Dívidas de meio milhão e ameaçado por agiotas de se tornar pedreiro: a surreal história de Fagioli
Fagioli a jogar pela Fiorentina
Foto: IMAGO

Dívidas de meio milhão e ameaçado por agiotas de se tornar pedreiro: a surreal história de Fagioli

INTERNACIONAL14.04.202518:35

Médio italiano ficou com dívidas a dezenas de pessoas devido ao vício das apostas desportivas

Nicolò Fagioli, investigado pelo Ministério Público italiano por alegadamente liderar uma rede de apostas ilegais, revelou ter sido ameaçado com graves consequências caso não pagasse as suas dívidas. O médio da Fiorentina contraiu empréstimos que totalizaram 1,5 milhões de euros, com juros de 7%, e aliciava jogadores com relógios de luxo.

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O jornal italiano 'Corriere della Sera' noticia esta sexta-feira novos dados sobre o caso das apostas ilegais que tem assolado a Serie A italiana e que levou às suspensões e multas a Sandro Tonali e Nicolò Fagioli.

O jogador, que escapou a sete dos 12 meses de suspensão que lhe foram impostos após ser apanhado a apostar em jogos de futebol enquanto estava na Juventus, revelou, durante os interrogatórios, que lhe foi dito que, se não devolvesse o dinheiro, seria forçado a abandonar o futebol. Definitivamente!

«Vou fazer com que te reformes. Vou obrigar-te a trabalhar como pedreiro! Vou fazer-te assinar os "contratos" com a tua própria mão.» Assim soavam as ameaças dirigidas a Fagioli, publicadas pelo Corriere della Sera, e que alegadamente pertenceriam a Nelly, uma figura misteriosa que usava um cartão de telemóvel em nome de um cidadão suíço.

«Ele percebeu que se tinha metido numa grande alhada!»

«Parece que ninguém sabe o nome dele. Estas ameaças confirmam o que transparece das declarações anteriores de Nicolo e a coragem com que pediu empréstimos a amigos e colegas de equipa. Ele estava sob muita pressão. Tinha-se apercebido que se tinha metido num negócio demasiado perigoso e numa grande alhada», escreve o jornal.

«Achas que me podes enganar?», disse Nelly. Fagioli tentou então explicar, justificar-se e acalmá-lo: «Cometi um erro maior do que o meu salário anual... Pedi ajuda a colegas para te devolver o dinheiro.»

A dívida do jogador é estimada pelo Corriere della Sera em 1,5 milhões de euros. O suficiente para lhe destruir a vida e a carreira no futebol, para o atirar para um enorme buraco negro. Nas mensagens gravadas, Fagioli reagiu, por vezes, de forma agressiva (em abril de 2023): «Agora vamos ver quem é o pior? Vou dar cabo deles.»

Mas mais tarde, Fagioli mudou de tom e explicou ao seu amigo Marco (para os investigadores, o filho do ex-futebolista Bruno Giordano): «Com esta gente não se brinca, até o envolvimento de outros tipos é problemático.»

O médio italiano entrou em espiral, porque os valores a reembolsar eram cada vez maiores. Fagioli confessou ter recorrido às pessoas erradas, mas, em vez de se livrar das dívidas, apenas provocou o aumento dos valores: «Tinha de pagar mais 7% por mês. Isso significa 140 mil euros.»

Como funcionava o sistema de "empréstimos" idealizado por Fagioli

Mas como é que o internacional italiano chegou a dever um milhão e meio de euros? A partir de setembro de 2022, Fagioli propôs negócios fantasiosos. Atraía os "clientes" com relógios Rolex, que seriam comprados a baixo preço e revendidos rapidamente por um preço mais elevado.

O extrato das apostas de Fagioli na NBA, tendo perdido milhares de euros em algumas horas

«Por vezes, mencionava o nome de Álvaro Morata, o seu antigo colega de equipa na Juventus, explicando que era o espanhol que arranjava os relógios. Os cartões indicam pagamentos à joalharia Elysium em nome de Nicolò por 31 pessoas diferentes, confirmando que vários jogadores aceitaram o "negócio".

Alguns não receberam o dinheiro de volta a tempo, por isso pediram satisfações a Nicolò. E revoltaram-se, como demonstram as mensagens, os pedidos e as pressões cada vez mais fortes sobre ele. Fagioli prometia, desde então, que tentava livrar-se deste pesadelo: «Quero acabar com tudo isto. Para sempre. E poder andar na rua descansado, tornar-me um verdadeiro futebolista», pode ler-se nas transcrições publicadas hoje.

Muitos deixaram-se convencer quando ouviram falar de Morata

Fagioli emprestou um total de 587 mil euros a 31 pessoas, que aceitaram dar-lhe as quantias sem pedir explicações. «Por vezes, mencionava o nome de Morata. Apesar de ganhar 125 mil euros por mês, foi forçado a pedir dinheiro em todo o lado para se livrar das dívidas», escreve a Gazzetta dello Sport.

No entanto, teve problemas com um antigo colega da Cremonese, Caleb Okoli, que chegou à antecâmara da seleção nacional: «Vais pedir dinheiro a toda a gente e depois acabas a dever a todos. És um grande idiota!»

Os jornais italianos também revelaram que Fagioli usava várias estratégias para atrair as suas vítimas. Como enganou Nicolò Armini, antigo colega da seleção sub-21? «Um colega meu tem de receber 40 mil euros de prémio e quer comprar um Rolex. Como não lhe aceitam dinheiro, perguntou no balneário se alguém queria pagar-lhe o relógio, em troca de um bónus por este favor.»

A mesma proposta foi feita a Gabriele Boloca e a Cristian Volpatto: «Já o fiz com Turati e com Raffaele Russo. Ganharam muito dinheiro sem fazer nada, apenas se fez a transferência para o Rolex.»

Para impressionar os clientes, Fagioli teve o cuidado de exibir, por vezes, o nome de Morata. «Consigo Rolex a preços muito mais baixos através do Morata e depois ele vende-os para mim.»

Temos este negócio há um ano. Mas como já atingi um limite, já não consigo fazê-lo sozinho. Em dois ou três meses, recebemos o nosso dinheiro de volta. «Fagioli tinha uma relação próxima com Morata na Juventus, mas o avançado, agora no Galatasaray, não aparece entre os que apostavam ou jogavam.»

«O Nico fez algumas asneiras e agora quer redimir-se»

O maior problema para Fagioli era devolver os empréstimos. As mensagens encontradas pelos procuradores no seu telemóvel demonstram-no. Por exemplo, Alessandro Russo pede-lhe que pague: «Daqui a pouco tempo faz um ano». Okoli foi mais duro: «Estou à espera há meses, deixaste-me furioso. Vieste dizer-me que o teu pai precisava de dinheiro e eu dei-to na hora.»

A forma como geria a situação era sempre a mesma. Nicolò ganhava tempo, inventando todo o tipo de desculpas. «Juntamente com Marco Sartori de Piacenza, foi ao ponto de pedir a Tommaso De Giacomo (o principal suspeito) para intervir.»

E De Giacomo fê-lo, enviando a mensagem: «Olá Marco, sou amigo do Nicolò. A solução pode ser encontrada, mas temos de ser compreensivos. Porque o Nico fez algumas asneiras e quer redimir-se.» Por enquanto, não é claro nos documentos que chegaram às mãos dos investigadores quem recebeu o seu dinheiro de volta de Fagioli e quem não recebeu.