.

Para ter debaixo de olho

João Neves IMAGO

«A primeira vez que vi o João Neves foi com a equipa sub-19 e, imediatamente, vi o talento. Mas era imprevisível que o João pudesse estar na seleção A com o nível que está a ter no Benfica», disse Roberto Martínez em janeiro.

Nem o espanhol resistiu aos encantos do pequeno médio que joga com a camisola por dentro dos calções e conquistou os colegas da seleção com talento e humildade. «Nunca vi uma situação assim na minha carreira. Em dois dias ganhou o respeito do balneário», acrescentou o selecionador.

Espírito rebelde

João Cancelo IMAGO

João Cancelo não é um jogador com histórico de criar problemas com os colegas, mas é, provavelmente, o internacional português que tem o coração mais perto da boca. Entrou em litígio com Pep Guardiola no Manchester City, e por isso esteve emprestado ao Bayern e ao Barcelona nos últimos anos. É muito emocional, até por ter perdido a mãe muito jovem, e isso reflete-se também em campo, onde alterna uma capacidade ofensiva ímpar com erros infantis. «Houve momentos em que não estive no meu melhor a nível psicológico e isso afetou-me bastante em competições como no último Mundial», disse a A BOLA.

A espinha dorsal

Um dos guarda-redes mais promissores do futebol mundial, Diogo Costa dá todas as garantias na baliza, até na capacidade acima da média para jogar com os pés. Pepe é o líder da defesa portuguesa, mas já tem 41 anos, e os problemas físicos têm sido cada vez mais persistentes. Caso não esteja nas melhores condições, os experientes Rúben Dias e Danilo assumirão a herança, com a ajuda dos jovens Gonçalo Inácio e António Silva.

Bruno Fernandes e Bernardo Silva são os cérebros da equipa, ambos com residência em Manchester, e se o esquerdino do City é mais virtuoso, o capitão do United parece destinado a herdar também a braçadeira de Portugal.

No ataque a principal referência é Cristiano Ronaldo, claro, mas está em aberto o lugar de apoio a partir do flanco esquerdo

Onze provável

3x4x3: Diogo Costa; Danilo, Ruben Dias, Pepe/Inácio; Cancelo, Palhinha, Bruno, Dalot/Nuno Mendes; Bernardo, Ronaldo e Félix/Leão

Adepto famoso

Dolores Aveiro fez publicação nas redes sociais (Dolores Aveiro/Instagram)

Desde o Europeu de 2004, disputado em Portugal, que alguns membros da banda The Gift têm acompanhado as fases finais da seleção. Por vezes conciliam essa paixão com concertos nos países que acolhem os torneios, mas viajam mesmo que seja só para apoiar nas bancadas.

Carlos Brum não é uma celebridade do mundo do entretenimento, mas conquistou, com enorme dedicação, o estatuto de fã n.º 1 da equipa das quinas, já que nos últimos 22 anos só falhou um torneio: o Mundial do Brasil, em 2014. Sempre que possível viaja ao volante de uma carrinha.

A adepta portuguesa mais conhecida no estrangeiro é Dolores Aveiro, claro, a mãe de Cristiano Ronaldo, que não se inibe com a atenção mediática e vibra intensamente nos camarotes.

Petisco

Nos estádios portugueses também há hambúrgueres ou cachorros, mas não há nada com a rotina de comer uma bifana e beber uma cerveja antes e/ou depois do jogo, numa roulotte instalada nas imediações do recinto.